Vitorioso, Trump vai mirar em um futuro grandioso para os EUA em discurso de posse

Segundo o Wall Street Journal, que teve acesso a trechos do texto, discurso será batizado de 'revolução do bom senso'

Jill e Joe Biden e Donald e Melania Trump - Jim Watson/AFP

Quando Donald Trump mudou, de improviso, o discurso preparado para encerrar a Convenção Nacional Republicana, em julho do ano passado, originalmente um convite à união nacional, para apontar o que considerava serem os muitos erros do governo de Joe Biden, líderes de sua campanha quase perderam a paciência. Desejavam algo mais próximo da mensagem otimista, com tons messiânicos, de Ronald Reagan em 1979.

Seis meses depois, conseguirão o que queriam. Os trechos do discurso de posse já liberados ao Wall Street Journal revelam a intenção do novo presidente de projetar hoje um futuro grandioso para os Estados Unidos e os americanos.

“Volto à Presidência confiante e otimista que iniciaremos hoje uma nova era de êxito nacional. Uma maré de mudança está varrendo o país, e minha mensagem hoje aos americanos é a de que é hora de agirmos uma vez mais com a coragem, o vigor e a vitalidade que caracterizam a maior civilização da História", Trump deve dizer em instantes.

O tom ufanista enfatiza a crença dos republicanos — e da ampla coalizão que derrotou os democratas em novembro — no início, hoje, de uma nova revolução conservadora no país, em outro paralelo, imperfeito, com a ascensão do reaganismo há quatro décadas.

O novo presidente a batizará no discurso de “revolução do bom senso”, modo nada sutil de empurrar para longe do centro político do país as medidas progressistas de seu antecessor, defendidas na disputa do ano passado pela vice Kamala Harris, a quem Trump derrotou no Colégio Eleitoral e no voto popular. Seu impressionante retorno à Casa Branca, quatro anos após perder a reeleição para Joe Biden, acontece na mais perfeita tranquilidade, distante do caos de quatro anos atrás, quando “bom senso” foi justamente um dos artigos mais escassos em sua caótica despedida do poder.

Há muitas contradições no dia que começa em Washington, e uma delas deverá ser sublinhada no anúncio por Trump do perdão a centenas de cidadãos acusados de vandalizar o Capitólio em janeiro de 2021, cenário de sua segunda coroação. Quem perdoa é o líder agora seguro de que seus atos no comando do país são imunes a processos criminais, após decisão da Suprema Corte em um dos momentos cruciais da corrida eleitoral de 2024 nos EUA.

Mais poderoso, e com controle total do Partido Republicano, que, por sua vez, tem maioria no Senado e na Câmara, Donald Trump tem nas mãos, ao contrário de 2017, a possibilidade real de alterar sensivelmente os rumos dos EUA e, por consequência, do planeta. O maior porém à implantação total da agenda do indivíduo mais velho a assumir o governo americano é a proibição constitucional de se reeleger.

Na prática, começa hoje a eleição de 2028. E um sinal de que o novo governo já se prepara para a batalha da sucessão de Trump e a primeira disputa em 12 anos sem o nova-iorquino como um dos protagonistas, é a informação, de dentro do futuro governo, de que o presidente eleito deverá viajar pelo país nos próximos meses para defender as principais medidas por ele anunciadas hoje, entre elas a deportação em massa de imigrantes sem documentação legal no país.

Escolhido pela maioria dos americanos com a promessa de realizar um governo de combate à burocracia de Washington, e ladeado hoje por alguns dos homens mais ricos do planeta, notadamente os gigantes da big tech, como Elon Musk, Donald Trump busca se reapresentar hoje aos americanos com um discurso que mira o futuro.

Mas que também sublinhará a crença de seus mais de 77 milhões de eleitores no empresário e entertainment transformado em líder de massas. O de ele ser, um mandato, uma insurreição contra a democracia americana, pelo menos duas tentativas de assassinato, e dezenas de batalhas na Justiça no meio, o mesmo “cidadão comum” que anunciou em 2015 sua à época quixotesca candidatura à Presidência dos EUA.