ERRO

Trump sugere que Espanha faz parte do Brics e questiona papel do Brasil em plano de paz para Ucrânia

Após discurso de posse 'suavizado' e mais focado na 'união', segundo o próprio magnata, ele não se furtou de fazer declarações polêmicas já no primeiro dia de governo

O presidente dos EUA, Donald Trump - Greg Nash/POOL/AFP

Se alguém esperava que Donald Trump fosse mudar seu estilo de governo — e discurso — em um segundo mandato à frente da Casa Branca, quatro anos após perder a reeleição para Joe Biden, essa esperança caiu por terra na segunda-feira.

Após um discurso de posse "suavizado" e mais focado na "união", segundo o próprio magnata, ele não se furtou de fazer declarações polêmicas nos dois discursos que fez em seguida — no saguão do Capitólio e na Arena Capital One — e também na entrevista coletiva concedida no Salão Oval da Casa Branca, onde assinou uma série de decretos.

Questionado sobre os investimentos militares dos países da Otan, Trump criticou a Espanha por aplicar menos de 2% do seu PIB em defesa e sugeriu que o país europeu não era capaz de cumprir as metas da aliança transatlântica porque, segundo ele, faz parte do BRICS, o bloco econômico formado por 10 países emergentes, incluindo Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.

— A Espanha gasta muito pouco — respondeu Trump, referindo-se aos gastos com defesa de Madri. — Eles são uma nação BRICS, a Espanha. Você sabe o que é uma nação BRICS? Você vai descobrir.

A Espanha não faz parte do Brics, assim como nenhum país europeu. Ela é membro da Organização do Tratato do Atlântico Norte, a aliança de defesa mútua liderada pelos Estados Unidos, e da União Europeia.

Não é a primeira vez que Trump insiste que os países da Otan devem gastar mais com defesa, a fim de reduzir a desvantagem comparativa com os Estados Unidos. No início deste mês, ele chegou a sugerir que os membros da organização deveriam investir 5% do PIB em questões militares, mais do que o dobro dos 2% atualmente estipulados.

A ministra da Educação espanhola Pilar Alegría, que atua como porta-voz do governo, comentou que não tinha certeza do motivo pelo qual Trump fez o comentário.

— Não sei se a afirmação feita pelo presidente Trump foi resultado de uma confusão ou não, mas posso confirmar que a Espanha não está no Brics — disse Alegría aos repórteres nesta terça-feira, acrescentando que a Espanha tem sido um membro comprometido da Otan nas últimas quatro décadas e que o governo espanhol considera os EUA "um aliado natural".

Historicamente, os EUA têm sido responsáveis por mais de 60% do orçamento da Otan e, durante décadas, poucos países cumpriram a meta de 2% — em 2014, eram apenas três; isso mudou em 2024, quando, após dois anos de guerra na Ucrânia, 23 membros alcançaram esse valor. A Espanha continua sendo um dos poucos que não cumpre essa meta e ficou em último lugar no ranking da aliança no ano passado, com um aporte equivalente a apenas 1,28% do PIB.

Os defensores da aliança transatlântica reconhecem que a Europa se beneficiou de anos de baixos gastos com defesa — direcionados para o bem-estar social em muitos países. Mas argumentam que os EUA também ganharam com o compartilhamento de seu fardo militar e com a redução do custo de vigilância decorrente do mais longo período de paz da História da Europa, além de terem se firmado como a única potência influente no continente.

Na noite de segunda-feira, o presidente americano também disse não estar a par de uma proposta conjunta entre Brasil e China para promover o diálogo entre a Ucrânia e a Rússia, e questionou o papel do governo brasileiro na negociação de paz.

— Isso é bom, estou pronto — disse Trump ao ouvir da jornalista brasileira Raquel Krähenbühl sobre a proposta sino-brasileira.

Mas em seguida, quando é questionado sobre quando irá conversar com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ele questiona:

— Como o Brasil foi envolvido nisso? — perguntou Trump. — Isso é novidade [para mim].

Sobre a relação dos Estados Unidos com a América Latina e o Brasil, Trump reafirmou esperar que seja "ótima", mas deixou claro sua posição de superioridade:

— Eles precisam de nós muito mais do que precisamos deles. Não precisamos deles, eles precisam de nós. Todos precisam de nós.