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Dados de satélites podem ajudar a evitar futuros incêndios florestais

À medida que os incêndios se espalham por áreas habitadas por humanos, essa resolução pode ser crucial

Amazônia tem diversidade empobrecida por incêndios florestais - Jader Souza/AL Roraima

Cientistas e engenheiros esperam que o crescente número de dados de satélites ajude a combater incêndios devastadores, como o que atingiu Los Angeles.

Empresas do setor multiplicam os lançamentos de satélites graças aos custos mais baixos. Simultaneamente, a inteligência artificial (IA) tem um papel decisivo na filtragem e avaliação do intenso fluxo de informações.

Os satélites "podem detectar do espaço áreas secas propensas a incêndios, bem como emissões de fumaça e rastros de emissões de gases. Podemos aprender com todos estes tipos de elementos", afirmou Clement Albergel, chefe de informações climáticas da Agência Espacial Europeia (ESA, na sigla em inglês).

Os satélites possuem funções diferentes, dependendo de sua órbita e dos sensores com os quais estão equipados.

A órbita terrestre baixa geralmente fica a menos de 1.000 quilômetros acima da superfície, em comparação com até 14 km para uma aeronave comercial. Nesta altitude, os satélites fornecem imagens de alta resolução do solo, mas observam um determinado ponto apenas brevemente, à medida que varrem a superfície do planeta.

Os satélites geoestacionários orbitam a uma altitude de cerca de 36.000 km e são capazes de permanecer sobre a mesma área da superfície terrestre, permitindo a observação contínua, mas geralmente com uma resolução muito menor.

À medida que os incêndios se espalham por áreas habitadas por humanos, essa resolução pode ser crucial.

A cidade de Los Angeles pode ser monitorada por satélites, mas "é muito difícil determinar" o que está acontecendo.

"Algumas pessoas ficam porque não entendem realmente, então é daí que vem a ideia de que precisamos de mais observações disponíveis", explica Natasha Stavros, da WKID Solutions, especialista em incêndios que também trabalhou na Nasa.

Mais incêndios "do que sabemos"
Brian Collins, diretor da Earth Fire Alliance (EFA), organização sem fins lucrativos sediada no Colorado, planeja uma nova "constelação" de satélites de baixa órbita para complementar os recursos existentes.

Isto significa que "aprenderemos muito rapidamente que há mais fogo na Terra do que sabemos hoje, poderemos encontrar incêndios muito pequenos", previu Collins.

A EFA planeja lançar quatro satélites até o final de 2026, o primeiro em apenas algumas semanas, a um custo total de US$ 53 milhões (R$ 321 milhões na cotação atual).

Este valor é uma "gota no oceano" se comparado aos danos às propriedade e às vidas perdidas com os chamas, explica Genevieve Biggs, da Fundação Gordon e Betty Moore, que apoiou financeiramente o projeto da organização.

Seria necessária toda a rede de 55 satélites planejada no projeto, a um custo total de US$ 400 milhões (R$ 2,4 bilhões), para atingir a meta de Collins de fotografar cada ponto da Terra pelo menos uma vez a cada 20 minutos.

Dezenas de satélites em órbita poderiam "detectar e rastrear incêndios (...) em uma cadência que permitiria a tomada de decisões em solo", afirmou o diretor.

Outro projeto menos dispendioso é o da OroraTech, sediada na Alemanha, que lançou o primeiro de pelo menos 14 "nanosatélites" FOREST-3 do tamanho de uma caixa de sapatos, um sistema que "fornecerá alertas de incêndio ultrarrápidos e dados térmicos de alta qualidade", afirmou o CEO da empresa, Martin Langer, em comunicado.

A Fundação Moore também apoia um projeto de satélite geoestacionário chamado FUEGO.

Excesso de informação
Receber informações de todos estes novos satélites seria "fantástico" para combater o principal perigo para as florestas, disse Albergel.

Mas o grande volume de dados pode ser problemático. Somente o Sentinel-2 da ESA envia um terabyte de dados todos os dias, a capacidade de armazenamento de um laptop moderno de última geração.

Encontrar sinais de incêndios nesta montanha de dados "é um excelente problema de aprendizado automática e inteligência artificial... como procurar uma agulha em um palheiro", diz Collins.

Os dados poderiam, eventualmente, ajudar a prever novos focos de incêndio e sua progressão, acrescentou ele.

Para Stavros, não há solução tecnológica milagrosa para as chamas. "É o trabalho coletivo" que ajudará as equipes de emergência e reduzirá o risco de incêndios, diz ele.

Além da detecção e do monitoramento por meio da tecnologia, o programa de incêndios da Fundação Moore também se concentra em tornar as comunidades mais resistentes e gerenciar ecossistemas propensos a incêndios, o que pode incluir "aumentar os incêndios ecologicamente benéficos e diminuir os incêndios prejudiciais", explica Biggs.