INVESTIGAÇÃO

Doença desconhecida no Congo: principal suspeita é de fonte de água envenenada, diz OMS

Surto já deixa 1,3 mil casos e 67 mortes em duas regiões no Noroeste do país

Sede da Organização Mundial da Saúde (OMS) - Fabrice Coffrini / AFP

Uma das principais suspeitas das autoridades da República Democrática do Congo (RDC) sobre a causa do surto de uma doença desconhecida que já deixou dezenas de mortos é a de envenenamento de água, disse o chefe de emergências da Organização Mundial da Saúde ( OMS), Mike Ryan, durante uma coletiva de imprensa.

— Com base na sintomatologia do início (da doença) até a morte, parece e se assemelha muito mais a um evento do tipo tóxico, seja de uma perspectiva biológica, como uma meningite, ou de uma exposição química. E há indicações das autoridades (da RDC) de que há um nível muito forte de suspeita de um evento de envenenamento relacionado a uma fonte de água. Isso está sendo investigado — afirmou Ryan.

Segundo o último boletim semanal sobre surtos e emergências do escritório regional para a África da OMS, divulgado no domingo, desde o início de janeiro já foram registrados 1.365 casos e 67 mortes ligadas ao surto.

A doença acomete duas vilas da província de Équateur, no Noroeste do país. Cerca de metade dos óbitos ocorreu em até 48 horas do início dos sintomas. As queixas relatadas envolvem febre, calafrios, dores de cabeça, dores musculares, dores abdominais, diarreia, sudorese, tontura, falta de ar, agitação entre outras.

Na segunda-feira, a OMS também emitiu um comunicado em que classificou o risco nas comunidades afetadas como moderado, e baixo em âmbito nacional e global. No alerta, reforçou que “a causa definitiva permanece indeterminada”, mas também citou que meningite e intoxicação estão sendo consideradas como as principais suspeitas, em cenário agravado pela alta carga de malária.

“Os diferenciais atuais incluem um grupo de meningite bacteriana de início rápido ou uma contaminação por envenenamento químico como hipóteses principais em um contexto de alta incidência de outras doenças infecciosas comuns nas áreas, principalmente a malária”, disse a organização.

Os testes conduzidos até agora descartaram os vírus Ebola e Marburg, patógenos semelhantes e altamente letais que causam surtos esporádicos no continente africano, como possíveis causas. Entre 571 amostras analisadas, 54,1% testaram positivo para malária, indicando o papel da doença no agravamento dos casos. Mais testes estão em andamento.

Entenda o surto
Os casos da doença foram detectados em duas vilas, Boloko e Bomate, separadas a cerca de 100 km de distância, ambas da província de Équateur, no Noroeste da RDC. Ainda não se sabe exatamente se os casos nos dois locais têm ligação entre si, ou se são dois eventos separados. Segundo a OMS, as vilas são conectadas apenas por estrada ou pelo rio Congo.

Os primeiros registros foram rastreados até a vila de Boloko, onde três crianças com menos de 5 anos teriam morrido após comerem um morcego morto entre os dias 10 e 13 de janeiro, segundo a OMS. Até o final do mês, a região contabilizou 12 casos e 8 mortes, a maioria em Boloko e algumas na vila próxima de Danda. Não houve novos registros desde então.

Já o segundo grupo de casos semelhantes foi identificado a partir do final de janeiro na vila de Bomate. Até a última atualização, 1.352 casos e 55 mortes foram identificadas na região, com cerca de metade ocorrendo em até 48 horas do início dos sintomas. Com isso, o total em ambos os surtos chegou a 1.365 casos e 67 vítimas fatais.

O último alerta da OMS, no entanto, afirma que desde o início dos registros “há uma tendência geral de queda nas mortes”. A mais recente foi registrada no último dia 22, e “as informações epidemiológicas atuais sugerem um evento localizado com um declínio constante na incidência, sem expansão no tempo e no local”.