"Não queremos ser americanos", diz premier da Groenlândia após Trump reforçar interesse na ilha
Trump disse a repórteres, posteriormente à posse, que os EUA precisam da região 'por motivos de segurança internacional'
O primeiro-ministro da Groenlândia, Mute Egede, disse, nesta terça-feira (21), que o território autônomo da Dinamarca quer traçar seu próprio futuro e não se tornar um território americano.
Apesar de ter suavizado seu discurso sobre a ilha durante sua posse na véspera, o presidente Donald Trump disse que eventualmente "acompanharia" os planos dinamarqueses. O republicano não esconde o seu interesse em tomar o território, sem descartar inclusive uma ação militar para alcançar esse objetivo.
— Nós somos groenlandeses. Não queremos ser americanos. Também não queremos ser dinamarqueses. O futuro da Groenlândia será decidido pela Groenlândia — enfatizou o premier durante uma entrevista coletiva, observando que a ilha enfrentava uma "situação difícil".
Também nesta terça, o ministro das Relações Exteriores da Dinamarca, Lars Lokke Rasmussen, disse que nenhum país deveria ser capaz de simplesmente se apropriar de outro.
— Não é possível que certos países, se forem grandes o suficiente e não importa como se chamem, possam simplesmente tomar o que quiserem — disse Lokke aos repórteres.
Embora Trump não tenha mencionado a Groenlândia em seu discurso de posse na segunda-feira, ele foi questionado sobre isso por repórteres no Salão Oval mais tarde. Em resposta, descreveu a ilha como "um lugar maravilhoso" e que "precisamos dela por motivos de segurança internacional".
— Tenho certeza de que a Dinamarca concordaria. Está custando muito dinheiro a eles para mantê-la [a Groenlândia] — acrescentou, fazendo referência ao fato de que, apesar da Groenlândia ser um território autônomo, mais da metade do seu orçamento vem da Dinamarca.
O interesse de Trump pela ilha, extremamente valiosa por suas reservas de minerais e petrolíferas, e por sua localização estratégica, não nasceu ontem. Já em 2019, durante seu primeiro mandato, o republicano cancelou uma viagem a Copenhague após a Dinamarca se recusar a vender a Groenlândia.
O interesse arrefeceu sob o governo de Joe Biden, que afirmou que os EUA não tinham interesse no local, mas sim em fortalecer laços. Mas Biden não conseguiu emplacar sua sucessora e ex-vice-presidente, Kamala Harris, e dias antes de tomar posse, o então presidente eleito Trump abordou seu desejo de assumir o controle da ilha, citando "motivos de segurança econômica".
Os EUA têm uma base militar na Groenlândia, fruto de um acordo dos anos 1950, que opera como um centro de alerta antecipado para o sistema de defesa antimísseis americano. Os interesses russos e chineses nos recursos naturais do território também afloraram sua retórica expansionista.
Recentemente, o indicado por Trump para seu conselheiro de segurança nacional, Mike Waltz, disse que os países vinham cercando o ártico com "navios quebra-gelo", embarcações capazes de navegar por superfícies congeladas, usadas para acessar reservas de petróleo, gás e minerais estratégicos para a produção de celulares, baterias e outros itens da indústria de tecnologia.
O filho mais velho de Trump, Donald Trump Jr., viajou no início deste mês à ilha, mas o governo groenlandês destacou que a visita não era oficial. Ainda em dezembro, Trump fez várias publicações nas sua rede social Truth Social afirmando que a Groenlândia é "um lugar incrível" e que "as pessoas irão se beneficiar tremendamente se – e quando – [o território] se tornar parte da nossa nação".
Como resposta às declarações, o governo dinamarquês anunciou um aumento significativo nos gastos com defesa na Groenlândia.
A retórica expansionista não é restrita à ilha. Durante seu discurso de posse, Trump reiterou suas intenções de recuperar o controle do Canal do Panamá, por onde hoje passam cerca de 14 mil navios anualmente, alegando que o controle da hidrovia estava sob a China e não o Panamá. Ele também não descartou, em discurso anterior, o uso de força militar para atingir esse objetivo.
Os EUA receberam o controle da área em 1903, mas em 1977 o então presidente, Jimmy Carter, firmou um acordo com o ditador panamenho Omar Torrijos, devolvendo o controle do canal ao país, mas mantendo o direito de atuar para defender sua neutralidade.
Trump também assinou um decreto que permite a mudança de nome do Golfo do México para "Golfo da América", em referência aos EUA e não ao continente. Além de seu valor ecológico, o Golfo do México é um dos principais locais para a produção de petróleo, ou o "ouro líquido", como descreveu o republicano durante sua posse.
Sob o lema "Drill, baby, drill" (perfure, querido, perfure, em tradução livre), o magnata promete aumentar os investimentos na produção de petróleo para reduzir o custo da energia no país.