Blade Runner 2049 e o mundo em 2050
Em um ano de grandes “tsunamis” políticos mundiais, o exercício para traçar um norte para o futuro é no mínimo algo que requer muita coragem
“O líder de verdade inspira a sociedade, enquanto o carismático busca usá-la como massa de manobra”. Dora Kramer.
Se pararmos um minuto para refletirmos, quem nós listaríamos em uma das duas categorias; quem seriam as pessoas? Qual tipo de líder teria condições de levar a sociedade para um futuro melhor?
Em um ano de grandes “tsunamis” políticos mundiais como a votação do Brexit e a eleição do presidente americano Donald Trump, o exercício para traçar um norte para o futuro com planejamento estratégico e projeções econômicas é no mínimo algo que requer muita coragem.
Hollywood, faz a sua parte na busca do que acontecerá no futuro, busca esta, tão antiga quanto a humanidade.
Para os cinéfilos, foi lançado no dia 5 de Outubro o filme Blade Runner 2049, uma continuação do clássico do cinema Blade Runner.
O filme Blade Runner original de 1982, apresenta uma decadente e futurista cidade de Los Angeles em novembro de 2019, decaída com a poluição, o consumismo exacerbado e a consequente busca de novas formas de colonização, para a qual as pessoas são convidadas a aventurarem-se, em outros planetas, em face do colapso da civilização humana, material e moralmente. Na continuação, agora ambientada no ano de 2049 - Trinta anos após os eventos do primeiro filme -, um novo Blade Runner, o policial K (Ryan Gosling), do Departamento de Polícia de Los Angeles, desenterra um segredo que tem o potencial de mergulhar o que sobrou da sociedade em caos.
A descoberta de K o leva a uma jornada em busca de Rick Deckard (Harrison Ford), um antigo Blade Runner da LAPD, que está desaparecido há três décadas.
Sem lançar um “spoiler” do filme Hollywoodiano, será que o nosso futuro estará acompanhado de um colapso da civilização humana, material e moralmente?
Voltando ao mundo real, conforme menciono na coluna de 1º de setembro, temos vários estudos, e, em especial, um recentemente lançado que apresenta um futuro com cenário internacional, intitulado “A visão de longo prazo: Como a ordem na economia global será alterada até 2050” - “The Long View How will the global economic order change by 2050?” – PWC.
Os dados apresentados neste estudo devem servir para uma observação atenta de todos nós, pois traz um universo de dados altamente relevantes para enxergarmos além do momento de crise que vivemos.
Dentre as conclusões que afetam diretamente Pernambuco, podemos destacar que as economias em desenvolvimento continuarão a ser a força motriz da econômica mundial. Em 2050, o E7(China, Índia, Indonésia, Brasil, Rússia, Turquia e México) poderão ter aumentado a sua participação no GDP mundial com um crescimento de 35% para 50%. Nesta escala poderemos ter a China como a maior economia mundial correspondendo a 20% do GDP em 2050, seguida pela Índia e Indonésia em quarto lugar. Não podemos esquecer que este crescimento precisa ser complementado com investimento em educação e melhorias nos fundamentos macroeconômicos para garantir postos de trabalho suficientes para a população jovem destes países.
Uma visão de longo prazo é fundamental para fugirmos do olhar de curto e médio prazo com as suas subidas e descidas dentro do ciclo político e econômico. Precisamos manter, dentro desta visão, um foco nas forças fundamentais de crescimento: demografia e produtividade que, ao mesmo tempo, são elementos influenciados pelo progresso tecnológico, investimento e comércio internacional (Diplomacia Econômica).
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Estas “forças” foram preponderantes no desenvolvimento e progresso dos Estados Unidos, no século 19 e início do século 20. Os EUA tornaram-se a maior economia mundial, apesar da Guerra Civil, inúmeros conflitos externos, três presidentes assassinados e várias crises financeiras e econômicas.
Estas mesmas forças ajudaram o crescimento global na sua forte recuperação após duas guerras mundiais e a grande depressão.
As economias desenvolvidas ainda terão uma média de ganho maior per capital. No entanto, em 2050 as economias em desenvolvimento terão feito um progresso ainda mais acentuado para diminuir esta diferença. Esta visão é importante para que Pernambuco se posicione e não fique fora deste crescimento econômico e avanço social.
Os mercados emergentes precisam urgentemente implementar reformas estruturais para melhorar os fundamentos macroeconômicos e suas instituições. O crescimento sustentável só virá com fortes investimentos em educação, infraestrutura, tecnologia, diversificação da economia somados às instituições sólidas sociais, legais, políticas e econômicas. Sem esquecer dos incentivos para inovação e empreendedorismo, criando um ambiente “saudável e sustentável” para que negócios aconteçam.
Dentro desta visão, a diplomacia econômica tem um papel fundamental para disseminação de uma cultura corporativa dinâmica e estratégica em um mundo vitimado por uma profunda transformação a cada segundo.
Importante lembrar que, desde 2000, as economias desenvolvidas tem tido um crescimento na taxa de 1,8% ao ano comparado a 5,8% aos países em desenvolvimento (dados do FMI/IMF).
É necessário destacar estratégias e discussões que envolvam os países que compõem o E7, pois o crescimento projetado para este grupo de países será entre 3,5% entre 2016 e 2050 em contrapartida aos do G7 projetado em 1,6%.
Precisamos urgentemente de pessoas como o Barão de Rio Branco, habilidoso na difusão do conhecimento e do debate em torno das questões políticas na sociedade brasileira e internacional. Poucos souberam utilizar a imprensa no sentido amplo e de forma prioritária dentro de sua perspectiva e atividade como homem público.
“Estadistas da estirpe de Rio Branco tem a visão dos problemas com a perspectiva não de 5 anos, mas dos próximos 50 anos”. Embaixador Carlos Henrique Cardim.
Rainier Michael
colunadiplomacia@gmail.com
Empresário há 35 anos, Rainier Michael tem ampla experiência em trocas internacionais. O trabalho realizado por ele junto ao consulado esloveno, e designado “Diplomacia Econômica”, interpreta sob uma visão humana o desenvolvimento e o crescimento do Nordeste. Paulista de nascença, Michael se mudou para Pernambuco há dez anos, quando seus negócios no Estado cresceram de forma a tornar indispensável sua presença aqui. Seu comparecimento nos mercados pernambucanos, entretanto, é mais antigo do que isso. Antes de assumir o consulado, já era representante da Sociedade Brasil-Alemanha no Nordeste. É destacável, também, sua atuação enquanto presidente do Rotary Club Recife.
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