Líderes europeus e do Canadá visitam Ucrânia para demonstrar apoio no aniversário de três anos da gu
Em paralelo, presidente da França foi a Washington para conversar com Trump

Líderes europeus e do Canadá visitaram a capital da Ucrânia nesta segunda-feira para marcar os três anos da guerra provocada pela invasão russa e demonstrar apoio a Kiev em meio à incerteza cada vez maior do compromisso dos Estados Unidos de ajudar o país a se defender dos ataques de Moscou.
Em paralelo, o presidente da França, Emmanuel Macron, foi a Washington para conversar com Donald Trump e tentar provar que seria "um grande erro estratégico" deixar a Rússia vencer o conflito.
"Nesta luta pela sobrevivência, não é apenas o destino da Ucrânia que está em jogo. É o destino da Europa", escreveu a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, nesta segunda-feira, em uma publicação do X, justificando que a Europa estava em Kiev “porque a Ucrânia está na Europa”.
Além de von der Leyen, os visitantes incluem o primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, e os líderes de Espanha, Dinamarca, Estônia, Finlândia, Islândia, Letônia, Lituânia, Noruega e Suécia, bem como o presidente do Conselho Europeu, o português António Costa.
Todos foram recebidos na estação de trem da capital ucraniana, nesta segunda-feira, pelo ministro das Relações Exteriores, Andrii Sybiha, e pelo chefe de Gabinete de Zelensky, Andrii Yermak.
"Três anos de resistência. Três anos de gratidão. Três anos de heroísmo absoluto dos ucranianos. Estou orgulhoso da Ucrânia!", escreveu Zelensky no X, ao lado de um vídeo que mostra cenas da linha de frente e civis ucranianos apoiando os esforços de guerra durante o conflito. "Agradeço a todos que defendem e apoiam a Ucrânia. Todos que trabalham pela Ucrânia. E que a memória de todos aqueles que deram suas vidas por nosso Estado e nosso povo seja eterna."
Trump chocou a Europa quando disse que estava disposto a retomar as relações diplomáticas com o líder russo, Vladimir Putin, e manter conversas com ele sem a presença da Ucrânia ou de países europeus. O presidente americano também repetiu argumentos russos sobre a suposta responsabilidade da Ucrânia em iniciar a guerra e referiu-se a Zelensky como ditador, o que levantou preocupações entre aliados de que Washington poderia aceitar as condições de Moscou.
O governo Trump ainda indicou que os planos da Ucrânia de ingressar na Otan não devem se concretizar e que o país, provavelmente, não recuperará as terras que o Exército russo ocupou, o que corresponde a quase 20% do país. No fim de semana, os EUA propuseram na ONU uma resolução sobre o fim da guerra na Ucrânia sem mencionar a integridade territorial.
"Estamos vivendo um momento decisivo para a Ucrânia e a segurança europeia", afirmou António Costa nas mídias sociais, anunciando, no domingo, que convocaria uma cúpula de emergência dos 27 líderes da União Europeia no dia 6 de março, com a questão ucraniana no topo da agenda.
A mudança na política externa dos EUA fez soar o alarme na Europa, onde os Estados temem ser abandonados por Washington nos esforços para garantir um acordo de paz e estão refletindo sobre como poderão compensar qualquer corte na ajuda americana à Ucrânia. Nesta segunda-feira, a Comissão Europeia anunciou uma nova ajuda de 3,5 bilhões de euros (R$ 21 bilhões).
— A guerra na Ucrânia continua sendo a crise mais central e de maiores consequências para o futuro da Europa. Putin tenta mais do que nunca vencer esta guerra. O seu objetivo continua sendo a capitulação da Ucrânia — declarou von der Leyen durante uma reunião em Kiev.
Os países da UE também adotaram formalmente seu 16º pacote de sanções contra a Rússia.
“Agora temos o mais amplo conjunto de sanções da História, enfraquecendo o esforço de guerra da Rússia”, enfatizou a chefe da diplomacia europeia, Kaja Kallas, na rede X. “Não há dúvidas sobre quem é o agressor, quem deve pagar e ser responsabilizado por essa guerra. Com as conversações em andamento para pôr fim à agressão da Rússia, devemos colocar a Ucrânia na posição mais forte possível."
Essas novas sanções impõem restrições às importações de alumínio russo e acrescentam à lista de sanções 74 embarcações da chamada “frota fantasma”, usada pela Rússia para contornar as sanções sobre suas exportações de petróleo.
Há também a proibição da venda de consoles de jogos para a Rússia, que podem ser usados para controlar drones no campo de batalha. Determina ainda o bloqueio da transmissão na UE de oito organizações de mídia russas.
— Este ano deve ser o ano do início de uma paz real e duradoura — disse Zelensky aos líderes europeus em Kiev. — Putin não nos dará paz ou a dará em troca de algo. Temos que ganhar a paz por meio da força, sabedoria e unidade.
Em outro flanco de defesa, o presidente francês, Emmanuel Macron, que vem tentando coordenar uma resposta europeia à repentina reviravolta dos EUA, foi a Washington nesta segunda-feira para tentar persuadir Trump a incluir os europeus nas discussões com Moscou sobre o fim da guerra. A Rússia é "uma potência excessivamente armada e continua a se armar. Não sabemos onde isso vai parar hoje. Então, todos nós devemos agir para contê-la", disse Macron antes de partir para Washington.
O presidente francês representará a Europa como um todo durante sua visita, após reuniões com líderes de todo o continente, incluindo o primeiro-ministro húngaro pró-Rússia, Viktor Orban, disse um de seus assessores. Segundo a mesma fonte, Macron "vai a Washington com propostas de ação que refletem as convergências que surgiram" das negociações.
O chefe do Eliseu está tentando convencer Trump a manter o tradicional apoio dos EUA à Ucrânia, respeitando sua soberania e garantindo que os interesses europeus sejam totalmente considerados, disse o assessor. Ele também quer convencer seu colega americano de que a Rússia representa uma "ameaça existencial" para a Europa e que Putin "não respeitará" um cessar-fogo, acrescentou.
O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, deve seguir com uma reunião na Casa Branca na quinta-feira, depois de dizer que o Reino Unido estaria “pronto e disposto” a colocar tropas britânicas em solo ucraniano como garantia de segurança em um acordo de paz.
A Presidência russa acusou nesta segunda-feira a Europa de querer "continuar" o conflito na Ucrânia.
— Essa convicção dos europeus contrasta totalmente com o desejo de chegar a um acordo sobre a Ucrânia, que é o que estamos fazendo atualmente com os americanos — disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov.
Moscou afirmou estar pronto para negociar sobre a guerra na Ucrânia, mas só vai parar de lutar quando um acordo de paz "convier" a Moscou, disse o chanceler Sergey Lavrov.
— Cessaremos as hostilidades somente quando essas negociações produzirem um resultado firme e sustentável que convenha à Federação Russa — declarou Lavrov em uma entrevista coletiva conjunta com seu colega turco, Hakan Fidan, nesta segunda-feira.