Falso Brad Pitt: após mulher perder R$ 5 milhões, agência apura se IA "atualizou" golpe antigo
Golpistas fizeram Anne, de 53 anos, acreditar que vivia affair com o astro de Hollywood e, para isso, usaram fotos manipuladas digitalmente
A equipe jurídica da mulher francesa que foi vítima de golpistas que se passaram pelo ator americano Brad Pitt está direcionando sua investigação para a Nigéria, um país da África Ocidental de onde historicamente são aplicados golpes na internet.
O país mais populoso da África tem sido citado há anos pelas práticas de fraudadores cibernéticos, principalmente em relação a golpes românticos. Um dos mais citados é o golpe do "príncipe nigeriano", em que um suposto herdeiro entra em contato e pede ajuda para recuperar sua fortuna "travada" no país da vítima. Os golpistas são conhecidos na gíria local como Yahoo Boys.
A influência dos fraudadores da internet cresceu na cultura popular desde que a estrela do Afrobeats, Olu Maintain, lançou Yahooze, uma música elogiando esses golpistas virtuais, em 2007.
Várias músicas nigerianas que fazem referência a fraudadores cibernéticos – também conhecidas localmente como 419, em referência ao Código Penal Nigeriano sobre fraudes – têm se tornado muito populares.
Mas o caso da francesa, que chegou às manchetes, ilustra como os golpistas nigerianos estão recorrendo a novas tecnologias para enganar suas vítimas.
Os golpistas enganaram a vítima, identificada como Anne, de 53 anos, pelo canal francês TF1, fazendo-a acreditar que vivia um relacionamento romântico com o astro de Hollywood de 61 anos, usando fotos geradas por inteligência artificial.
Anne foi alvo no Instagram de alguém que se passava pela mãe de Brad Pitt depois que ela compartilhou fotos suas esquiando nas montanhas francesas. Os golpistas alegaram que o ator precisava urgentemente de dinheiro para pagar o tratamento renal, sob o argumento de que suas contas bancárias haviam sido congeladas devido ao processo de divórcio em andamento com sua ex-mulher Angelina Jolie.
Agência e 'detetive' apuram
Segundo a advogada de Anne, Laurène Hanna, sua cliente perdeu 830 mil euros (R$ 5 milhões). Anne e sua advogada chamaram Marwan Ouarab, o fundador do site FindmyScammer.com, especializado em serviços de investigação digital, para tentar encontrar os golpistas, disse a profissional no X.
De acordo com o diário francês Le Parisien, que cita Ouarab, os golpistas – três homens na faixa dos vinte anos – estão na Nigéria.
A agência anticorrupção da Nigéria — Comissão de Crimes Econômicos e Financeiros (EFCC) — disse que só poderia iniciar uma investigação se uma denúncia fosse apresentada a ela. Esta é uma reclamação que autoriza a EFCC a agir, disse seu porta-voz, Dele Oyewale, à AFP.
Em novembro de 2022, um tribunal dos EUA condenou Ramon Abbas, um fraudador nigeriano que já foi popular entre políticos e celebridades, a 135 meses de prisão e ordenou que ele pagasse US$ 1,73 milhão em restituição a duas vítimas.
Uma nova ferramenta para um crime antigo
A inteligência artificial é uma nova ferramenta para um crime antigo, disse o especialista em crimes cibernéticos Timothy Avele à AFP.
O uso de IA e deepfakes apagará o enorme progresso feito e nos fará retroceder mais de 20 anos na luta contra esses criminosos, acrescentou ele.
Em julho passado, a Meta, empresa controladora do Instagram e do Facebook, removeu 63 mil contas do Instagram vinculadas a golpes de sextorsão na Nigéria.
Em casos de sextorsão, homens jovens ou adolescentes são enganados para enviar fotos comprometedoras a fraudadores se passando por mulheres jovens, que os chantageiam.
Cerca de dois meses após a decisão de Meta, dois irmãos nigerianos, Samuel e Samson Ogoshi, de 24 e 21 anos, foram condenados a 210 meses de prisão, cada, pelos crimes de explorar sexualmente e fraudar mais de 100 vítimas, incluindo 11 menores.
Os sindicatos estrangeiros do crime cibernético também estão explorando as fraquezas dos sistemas de segurança cibernética da Nigéria e encontrando no país um lugar lucrativo para estabelecer seus centros de operações, diz Avele.
Oyewale, da EFCC, diz que a agência está pronta para enfrentar todos os crimes emergentes, incluindo crimes baseados em IA. No mês passado, a EFCC disse ter prendido 792 suspeitos em uma única operação na área afluente da Ilha Victoria, capital comercial da Nigéria, Lagos. Pelo menos 192 dos suspeitos eram estrangeiros, incluindo 148 chineses, disse a agência.
Porta-voz da EFCC, Oyewale disse que as gangues estrangeiras recrutaram cúmplices nigerianos para procurar vítimas online por meio de phishing, visando principalmente americanos, canadenses, mexicanos e europeus.