OPINIÃO

Apesar de tudo, tem um Brasil dando certo

Sei que é desanimador assistir a arbitrariedade desfilar país afora, invertendo a lógica de que a lei é igual para todos e o poder estatal somente se pode exercer como instrumento necessário ao cumprimento de deveres e não como atributo pessoal.

Sei que é difícil ver que a natureza das coisas e das pessoas está sendo relativizada a ponto de não se poder dizer o óbvio, mesmo para preservar a inocência das crianças ou a integridade das mulheres, sob pena de ser acusado de preconceituoso ou de coisa pior.

Sei que é desestimulante estudar, investir e empreender quando o que se tem é um ambiente de insegurança jurídica, onde mérito, propriedade e livre iniciativa são relativizados, sob forma de cotas, “função social”, controle estatal e coisas afins.

Sei que o medo de andar nas ruas, de sair para trabalhar, de ver filhos expostos à violência, ao apelo das drogas e do álcool e à cultura woke é devastador.

Sei que é revoltante pagar tributos abusivos e ser sufocado por uma infinidade de regras burocráticas estabelecidas por governos e outras esferas de poder que exigem muito, a tudo querem controlar e entregam quase nada.

Sei que causa mal-estar viver em um conjunto social onde alguns ignoram completamente as regras mais básicas de convívio social e não respeitam o espaço, a segurança e a tranquilidade dos outros, seja no trânsito, na fila do restaurante ou na afronta generalizada à lei do silêncio, que desrespeita o descanso alheio.

Sei que os exemplos acima, e uma série de outros tantos absurdos, fazem o horizonte do Brasil e de nossa sociedade muito sombrio, mas, apesar de tudo, há uma enorme quantidade de gente tentando promover o bem, defendendo o respeito a todos, gerando riqueza e andando no caminho da virtude.

Há muitas pessoas vivendo com civilidade, defendendo e fazendo o certo, dando a mão aos mais necessitados, tratando os semelhantes com dignidade, trabalhando honestamente, criando e tocando empresas, gerando emprego, distribuindo renda e cuidando da própria vida e daqueles que os cercam.

Tem muito jovem longe do mal caminho e dos falsos ídolos, voltado para a fé, para o justo e para família, buscando informação isenta, estudando para ser bom profissional e apostando em si mesmo e nos projetos em que se envolve.

O que percebo é que há uma espécie de luta silenciosa acontecendo. As boas pessoas estão cansadas de esperar por ações que venham de cima, pois é cada vez mais insuportável testemunhar a malandragem, a ilegalidade mascarada, o compadrio e os esquemas. É desconfortável e doloroso ver, ser explorado e viver cercado de caos e de iniquidade.

Muitos estão fazendo, sem alarde, aquilo que lhes é possível, nas redes sociais, no trabalho, no clube, na igreja, no prédio onde moram, nas comunidades, nas praias, no campo, nas academias, na conversa com os amigos e em família, e, com isso, formando opiniões, alertando uns aos outros, gerando boas influências, dando exemplos inspiradores, criando, enfim, círculos virtuosos que, mais cedo ou mais tarde, darão frutos e deixarão  sem  espaço  os  que  atrasam  o  país  e convulsionam a sociedade.

Por piores que sejam as nossas autoridades, cada um de nós é um "país" capaz de muitas obras.

Ser solidário, gentil, honesto, respeitoso, caridoso e generoso é uma decisão pessoal que não depende da autorização de nenhum político ou juiz.

Há esperança e ela está mais viva do que nunca, pois é dentro de nós e no próprio entorno que se faz o mundo melhor.

Feliz 2025 a todos.


* Sócio do GCTMA Advogados, procurador aposentado do Estado de Pernambuco, conselheiro de administração/IBGC.

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