Após reunião com Lula, ministros não veem medida efetiva de curto prazo para a alta dos alimentos
Foram mais de três horas de discussão sem que chegassem a uma ideia factível para baixar os preços na velocidade que o presidente quer
Ministros que participaram da reunião que discutiu medidas para conter a inflação de alimentos deixaram o encontro com a avaliação de que ainda não se chegou a uma solução efetiva de curto prazo para reduzir os preços nos supermercados.
Foram mais de três horas de discussão com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sem que chegassem a uma ideia factível para baixar os preços na velocidade que o chefe do Executivo quer.
Depois do encontro, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, falou à imprensa que o governo vai reduzir imposto de importação para enfrentar o problema.
— Se os preços desses produtos no mercado internacional estiverem mais baixos do que no mercado nacional, isso será rapidamente analisado e a alíquota de importação desses produtos será reduzida. Ou seja, os produtos que estejam com o preço interno maior do que o preço externo, nós atuaremos na redução de alíquota para forçar o preço a vir pelo menos para o patamar internacional — disse Costa.
Essa medida, porém, é considerada paliativa, com alcance reduzido. Neste momento, a esperança, para os auxiliares de Lula, está na queda do dólar e na supersafra deste ano.
Esses dois fatores, porém, não dependem de uma resposta rápida do governo.
O que pode frear a alta?
A valorização do real frente à moeda americana poderia diminuir o preço dos insumos importados para a produção de alimentos e redirecionar parte dos produtos exportados para o mercado interno.
Essas duas consequências poderiam baratear a comida. A supersafra, por aumentar a oferta de alimentos, também teria o mesmo efeito.
A definição da reunião desta sexta-feira foi de que os Ministérios da Agricultura e do Desenvolvimento Agrário irão verificar a produção e o preço dos itens da cesta básica no mercado nacional e internacional para ver a conveniência de aplicar a redução da alíquota de importação.
Mesmo assim, a adoção dessa política ainda precisa ser calibrada, e não terá consequência tão imediata.
Cobrança de Lula
Lula tem cobrado medidas com efeito de curto prazo, mas outras medidas citadas, como ampliar crédito e dar incentivos à produção agrícola, só poderão ser sentidas mais à frente.
De um lado, Lula estica a corda ao cobrar as políticas. Mas a Casa Civil e o Ministério da Fazenda definiram que também não serão colocadas em prática medidas que tenham impacto em aumento da despesa.
Há meses, levantamentos internos do Planalto mostram que a inflação dos alimentos afeta diretamente a popularidade de Lula.
Uma das alternativas mais bem vistas pelo núcleo de governo é a regulamentação do mercado de vales refeição e alimentação.
Mudanças à vista
O governo acredita mudanças aumentariam a concorrência no setor, o que beneficiaria os trabalhadores, com efeito sobre os preços dos alimentos.
A ideia é aplicar mudanças no Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT), que concede incentivos fiscais a companhias que oferecem VA e VR para os funcionários.
Sem uma bala de prata para resolver o problema, o Planalto manterá a agenda de Lula priorizando esse tema. O objetivo é ao menos demonstrar à população que o governo está em uma 'ofensiva' para enfrentar a inflação.
Na próxima semana, Lula deve se reunir com entidades de supermercadistas e frigoríficos abatedouros para discutir novas alternativas.