Graduação é pouco. Experiência também
No ambiente organizacional, sobretudo nos dias atuais, apenas “experiência” não é suficiente para diferenciar um executivo, ou torná-lo mais apto à uma contratação. E nem deveria ser.
É um assunto comum em rodas de amigos sêniors, que consideram injusto não valorizarem suas experiências adquiridas. Que experiências? Esse é um tema vago e genérico. Referem-se a “capacidade de liderança”? “equilíbrio e ponderação”? Direto ao ponto: isso é muito pouco.
Abandonando as superficialidades, a questão objetiva é como essas virtudes podem se tornar valiosas, serem diferenciais. Possuir conhecimentos e ferramentas de gestão atuais, conhecer essas potencialidades, oferecem aderência ao profissional no mercado, aí sim, suas “experiências” começarão fazer sentido. Planilhas avançadas, digitalização de processos, intervenções com IA, governança de dados, integração de sistemas, aliados a conhecimentos consistentes em planejamento estratégico, BI, contabilidade, administração financeira, poderão, objetivamente, agregar diferenciais à experiência de um postulante sênior. Experiências são complementares, não são decisivas.
Os profissionais sêniors brasileiros trazem um ponto negativo, comum entre nós brasileiros, que é o pouco hábito da leitura. Por consequência essa falta de costume inibe ainda mais a atualização de conhecimentos. Difícil, portanto, acumularem melhores aptidões para se recolocarem no mercado. A questão, antes de ser “idade”, é de preparo e conhecimento.
A necessidade de se reciclar, de entender novas ferramentas gerenciais, de se atualizar, enfim, é primordial. O mercado de trabalho é extremamente seletivo. No entanto, não faltam colocações e oportunidades para pessoas qualificadas, para profissionais que agregam valor aos processos e às dinâmicas organizacionais.
Por outro lado, inúmeras faculdades abertas nos últimos anos facilitaram o acesso de muitos à formação universitária, ao mesmo tempo que criou um universo de graduados com pouca densidade em suas formações, infelizmente uma constatação evidente.
Esse excesso de faculdades, a concorrência entre elas, mensalidades reduzidas, facilidade de acesso ao ensino superior sem maiores contrapartidas de preparo dos alunos que chegam do ensino médio. Graduam, mas não preparam.
Temos um contingente enorme de graduados-desempregados na economia brasileira. Jovens apenas graduados têm a ilusão de mais possibilidades de colocação. A busca permanente por atualizações de conhecimentos às demandas de mercado, é, portanto, questão de sobrevivência profissional. Mais leitura, por consequência, é fundamental.
Um agravante do ambiente brasileiro é que em eventual momento promissor de expansão econômica, onde os braços tecnológicos são mais necessários, faltarão, por exemplo, profissionais dessas áreas. As engenharias e afins formam poucos profissionais.
Direito e administração, formam legiões. Mais burocráticos desempregados e poucos técnicos para alavancagem econômica. Há um desequilíbrio nesse aspecto. Temos um modelo sem sintonia com as reais necessidades de desenvolvimento do País, que, aliado à pouca cultura de leitura, da valorização científica, retrata o abismo que existe entre nós e a Europa, a América do Norte e os asiáticos.
Regionalizando esse cenário para o nordeste brasileiro, temos algo que reflete situação ainda mais pessimista. Os melhores alunos recém- formados buscam cada vez mais a segurança dos serviços públicos.
Lamentavelmente essas vagas estão concentradas no poder judiciário, em carreiras importantes, mas de caráter burocrático, direcionando as escolhas dos bons estudantes para essas profissões. Poucas oportunidades, pouco incentivo, portanto, para as carreiras da ciência e da tecnologia.
Tal situação agrava ainda mais o distanciamento entre nós e o sul/sudeste do Brasil, onde nossa representatividade econômica é baixíssima. Para se ter uma ideia, dados recentes do PIB traduzem essa questão, onde os nove estados nordestinos produzem (13,8%) menos da metade do PIB do estado de São Paulo (31,1%). Pernambuco com apenas 2,4% do PIB nacional ostenta uma fraca 11ª colocação, segundo do Nordeste e atrás do estado da Bahia (4%). Fonte ISTOÉ Dinheiro.
Um cenário que tende a nos distanciar do desenvolvimento, e pouca geração de poupança interna, consequentemente baixa capacidade de investimento interno. Difíceis realidades brasileira e nordestina. Não estamos construindo bases sólidas para um desenvolvimento econômico sustentável, no curto e médio prazos.
* Consultor EXC Group.
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