SAÚDE

Medicamentos como Ozempic e Mounjaro são promissores não só para tratar obesidade; entenda

Estudos mostram que pacientes com GLP-1 apresentam melhores resultados contra diversas patologias, como Alzheimer, doenças cardiovasculares e dependência de álcool

Medicamento Ozempic - Joel Saget/Getty Images/AFP

Tendo se mostrado eficazes contra a obesidade, os medicamentos GLP-1 têm outras surpresas reservadas para os usuários? Estudos recentes mostram avanços promissores contra uma ampla gama de doenças, da síndrome de Alzheimer às patologias cardiovasculares, mas especialistas alertam que elas não devem ser vistas como moléculas milagrosas. Eles são conhecidos pelos nomes Ozempic, Wegovy, Mounjaro e surgiram há cerca de uma década, primeiro como remédios contra diabetes e, mais recentemente, para promover a perda de peso em pessoas obesas.

Eles são chamados de "GLP-1" porque imitam a ação desse hormônio, envolvido tanto na secreção de insulina quanto na sensação de saciedade, por meio de mecanismos cerebrais. Eles são amplamente considerados um dos grandes avanços médicos dos últimos anos, com grandes mercados para seus produtores, principalmente os laboratórios Novo Nordisk e Eli Lilly, que vendem Ozempic/Wegovy e Mounjaro, respectivamente.

 

No entanto, esses medicamentos podem ter outros efeitos terapêuticos. Vários estudos mostram que pacientes com GLP-1 apresentam melhores resultados contra uma gama muito ampla de patologias: demências, como Alzheimer, doenças cardiovasculares, dependência de álcool.

Publicado segunda-feira na revista Nature Medicine, um estudo abrangente segue essa linha e fornece uma ideia mais precisa da promessa desses tratamentos. O estudo foi conduzido nos Estados Unidos, usando dados de saúde de centenas de milhares de veteranos de guerra. Os pesquisadores compararam dois grupos de diabéticos: um tomando tratamentos convencionais e o outro tomando medicamentos GLP-1.

Estes últimos apresentam "menor risco de uso de drogas, transtornos mentais ou convulsivos, transtornos neurocognitivos, incluindo Alzheimer e outras demências, distúrbios de coagulação e problemas cardiometabólicos, doenças infecciosas e diversas patologias respiratórias", resume o estudo.

Uma ampla gama
Como explicar uma gama tão ampla? "Existem dois tipos possíveis de mecanismos", disse o autor principal, Ziyad Al Aly, epidemiologista, em uma entrevista coletiva. A primeira é indireta. Como a obesidade está associada a múltiplas patologias, os tratamentos com GLP-1 reduzem estas últimas atuando na perda de peso.

Mas, diz o pesquisador, esses medicamentos podem atuar diretamente em outros casos. "A biologia é complexa e os receptores GLP-1 não controlam um único mecanismo no corpo", enfatiza Aly.

Este estudo marca um grande passo à frente porque, até agora, o trabalho sobre a promessa do GLP-1 estava disperso, patologia por patologia. Ninguém ainda havia dado uma visão tão completa. Ele também responde parcialmente a perguntas sobre os riscos associados a esses medicamentos. Pacientes com GLP-1 frequentemente apresentam problemas digestivos. No entanto, eles não parecem ter mais pensamentos suicidas, como havia sido sugerido em trabalhos anteriores.

As nuances
No entanto, é muito cedo para imaginar que esses medicamentos se tornarão ferramentas multifacetadas, capazes de tratar inúmeras doenças. Primeiro, o estudo da Nature Medicine faz apenas observações retrospectivas. Não permite concluir uma relação causal entre esses medicamentos e as doenças listadas.

Serão necessários ensaios clínicos formais para confirmar isso, o que leva anos. E nem todas as patologias são encontradas nas mesmas condições. Alguns estudos já mostraram bons resultados para distúrbios cardiovasculares. Outros estão a caminho do Alzheimer.

Mas em outros campos, como a dependência de álcool, muito pouco foi estudado até agora. Além disso, o estudo da Nature Medicine se concentra em pacientes com um perfil muito particular, geralmente homens bem mais velhos. E logicamente, todos eram diabéticos. É impossível, no estado atual, generalizar suas conclusões.

Por fim, os efeitos costumam ser leves. Para a demência, por exemplo, observa-se um risco reduzido de pouco mais de um décimo.

"É um trabalho importante (mas) é exploratório" e só pode servir de base para pesquisas futuras, resume Dipender Gill, farmacologista que não esteve envolvido no estudo, mas trabalhou durante anos para a Novo Nordisk.

O especialista também faz um alerta: nenhum paciente deve tentar tomar medicamentos GLP-1 baseado apenas nas promessas deste estudo.