Elis Regina: conheça os 10 maiores sucessos da cantora no streaming
Gravações de Tom Jobim dominam top 10 da cantora, que faria 80 anos nesta segunda-feira (17)

Uma das maiores cantoras da música brasileira, Elis Regina (1945-1982) passou por vários estilos em quatro décadas de carreira. Destaque nos programas de rádio de Porto Alegre desde criança, a gaúcha começou gravando rocks juvenis e boleros, passou pelo samba, flertou com a "canção de festival" até se consagrar na recém-cunhada sigla MPB nos anos 1970.
Vem dessa fase, auge da sua popularidade e prestígio, as dez faixas mais tocadas da cantora na plataforma de streaming Spotify. Neste top 10, destacam-se cinco canções presentes no clássico álbum "Elis & Tom" — um certo viés de atualidade, já que a gravação do disco é tema de um documentário lançado em 2023, disponível na Globoplay.
A seguir, histórias por trás dos dez maiores sucessos no streaming de Elis Regina, que completaria 80 anos nesta segunda (17).
#10 — 'Brigas nunca mais' — 10,4 milhões de reproduções
Álbum: álbum "Elis & Tom" (1974) Compositores: Tom Jobim e Vinicius de Moraes Músicos: Paulinho Braga (bateria), Hélio Delmiro (guitarra), Luizão Maia (baixo elétrico), Cesar Camargo Mariano (piano elétrico) e Oscar Castro Neves (violão)
Antiga detratora da bossa nova, ao dividir um disco com um de seus fundadores Elis acabou gravando clássicos do gênero — com a sonoridade atualizada pelo arranjador e então seu marido Cesar Camargo Mariano. Uma destas canções é "Brigas nunca mais", composição com todo o pedigree bossanovista: de Tom e Vinicius, foi lançada por João Gilberto no seu primeiro álbum, "Chega de saudade", em 1959.
#9 — 'Maria Maria' — 16, 5 milhões de reproduções
Álbum: "Saudade do Brasil" (1980) Compositores: Milton Nascimento e Fernando Brant Músicos: Nilton Rodrigues (trompete), Luizão Maia (baixo elétrico), Nathan Marques (guitarra), Paulo Esteves (teclados), Sérgio Henriques (teclados), Picolé (bateria), Otávio Bangla (sax soprano)
"Maria Maria" (o título correto é sem pontuação) apareceu pela primeira vez no álbum coletivo "Clube da Esquina 2", de 1978, na voz de Milton Nascimento. Fã do mineiro, Elis logo se interessou por este hino à força da mulher brasileira e o transformou em um marco do final de sua carreira. Ela incluiu a canção em seu setlist no Montreux Jazz Festival, na Suíça, em 1979; colocou-a em seu show "Saudade do Brasil", em cartaz no Canecão em 1980 (essa é a versão mais ouvida do Spotify); e também a incluiu na performance que fez em 1981, no Palácio de Convenções do Anhembi, em São Paulo — esse show e o da Suíça viraram discos póstumos, lançados em 1982.
# 8 — 'Madalena' — 19,5 milhões de reproduções
Álbum: "Ela" (1971) Compositores: Ivan Lins e Ronaldo Monteiro de Souza Músicos: Wilson das Neves (bateria), Hermes Contesini (percussão), Sérgio Carvalho (piano), Novelli (baixo elétrico)
A história foi contada por Julio Maria, jornalista e colunista do GLOBO, na biografia "Elis: Nada será como antes", cuja edição atualizada acaba de chegar às livrarias. Em 1970, o produtor Nelson Motta (também colunista do GLOBO) estava formando o repertório do próximo disco de Elis e pediu algumas canções a Ivan Lins, estrela ascendente do circuito universitário. Entre as enviadas estava "Madalena", "um samba quilométrico de harmonia movimentada e levada quente" no qual Motta viu potencial. Além de pedir para Ivan passar a tesoura na canção (reduzida a radiofônicos 2:37), o produtor decidiu decidiu lançá-la como compacto (hoje, seria um single) em janeiro de 1971 para esquentar a chegada do álbum "Ela", que seria lançado em abril. "Madalena" chegou ao nº 1 das paradas, foi um dos maiores sucessos da carreira de Elis e, até hoje, não há show de Ivan Lins sem ela.
#7 — 'Fotografia' — 20,4 milhões de reproduções
Álbum: "Elis & Tom" (1974) Compositor: Tom Jobim Músicos: Paulinho Braga (bateria), Hélio Delmiro (guitarra), Chico Batera (percussão), Luizão Maia (baixo elétrico) e Cesar Camargo Mariano (piano elétrico)
Outra bossa nova dos primórdios incluída em "Elis & Tom" em levada jazzística, foi gravada pela primeira vez em 1959 por Sylvia Telles — cantora de voz pequena que era uma espécie de oposto estético de Elis. É uma das primeiras composições de Tom Jobim em que ele fez a música e também a letra e, segundo consta, uma de suas favoritas.
