Conmebol abre processo disciplinar contra Colo-Colo e proíbe público nas próximas partidas
Clássico contra a La U, que seria disputado no próximo sábado, foi suspenso por ordem das forças de segurança locais

Diante do caos generalizado que resultou na morte de dois adolescentes antes da partida entre Colo-Colo e Fortaleza, na última quinta-feira em Santiago, a Conmebol anunciou as primeiras medida contra o clube chileno. A entidade abriu um processo disciplinar para investigar os acontecimentos da noite desastrosa e suspendeu, por tempo indeterminado, a presença do público nos próximos jogos da equipe no Estádio Monumental.
A Conmebol detalhou quem poderá comparecer às partidas durante a suspensão: até 70 integrantes da comissão técnica de cada time, incluindo jogadores, médicos, dirigentes e outros profissionais desta área dos clubes; jornalistas que completarem o credenciamento com no mínimo 24h de antecedência da partida; até 20 dirigentes ou integrantes da ANFP, Associação de Futebol Profissional do Chile; e profissionais necessários para o andamento da partida, como doze gandulas, responsáveis pela transmissão e infraestrutura, equipe médica, e demais funcionários essenciais.
Além disso, as forças de segurança locais já haviam determinado a suspensão do "superclássico" entre Colo-Colo e Universidad de Chile, marcado inicialmente para às 18h (horário local) de domingo, no Monumental. Houve uma proposta de que a partida fosse adiantada para 16h em uma tentativa de melhorar a segurança, mas no fim ficou estabelecido que quaisquer medidas tomadas não seriam suficientes para garantir a segurança do evento.
Entenda o caso
Antes
Aproximadamente às 18h30 (horário local, 19h30 em Brasília), começou a confusão nos arredores do Estádio Monumental, segundo o promotor Francisco Morales, da Promotoria chilena (órgão equivalente ao Ministério Público). Ele afirmou que um grupo de pessoas tentou entrar na Casa Alba, local anexo ao Monumental e parte do complexo esportivo, para depois chegar ao estádio que sediaria a partida. Esse grupo, segundo Morales, se juntou com pelo menos outras 100 pessoas e tentou derrubar as barreiras de proteção e adentrar o Monumental.
Foi neste momento, segundo ele, que o efetivo policial realizou diversas tentativas para impedir a invasão. Uma das hipóteses trabalhada pela investigação é a de que um veículo de gás lacrimogêneo, utilizado para controle da ordem pública, teria sido responsável pelas mortes. "O que se sabe até agora é que um dos portões caiu sobre os dois jovens, com um peso adicional que pode ser atribuído a diferentes causas", afirmou.
Durante
partida começou sem atrasos às 20h (de Santiago), e seguiu sem outros acontecimentos até os 24 minutos do segundo tempo, com as equipes empatadas em 0 a 0. Cerca de 21h33, um grupo de torcedores quebrou a barreira de vidro que separa a arquibancada do gramado e invadiu o campo. O árbitro Gustavo Tejera interrompeu a partida, e os jogadores foram direcionados para os vestiários enquanto o efetivo policial tentava controlar a situação. Parte do elenco do clube chileno tentou conversar com os torcedores em uma tentativa de amenizar o caos.
A partir daí, começou uma longa espera para todos os presentes na partida, que aguardavam a definição da Conmebol sobre o restante do duelo. Pelas redes sociais, o Fortaleza tranquilizou seus torcedores de que os jogadores estavam em segurança, e o presidente do clube, Marcelo Paz, deu um recado e pediu punições ao clube chileno. De acordo com Luis Cordero, Ministro da Segurança Pública do Chile, houve uma "posição passiva" da entidade máxima do futebol sul-americano em todos os acontecimentos da noite. A Conmebol insistiu pela realização do complemento da partida, a portões fechados, mas aproximadamente às 23h20 (de Santiago), o governo determinou o cancelamento do evento.
No lado de fora do estádio, uma jovem de 20 anos se identificou como Bárbara Perez, irmã da menina morta na confusão. Ela contou que a jovem foi ao estádio com duas amigas e garantiu que tinha seu ingresso para a partida e pediu ajuda jurídica para ir "até as últimas consequências" na busca por justiça pela adolescente.
— Minha irmã ficou no chão e foi completamente esmagada — disse a mulher, segundo o jornal local La Tercera. — Minha irmã chegou com duas amigas, com os ingressos na mão, e a polícia colocou a culpa nelas, porque foram atropeladas. É uma família inteira destruída, inclusive eu. Minha mãe está devastada. Não sei como vamos continuar com isso — desabafou.
Depois
Durante a partida, a Promotoria iniciou as investigações para tentar determinar a causa da morte dos adolescentes e buscar os responsáveis. Já na madrugada de sexta, o promotor Francisco Morales contou à imprensa que a perícia investiga a participação da polícia nos acontecimentos. O motorista do veículo lançador de gás lacrimogêneo, cuja identidade foi preservada, passou a ser tratado como "acusado" e foi afastado do cargo — mas Morales explicou que, até aquele momento, não havia "causa legal que autorize a prisão".
O Ministro de Segurança Pública, Luis Cordero, também se pronunciou. Ele relatou que Pamela Vernega, que desde 2022 era responsável pelo programa Estádio Seguro, renunciou ao cargo. O ministro chamou de "oportunista" a atitude da Associação de Futebol do Chile de aproveitar o momento para reivindicar a transformação do Cadastro Nacional de Torcedores em lei, e corroborou as informações da Promotoria e afirmou que o policial seguirá afastado do cargo até a conclusão das investigações. Cordero também revelou que o Executivo não hesitará em classificar torcidas organizadas como "organizações criminosas" pelas ações na noite.