Investigadores de acidente aéreo nos EUA prometem não ceder à pressão política
Equipes de resgate vasculharam as águas turvas do Rio Potomac dia e noite, mas até agora recuperaram apenas 41 corpos. Vinte e oito deles já foram identificados, e 18 famílias foram notificadas

Investigadores insistiram nesta sexta-feira que não cederiam à pressão externa enquanto procuram por corpos e pela caixa-preta do helicóptero envolvido no acidente que matou 67 pessoas em Washington, enquanto o presidente Donald Trump redobrava sua aposta para marcar pontos políticos.
Vinte e seis corpos ainda estavam desaparecidos na sexta-feira no gelado Rio Potomac, onde um avião de passageiros e um helicóptero militar Black Hawk colidiram no ar na noite de quarta-feira.
Foi o pior acidente de avião nos Estados Unidos desde 2009. Equipes de resgate vasculharam as águas turvas do rio dia e noite, mas até agora recuperaram apenas 41 corpos. Vinte e oito deles já foram identificados, e 18 famílias foram notificadas.
Eles também procuram a caixa-preta do helicóptero militar após conseguirem recuperar o gravador de voz da cabine e o gravador de dados de voo da aeronave comercial Bombardier, que era operada por uma subsidiária da American Airlines (AA).
A busca física no terreno é realizada em paralelo a uma complexa análise técnica das potenciais falhas que podem ter levado ao acidente.
Todd Inman, membro do Conselho Nacional de Segurança no Transporte dos EUA (NTSB), disse que um relatório preliminar deve ser preparado em 30 dias, mas "a investigação geral provavelmente levará um ano".
— Tem que ser preciso. Não vamos divulgar algo rapidamente só para acabar com algumas especulações — disse ele à CNN.
A cautela de Inman contrastou fortemente com os comentários efusivos e politizados de Trump logo após a colisão entre o avião — em um voo de rotina de Wichita, Kansas, com 64 pessoas a bordo — e o Black Hawk do Exército dos EUA, no qual havia três oficiais.
'Não é muito complicado'
Trump falou novamente em sua plataforma Truth Social na sexta-feira: "O helicóptero Blackhawk estava voando muito alto, muito alto. Estava muito acima do limite de 60 metros. Não é muito difícil de entender, é?".
Isto se seguiu a uma torrente de publicações e a uma entrevista coletiva na quinta-feira em que o republicano atribuiu o acidente aos seus antecessores democratas Joe Biden e Barack Obama, alegando sem provas que tinham contratado as pessoas erradas devido aos seus planos de diversidade racial e de não discriminação, conhecido como DEI.
— Na verdade, eles emitiram uma diretiva: "muitos brancos" — disse Trump. — E queremos pessoas competentes.
As discussões on-line estavam repletas de teorias da conspiração decorrentes da cruzada anti-DEI de Trump.
Enquanto isso, especialistas em aviação estavam se concentrando em saber se a tripulação do helicóptero conseguiria enxergar através de seus óculos de visão noturna e se a torre de controle do Aeroporto Ronald Reagan tinha pessoal suficiente. De acordo com uma reportagem do The New York Times, um controlador, em vez dos dois habituais, estava controlando simultaneamente o tráfego de aviões e helicópteros naquele momento.
Apenas 24 horas antes da colisão, outro avião que deveria pousar no aeroporto teve que fazer uma segunda aproximação depois que um helicóptero apareceu perto de sua rota de voo, relataram o The Washington Post e a CNN, citando uma gravação de áudio do controle de tráfego aéreo.
Especulações
Inman disse que a investigação resistiria à pressão política.
— Absolutamente. Há muitas pessoas que estão especulando e querem ser ouvidas sobre isso. Entendemos isso, mas nosso trabalho é, em última análise, descobrir o que causou isso e evitar que aconteça novamente no futuro — ele enfatizou.
O chefe da Associação de Pilotos de Linha Aérea também pediu que os investigadores oficiais fossem autorizados a fazer seu trabalho.
"Haverá muitos detalhes e especulações que surgirão em resposta a esta tragédia, mas devemos lembrar que a investigação deve seguir seu curso", disse o capitão Jason Ambrosi em um comunicado.