#6 - 'O bêbado e a equilibrista' - 32,7 milhões de plays
Álbum: "Elis, essa mulher" (1979) Compositores: Aldir Blanc e João Bosco Músicos: Paulinho Braga (bateria), Hélio Delmiro (violão), Luizão Maia (baixo elétrico), Ary Piassarollo (guitarra), Chiquinho do Acordeon (acordeon), Cesar Camargo Mariano (piano elétrico) e Cidinho (tamborim)
Clássico incontornável da MPB, "O bêbado e a equilibrista" começou como homenagem a Charles Chaplin (que morreu em 25 de dezembro de 1977) acabou se tornando um hino contra a ditadura militar, lembrando aqueles que haviam sido exilados por ela e vislumbrando seu fim. A lembrança de Chaplin permanece nos primeiros versos ("um bêbado trajando luto me lembrou Carlitos"), mas logo vêm a parte que desafiou a censura. "Choram Marias e Clarices”, por exemplo, é referência à Maria Aparecida, filha do metalúrgico Manuel Fiel Filho, e à Clarisse Herzog , viúva do jornalista Vladmir Herzog, ambos mortos pelos militares; "Meu Brasil... Que sonha com a volta do irmão do Henfil" é um aceno ao sociólogo Herbert José de Sousa, o Betinho, irmão do cartunista Henfil, que passou anos no exílio. Lançada em 1979 por João Bosco no disco "Galos de briga" e incluída em "Elis, essa mulher", que saiu meses depois, se tornou mais um marco na carreira da cantora.
#5 - 'Triste' - 38,2 milhões de plays
Álbum: "Elis & Tom" (1974) Compositor: Tom Jobim Músicos: Paulinho Braga (bateria), Tom Jobim (piano), Hélio Delmiro (guitarra), Luizão Maia (baixo elétrico), Oscar Castro Neves (violão) e Bill Hitchcock (regência)
Nesta faixa, Elis tinha dois desafios. Primeiro, ignorar a rabugice do pianista escalado, que vinha a ser o próprio compositor da música, ninguém menos que Tom Jobim, que já havia registrado uma versão instrumental em seu álbum "Wave" (1967). Segundo, superar a sombra do primeiro intérprete da faixa, ninguém menos que Frank Sinatra — que tinha gravado uma versão em inglês da música ("Sad") no disco "Sinatra & Company" ,1971). "Triste" deixou todos, quem diria, felizes. E segue alegrando até hoje, dada sua presente no Top 5 de Elis no streaming.
# 4 - 'Só tinha de ser com você' - 80 milhões de plays
Álbum: "Elis & Tom" (1974) Compositores: Tom Jobim e Aloysio de Oliveira Músicos: Paulinho Braga (bateria), Hélio Delmiro (guitarra), Luizão Maia (baixo elétrico), Cesar Camargo Mariano (piano elétrico) e Oscar Castro Neves (violão)
Mais uma de "Elis & Tom" no Top 10, esta uma canção de 1964, parceria de Tom com Aloysio de Oliveira — produtor do disco e "figurinha carimbada do showbiz deste os tempos em que tocava no Bando da Lua e namorava a chefe Carmen Miranda", lembra Arthur da Faria em "Elis, uma biografia musical". Destaca-se na faixa o jogo de Elis com Cesar Camargo Mariano: o canto suave dela e seu piano embalam a repetição dos versos "você sempre foi só de mim/ eu sempre fui só de você", que se alonga por toda a metade final da faixa.
# 3 - 'Tiro ao álvaro' - 92 milhões de plays
Álbum: "Adoniran Barbosa e convidados" (1980) Compositores: Adoniran Barbosa e Oswaldo Molles Músicos: Carlinhos Antunes (cavaquinho), Dino 7 Cordas (violão 7 cordas), Cesar Faria (violão), Marçal (percussão), Jorginho (percussão),
Nos anos 1960, Elis e Jair Rodrigues comandavam o programa "O Fino da Bossa", exibido pela TV Record, de São Paulo. Como escreve Julio Maria, o compositor "Adoniran Barbosa vivia meio esquecido em um boteco próximo à emissora, até o dia em que entrou convidado por um produtor e fez uma participação memorável ao lado de Elis". Adoniran seria lembrado por ela novamente no show "Transversal do tempo", onde cantou uma versão que revelou a tristeza de "Saudosa maloca". E, claro, nesta bem-humorada e anti-ortográfica "Tiro ao álvaro", gravada em "Adoniran Barbosa e convidados", disco de 1980 em que, além de Elis, nomes como Clementina de Jesus, Clara Nunes e Djavan homenageavam o sambista paulistano.
# 2 - 'Como nossos pais' - 105 milhões de plays
Álbum: "Falso brilhante" (1976) Compositor: Belchior Músicos: Natan Marques (viola 12 cordas), Crispim Del Cistia (guitarra), Cesar Camargo Mariano (teclados), Nenê (bateria) e Wilson Gomes (baixo)
Lançada por, Belchior no álbum "Alucinação" (1976), a música fez mais sucesso na marcante interpretação de Elis, tanto no espetáculo "Falso brilhante", que ficou em cartaz no Teatro Bandeirantes, em São Paulo, entre 1975 a 1977, quando no disco homônimo que ele inspirou — o disco mais vendido da cantora durante sua vida, 182 mil cópias. A letra traz bem o clima da época, quando as utopias dos anos 1960 já se dissipavam, mas alertando que "o novo sempre vem". Em 2023, canção foi usada em um polêmico comercial da Volkswagen que trazia Elis recriada por IA acompanhada da filha Maria Rita.
# 1 - 'Águas de março' - 189 millhões de plays
Álbum: "Elis & Tom" (1974) Compositor: Tom Jobim Músicos: Paulinho Braga (bateria), Cesar Camargo Mariano (piano), Tom Jobim (voz e piano), Hélio Delmiro (violão), Luizão Maia (baixão elétrico) e Oscar Castro Neves (violão)
Tendo como inspirações diretas um poema parnasiano e um ponto de umbanda, além do fluxo de consciênciade um sujeito chamado Antônio Carlos Brasileiro, "Águas de março" frequenta o topo dos rankings de melhores canções brasileiras de todos os tempos. Lançada em 1972 por Tom Jobim, foi gravada por Elis no mesmo ano. Mas a versão que virou clássico é este dueto de "Elis & Tom", repleta de improvisações vocais que retratam o clima finalmente descontraído do final das gravações.