"Filhos" de Fernanda Torres e Selton Mello em "Ainda estou aqui" recordam experiência no filme
Elenco jovem e infantil é um dos destaques de longa de Walter Salles indicado a três estatuetas do Oscar, incluindo melhor filme

Fernanda Torres, Selton Mello e Fernanda Montenegro são os nomes do elenco no cartaz de “ Ainda estou aqui”.
Mas é certo dizer que o filme de Walter Salles, indicado ao Oscar em três categorias (melhor filme, filme internacional e atriz), não seria o mesmo sem a participação de outros cinco atores, que dão vida aos filhos de Eunice e Rubens Paiva nos anos 1970: Valentina Herszage, Luiza Kosovski, Barbara Luz, Guilherme Silveira e Cora Mora.
Do jovem quinteto, Valentina, de 26 anos, Luiza, 25, e Barbara, 22, já tinham experiência como atrizes, enquanto Guilherme, de 14, e Cora, de 12, tiveram sua estreia.
"Mais do que semelhança física, buscamos crianças com um ritmo diferente. Estávamos fazendo um filme que se passa em outra época, em que as crianças não eram hiperestimuladas" explica Letícia Naveira, responsável pela seleção do elenco.
"Procuramos por crianças que falassem de suas emoções e tivessem muita imaginação. Fazíamos perguntas um pouco existencialistas e víamos como a criança desenvolvia a fim de encontrar os talentos ideais para essa história"
“Ainda estou aqui” reconta a história real de Eunice Paiva (Fernanda Torres), que em 1971 teve seu marido, o ex-deputado Rubens Paiva (Selton Mello), capturado e morto por agentes da ditadura militar.
O longa se baseia no livro homônimo escrito por Marcelo Rubens Paiva, cuja versão adolescente é vivida por Guilherme Silveira.
Descoberto na praia
O garoto conta que foi descoberto na praia do Leblon, Zona Sul do Rio, onde estava com a família. Em um primeiro momento, inclusive, ele conta que estranhou a abordagem.
"Uma pessoa perguntou pro meu padrasto se eu queria fazer um teste para um filme. Minha mãe ficou desconfiada, aí falaram que era do Walter Salles. A gente ainda achava que era golpe, mas fui fazer o teste e passei" lembra Guilherme, que tinha 12 anos durante as filmagens.
Já a seleção de Cora para viver a caçula Babiu (apelido de Beatriz) foi feita a partir de uma pesquisa em escolas do Rio, na qual eram feitas perguntas e era tirado um retrato.
A foto de Cora chamou a atenção de Walter, que ficou impactado com o olhar da menina, então com 10 anos.
"Tudo foi realmente incrível, eu não tinha a menor ideia de como a produção de um filme funcionava. Achei impressionante a quantidade de pessoas envolvidas, e como tudo era extremamente pensado e planejado, nos mínimos detalhes" conta a mais nova do elenco, que escreveu um livro (“Os deslocados”, editora Comemora, 2023) durante os intervalos de filmagens.
Após o processo de seleção, os cinco atores passaram por um mês de ensaios com a preparadora de elenco Amanda Gabriel.
Ela recorda que tudo foi feioa na casa que serve de cenário ao filme e antes da chegada de Fernanda e Selton no set.
Assim, quando os “pais” chegaram, foram recebidos por cada “filho” já com suas personalidades ficcionais formadas.
"Estabelecemos que o set não teria celulares, para ficarmos nos anos 1970" lembra Amanda.
"A Nanda e a Valentina começaram a fazer crochê e eu levava quebra-cabeças para os mais novos"
Sem roteiro
Amanda conta que a dupla de novatos não recebeu o roteiro do filme, rodado em ordem cronológica. Assim, eles foram descobrindo a história enquanto ela era filmada.
Ou seja: a reação que vemos dos personagens e Marcelo e Babiu ao desaparecimento do pai Rubens é também a reação dos próprios atores Guilherme e Cora.
"Ficava impressionada com a espontaneidade dos dois. A câmera chegava neles e eles continuavam o que estavam fazendo normalmente. Nós atores sempre ficamos muito preocupados quando a câmera chega" diz Valentina, a mais experiente do elenco jovem, e que ajudou Walter em testes para a escalação de suas “irmãs”.
Parceira de crochê de Fernanda, Valentina, que interpreta Veroca, também lembra com carinho da preparação.
Ela conta que o diretor pediu para que ela e Luiza, que dá vida a Eliana, decorassem o quarto de suas personagens a partir de uma pesquisa do que jovens ouviam e assistiam à época.
Amanda recorda um caso para ilustrar a sintonia entre filme e elenco:
"Ficamos muito tempo pensando em como iríamos filmar e mostrar a personagem da Babiu perdendo o dente. Aí a Cora perdeu um dente muito próximo do dia que iríamos filmar" revela Amanda.
"Ela deu o dentinho dela para o filme, ele foi para a areia e depois voltou para ela no final das filmagens. Esse tipo de magia também é parte de fazer um filme"
"Escola Fernanda Torres"
Luiza Kosovski fala sobre a experiência ao representar o filme no Festival de Cinema de Pingyao, na China.
"Foi das coisas mais loucas que aconteceu na minha vida" diz a atriz.
"Fiquei sabendo uma semana antes e logo estava viajando sozinha pela primeira vez, no interior da China. Eu era parada o tempo inteiro na rua para tirar foto, dar autógrafo, foi muito especial"
Com “Ainda estou aqui” viajando pelo mundo, uma forma que a equipe encontrou de se manter informada sobre novas exibições, entrevistas e premiações é um grupo de WhatsApp da equipe, revela Barbara Luz, que interpreta Nalu:
"A gente tem um grupo e todo mundo é muito ativo. Às vezes eu acordo e tem cem mensagens. Ficamos torcendo muito"
Os cinco jovens atores falam com muito orgulho sobre participar do primeiro filme original Globoplay, que já chegou à marca de cino milhões de espectadores no Brasil.
Todos também demonstram um carinho especial por Fernanda Torres, com quem gravaram a maioria de suas cenas.
"A Fernanda é a pessoa mais engraçada que eu conheci na minha vida. Ela conseguia transitar entre as cenas emocionalmente carregadas e uma convivência feliz com a gente no set" cita Luiza.
"Se eu consegui ficar orgulhosa do meu trabalho no filme, é porque ela é uma atriz muito generosa na hora de compartilhar a cena. Merece todos os prêmios do mundo"
Barbara completa que “Fernanda foi uma das maiores escolas da vida, uma parceira sempre aberta a jogar em cena”, enquanto que Valentina cita sua “mãe” da tela grande como uma pessoa “viciante”:
"Você não quer sair de perto dela. De todos os trabalhos que já fiz, foi a pessoa que mais sofri sabendo que iria parar de conviver todos os dias"
Agora, a expectativa é para a cerimônia do Oscar, no dia 2 de março.
"Acho que temos grandes chances de fazer o Brasil finalmente ganhar o Oscar tão merecido" fala Guilherme. "Estou torcendo muito"
Já sua “irmã mais nova”, Cora, avisa:
"Estou muito feliz, não importa o que aconteça"