No olho do furacão, Trump encara reta final de sua campanha

Vindo de uma campanha presidencial tóxica e dilacerante, Trump redobrou seus esforços, nos últimos dois dias

Aline Mariano - Paullo Allmeida/Folha de Pernambuco

Cinco comícios em cinco estados em um dia frenético de campanha. Um anúncio-bomba do FBI. Atrasos desgastantes. Simpatizantes de Donald Trump animados com a eleição de terça-feira (8) nos Estados Unidos e desesperados para ouvir seu herói.

Vindo de uma campanha presidencial tóxica e dilacerante, Trump redobrou seus esforços, nos últimos dois dias, para conquistar os estados democratas e conseguir vencer Hillary Clinton na corrida para a Casa Branca.

Com a efervescente campanha de um ano meio alcançando sua etapa final, Trump percorreu nas últimas horas cerca de 4.800 quilômetros com comícios em Denver, Sioux City, Minneapolis, Sterling Heights, Pittsburgh e Leesburg, antes de viajar para o estado-chave da Flórida nesta segunda-feira (7).

Dos estados que abrigam essas cidades - Colorado, Iowa, Minnesota, Michigan, Pensilvânia e Virgínia -, apenas Iowa se inclina para o Partido Republicano, um sinal de que Trump tem a intenção de conquistar territórios democratas.

Nos comícios de domingo, sua mensagem populista voltou a se concentrar no "agora ou nunca" e de que é hora de os Estados Unidos rejeitarem o establishment "corrupto".

Hillary Clinton "está com eles. Eu estou com vocês", declarou o magnata, de 70 anos, em um angar de Minneapolis lotado de simpatizantes.

'Justiça nas urnas'
As campanhas presidenciais muitas vezes adotam um ritmo frenético durante a última semana.

A de Hillary, por exemplo, conta com um avião adicional para a imprensa - além dos 30 repórteres que viajam com ela em seu Boeing - para acolher todos os jornalistas que acompanham sua campanha.

Apesar da comoção, a ordem reinava no domingo no lado democrata.

Em contrapartida, o caos controlado tem sido a marca de Trump. A imprensa não viaja com o magnata. A maioria dos jornalistas segue em um outro avião, no qual não viaja nenhum de seus colaboradores. Outros usam um ônibus de campanha, que no domingo sofreu uma colisão com um carro em Sioux City.

Em meio à maratona de domingo, uma tempestade voltou a assombrar: o diretor do FBI enviou uma carta ao Congresso sobre o caso de e-mails que persegue Hillary, afirmando que nenhuma acusação será feita contra ela.

Embora o tema tenha sido "resolvido", Trump resolveu falar sobre o assunto.

"O FBI não vai deixar (Hillary) escapar com esses crimes terríveis", disse ele em Michigan, estado onde Barack Obama foi vitorioso nas eleições de 2008 e de 2012.

Mais tarde, em Pittsburgh, declarou que o escândalo pode animar seus partidários a votar.

"Agora é decisão do povo americano fazer justiça nas urnas", convocou.

Maratona
À meia-noite, cerca de 2.000 pessoas ainda estavam esperando a aparição de Trump em Leesburg, na Virgínia, após duas horas e meia de atraso.

O candidato republicano finalmente subiu ao palco, três horas mais tarde do que o planejado. Exultante, declarou: "Hoje é um dia de maratona. Vamos chamá-lo de o 'discurso especial da meia-noite'".

Embora a Virgínia seja um dos estados que pareçam apoiar Hillary, Trump não perdeu a oportunidade de fazer campanha por votos.

"Vocês precisam fazer que todos que conheçam votem", disse ele.

"Vamos celebrar uma das maiores vitórias da história", acrescentou.

Nem todos estão convencidos, porém, de uma vitória do magnata imobiliário.

Artie Battles declarou estar nervoso, até mesmo temeroso, nesse final de campanha.

"Você percebe que, em poucos dias, tudo vai acabar e que, talvez, sua esperança de mudança não se concretize", disse esse mecânico, de 29 anos, com o filho nos braços.

"Tenho dois filhos, e o futuro deles depende disso", completou.

Jim Kiefer, um agente de seguros aposentado e com 16 netos, reconheceu estar impressionado com a força de Trump.

"Ele tem muita energia para ser um cara grande, certo?", comentou.

"Mas, se os democratas ganharem, os Estados Unidos vão se tornar Sodoma e Gomorra", alertou.