Cana-de-açúcar no "Estado de Mudança"
Da longa dedicação e vivência no Setor da Agroindústria canavieira, colecionando bons e maus momentos, permito-me a ousadia de fazer apelo à nossa governadora, Raquel Lyra, gestora do nosso “Estado de Mudança”, no sentido de inaugurar um novo tempo para o multissecular Setor, como carro-chefe de nosso esforço desenvolvimentista, lembrando que já fizemos muito no plano econômico, político e principalmente social, para o nosso povo, restando ainda muito por fazer, adequando nossas virtudes e tentando mitigar nossos problemas a luz de um novo tempo, para continuar contribuindo fortemente na geração de emprego e renda em Pernambuco.
A despeito do nosso reconhecimento aos recentes gestos do Poder Público a nível estadual e federal, permanece o sentimento de que a relação custo benefício pode ser melhorada, de sorte que a contribuição do Setor à sociedade possa ser não apenas potencializada, mas principalmente protegida a exemplo do momento crítico que atravessamos mais uma vez, atingidos pela instabilidade climática comprometendo a base agrícola do processo produtivo, que pode e deve ser blindada aos recorrentes e cada vez mais frequentes episódios de seca na região da Mata Litorânea onde se localiza a atividade há mais de quinhentos anos.
É sempre bom lembrar, com orgulho pela longevidade, mas também como uma reflexão histórica, que a cana-de-açúcar chegou aqui nos primeiros anos do século XVI e aqui permaneceu de forma ininterrupta até hoje, não como um fenômeno masoquista, mas sim por se tratar de uma retumbante alternativa para a geração de emprego e renda, na Região mais carente do Brasil.
Tendo experimentado de tudo da Colônia à República, intempéries climáticas, guerras, desarranjos administrativo e institucionais e sobrevivido a todas as mazelas, sua referência foi tão forte, que em 1895 por iniciativa do governador Barbosa Lima, a cana virou símbolo de Pernambuco ao lado do algodão no brasão do Estado.
Vivenciamos hoje um importante processo de transição no contexto da agroindústria canavieira, a cana exercendo destacado papel no campo da energia alternativa, que se coaduna com o oportuno slogan do “Estado de Mudança”, mudança pra melhor, ampliando o alcance socioeconômico da veterana cana-de-açúcar, nossa mais velha e leal companheira, que desembarcou em 1517 nos arredores de Igarassu vinda da Ilha da Madeira, e aqui continua, a despeito dos dissabores que sofreu e também que causou, para ser sincero com o reconhecimento dos momentos de triste memória, que já exorcizamos de nossas lembranças desde o século XIX como lição da triste e medonha escravidão, para sepultá-la apagando qualquer vestígio que porventura ainda remanesça, como resíduo visível ou invisível daquela triste passagem, substituída pela sua condição de grande empregadora formal de homens livres, devidamente portadores de carteira assinada como determina a legislação trabalhista em vigor.
Isto posto, voltamos ao Governo Estadual para sugerir encontro de caráter emergencial e estratégico com as lideranças do setor, Usinas, Fornecedores de Cana e trabalhadores em relação ao futuro da atividade canavieira em Pernambuco, no particular e no Nordeste de forma geral, para solicitar providências no âmbito estadual e federal, no sentido da adoção de soluções técnicas já identificadas para mitigação dos efeitos da seca, que mais uma vez atinge a Zona da Mata com graves consequências sócio econômicas, que afetam direta e indiretamente imenso contingente populacional dela dependente em vários municípios atingidos.
Por tudo isso é importante, justo e urgente, a inclusão da agroindústria canavieira, nosso mais destacado ativo como protagonista do “Pernambuco, Estado de Mudança”.
* Consultor empresarial (mgmaranhao@gmail.com).
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