Casa Branca quebra tradição de décadas e passa a escolher jornalistas que acompanham Trump
Até agora, associação de imprensa era responsável por determinar os nomes, mas o governo do republicano quer dar mais espaço a veículos "alternativos"

A Casa Branca anunciou que, a partir de agora, será a responsável por escolher os jornalistas que acompanharão as atividades do presidente Donald Trump, e que vai restringir o acesso de agências tradicionais de notícias à sala de imprensa.
A decisão ocorre após uma vitória do governo contra a Associated Press, que seguirá vetada de eventos oficiais do presidente, pelo menos por enquanto.
Em declarações aos jornalistas, a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, disse que a decisão final sobre os jornalistas que integrarão a comitiva de imprensa autorizada a acompanhar o presidente será da administração Trump, e não mais da Associação de Correspondentes da Casa Branca, como ocorre há algumas décadas.
A comitiva citada por Leavitt é um grupo reduzido de jornalistas autorizados a acompanhar eventos com o presidente no Salão Oval e também a viajar a bordo do Força Aérea Um.
Para garantir uma distribuição justa das vagas, era adotado um sistema de rotação entre veículos como a CNN, o New York Times e a Fox News, uma função que, até agora, era da Associação de Correspondentes da Casa Branca, cujos membros são eleitos pelos próprios jornalistas.
Mas desde seu retorno à Casa Branca, Trump afirma que quer ver mais representantes da chamada “imprensa alternativa” entre os jornalistas, uma referência a canais de YouTube e canais de TV que lhe serviram de palanque ao longo dos últimos quatro anos, e que repetem suas ideias e posições políticas sem tantas críticas.
— Já passou da hora de o grupo de imprensa da Casa Branca refletir os hábitos de mídia do povo americano em 2025 — afirmou Leavitt nesta quarta-feira.
A porta-voz disse que as mudanças não são uma maneira de vetar o acesso à imprensa tradicional, mas sim uma forma de abrir espaço para “novas mídias” e “compartilhar a enorme responsabilidade” que ela considera ser cobrir as atividades de Trump.
— Os meios de comunicação tradicionais que estão aqui há anos ainda participarão do grupo, mas novas vozes também serão bem-vindas — pontuou Leavitt.
A decisão não foi bem recebida pela associação, fundada há 111 anos. Em comunicado, o presidente do grupo, Eugene Daniels, repórter do portal Politico, disse que a ação “destrói a independência de uma imprensa livre nos Estados Unidos”, e “sugere que o governo escolherá os jornalistas que cobrem o presidente".
Daniels ainda revelou que não houve aviso prévio, e prometeu lutar pela transparência na cobertura do Poder Executivo.
A mudança nas regras da cobertura ocorre em meio a um embate legal entre a Casa Branca e a agência Associated Press, que foi banida de eventos no Salão Oval e de acompanhar Trump a bordo do Força Aérea Um, como parte da comitiva.
A decisão é creditada à recusa da agência em chamar o Golfo do México de “Golfo da América”, como determinou Trump no mês passado.
Na segunda-feira, um juiz rejeitou um pedido da Associated Press para derrubar o veto, mas exigiu mais detalhes sobre o caso — em comunicado, também na segunda-feira, a Casa Branca afirmou, em comunicado, que o acesso ao Salão Oval e ao avião presidencial “é um privilégio, não um direito”, e sugeriu que a agência propaga “notícias falsas”. Uma nova audiência está marcada para o dia 20 de março.
Segundo o Politico, além do banimento da Associated Press, a Casa Branca determinou que outras duas agências, Bloomberg e Reuters, terão que compartilhar um único lugar na comitiva — até agora, elas tinham posições garantidas.
Na sala de imprensa, aberta a um número maior de jornalistas, foi aberto um espaço destinado a “novas mídias”, que em boa parte do tempo é ocupado por veículos alinhados ao governo Trump.