EUA

Senado dos EUA confirma Robert Kennedy Jr como secretário de Saúde

Sobrinho do presidente John F. Kennedy, assassinado em novembro de 1963, Kennedy Jr. obteve os 51 votos necessários para a confirmação

Robert Kennedy Jr., nomeado de Trump para para liderar Departamento de Saúde - Andrew Caballero-Reynolds/AFP

Robert F. Kennedy Jr., o sobrinho do ex-presidente americano John F. Kennedy que abandonou o Partido Democrata antes das eleições do ano passado para lançar candidatura própria e depois migrou para a base de apoio de Donald Trump, foi aprovado nesta quinta-feira para chefiar o Departamento de Saúde dos EUA.

Cético sobre vacinação e líder de um movimento sobre "liberdade médica", sua indicação foi uma das mais polêmicas de Trump, alvo de críticas de democratas e cientistas.

A votação, 52-48, coroou uma ascensão notável para Kennedy Jr. e uma reviravolta curiosa na política americana. Ele foi confirmado por um Senado republicano, sem um único voto democrata, em uma Casa onde seu pai, Robert F. Kennedy, e seus tios, John Kennedy e Edward M. Kennedy, ocuparam cargos como democratas.

O senador republicano Mitch McConnell, um sobrevivente da poliomielite e ex-líder do partido de Trump, foi o único a votar não. Ele emitiu uma declaração contundente explicando seu voto.

"Indivíduos, pais e famílias têm o direito de pressionar por uma nação mais saudável e exigir a melhor orientação científica possível sobre prevenção e tratamento de doenças", disse o comunicado do senador.

"Mas um histórico de trânsito por teorias da conspiração perigosas e erosão da confiança em instituições de saúde pública não dá ao senhor Kennedy o direito de liderar esses esforços importantes".

Kennedy deve ser empossado na tarde de quinta-feira para liderar o Departamento Federal de Saúde e Serviços Humanos, uma agência extensa com 13 divisões operacionais, incluindo algumas — a Food and Drug Administration (FDA), os Institutos Nacionais de Saúde e os Centros de Controle e Prevenção de Doenças — que ele chamou de corruptas. Essas agências científicas já estão se recuperando do ataque de diretivas vindas do governo Trump.

Kennedy disse que quer enfrentar a epidemia de doenças crônicas, livrar os supermercados de alimentos ultraprocessados e erradicar os conflitos de interesse em agências federais e nos painéis de especialistas que as aconselham. Ele também prometeu "seguir a ciência" na busca por pesquisas sobre a segurança das vacinas. Mas ele ofereceu poucos detalhes de como fará isso.

Kennedy Jr. assume um departamento com mais de 80 mil funcionários e um orçamento de US$ 1,7 trilhão (R$ 9,8 trilhões) em um momento em que cientistas alertam que a gripe aviária pode desencadear uma pandemia e as taxas de vacinação em declínio estão aumentando os temores de um ressurgimento de algumas doenças infantis.

Ex-advogado ambientalista, Kennedy passou grande parte das últimas duas décadas promovendo teorias da conspiração que ligavam vacinas infantis ao autismo. Ele também disse que as vacinas contra a Covid-19 foram as "mais mortais" já criadas e questionou se os germes causam doenças infecciosas.

Durante acaloradas audiências de confirmação do Senado, os democratas alegaram que Kennedy tinha potenciais conflitos de interesse, incluindo o recebimento de honorários lucrativos de consultoria de escritórios de advocacia que processavam empresas farmacêuticas. Ele também foi acusado de má conduta sexual e até mesmo relacionou tiroteios em escolas a antidepressivos.

Em 2024, 77 ganhadores do Nobel escreveram uma carta aberta ao Senado se opondo à sua confirmação. Eles acreditam que isso poderia colocar a saúde pública em "risco".