OPINIÃO

As escavações arqueológicas que fazem de Sacara um dos sítios mais antigos do mundo

A arte egípcia presenteia aos herdeiros da cultura mediterrânea o privilégio de ser uma das primeiras manifestações do homem. Entre a primeira e segunda dinastias do Antigo Egito, surgiram as primeiras grandes esculturas por necessidade do culto nas necrópoles – o lugar de repouso da alma e centro da liturgia nos túmulos individuais. 

Estas esculturas das primeiras dinastias apresentam uma evolução admirável na sua aparência real, apesar da robustez arcaica e por certa rigidez nos gestos, mesmo nos primórdios da arte do Egito.

Com o largo uso da pedra na construção de necrópoles, os arquitetos egípcios conceberam uma arquitetura gigantesca, uma luxúria para a época nas câmaras funerárias, a exemplo do templo de Hieracômpole, em Abidos. 

Mas, foi na terceira dinastia que o arquiteto de Djoser teve a brilhante ideia de elevar sobre o túmulo de seu senhor uma cidade funerária: um túmulo, o templo e a muralha, admiravelmente superpostos inteiramente de pedra. 

Indubitavelmente, os edifícios escavados em volta da pirâmide de degraus de Sacara são cenários teatrais em meio à imensidão do deserto, cujas portas que se abrem conduzem aos numerosos e escuros labirintos da edificação. Sacara é um dos lugares mais antigos do mundo e um sítio arqueológico do Antigo Egito, dos mais relevantes de toda a sua história, onde são encontradas as necrópoles mais antigas de todo o Egito.

Recentes notícias científicas nos trazem revelações, através do egiptólogo Philippe Collombert, de uma descoberta por uma equipe de arqueólogos do Egito, de um túmulo de 4 mil anos, em Sacara, que pertenceu a um médico, e que, provavelmente, conforme as pesquisas, era também especialista em venenos e poderia ter sido o médico do palácio real, chamado Tet Neb Fu, que viveu no Antigo Egito – segundo a CNN – e era sacerdote da deusa Sélquis. 

Uma segunda tumba de 3.400 anos, que pertencia a um sacerdote chamado Ne Hesut Ba, era sacerdote da deusa Maat. Entusiasmado com as descobertas, o Ministro Egípcio do Turismo e Antiguidades, senhor Ahmed Issa, revelou: “garanto que o Egito, especialmente Sacara, ainda não revelou todos os seus segredos e há muito mais por vir”.  

Com o desenvolvimento da arte egípcia, coube ao arquiteto Imotep, o verdadeiro uso da pedra na arquitetura, criando passagens e acessos entre colunas, atravessando vestíbulos, criando espaços quase inimagináveis para aquela época. Em Sacara, os seus edifícios em calcário, trazem o prefácio de toda a obra arquitetural do Egito Antigo. 

Situadas no vale, as necrópoles que se espalham no deserto de Abu Roache, ofereceram e ainda oferecem as  ruínas das sepulturas reais da época menfita, as fascinantes pirâmides. Monumentos reais, eram câmaras sepulcrais compostas de labirintos, corredores, espaços internos e capela. 

A mais alta, a de Quéops, que elevava o seu cume a 146 metros acima do deserto circundante, repousa próximo a do rei Quéfren e a de Miquerinos, formando um grandioso conjunto arquitetural, edifícios sagrados e colossais, ainda hoje admirados por toda a humanidade.


* Arquiteto, membro do CEHM e do Instituto Arqueológico Histórico e Geográfico pernambucano. Professor titular da UFPE.

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