O risco da arbovirose em casas de veraneio

Imóveis que ficam fechados na baixa temporada podem abrigar focos do Aedes aegypti e contaminar pessoas que utilizem as casas na alta estação

É preciso atenção na hora de veranear em casas há muito fechadas e que podem abrigar criadouros de Aedes - Arthur Mota/ Folha de Pernambuco

As praias do litoral de Pernambuco recebem um grande fluxo de visitantes neste período de veraneio, entre os meses de janeiro e fevereiro. Mas, como são poucas as pessoas que frequentam as praias rotineiramente nos outros meses do ano, alguns imóveis ficam vazios até a alta estação, dando brecha para que o mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue, zika e chikungunya, se prolifere. Quando um veranista ocupa uma casa que alugou para passar uma temporada, os insetos já podem ter se instalado no local.

Leia também:
Olinda cria comitê especial para combater arboviroses
Mais de 1,1 mil cidades estão em alerta para dengue, zika e chikungunya
Especialistas apontam risco no uso indiscriminado de corticoides

Em Itamaracá, no Litoral Norte de Pernambuco, a situação não é diferente. No período de dezembro a fevereiro, a ilha espera receber 150 mil pessoas. O número é seis vezes maior que a população do município que tem 25 mil habitantes - incluindo a população carcerária. A Prefeitura de Itamaracá pretende aproveitar o período de veraneio, quando as casas estão ocupadas, para realizar visitas de inspeção.

“A grande dificuldade que nós temos, ao longo do ano, é realizar vistorias na parte interna das casas, porque muitos desses imóveis só recebem pessoas no verão”, explicou a secretária de saúde de Itamaracá, Josilda Valença. “Pensando nisso, desarticulamos outros programas, como leptospirose e raiva, para direcionar o pessoal para vistoria de arboviroses. Isso ficará até o fim do período de alta estação”, afirmou.

A dona de casa Maria da Conceição, 59, veraneia em Itamaracá há 7 anos. Sempre no mesmo período, de janeiro a fevereiro, aluga uma casa para ficar com os familiares. Este ano, ao chegar ao imóvel, ela tratou de verificar se havia algum foco do mosquito. “ Nós nos preocupamos em não deixar lugares com água parada e recipientes abertos. O lixo a gente coloca num saco e fecha direitinho, e na piscina sempre colocamos cloro”, contou. “O medo é a gente tomar cuidado e os nossos vizinhos não. Isso tem que ser um preocupação de todos, porque quando o problema surgir, vai atingir todo mundo, não só quem tem o foco”, completou.

A também dona de casa Iris Freitas, 44, está passando alguns dias na Ilha de Itamaracá e acredita que o maior foco de doenças está na alta concentração de lixo jogado nas ruas do município. “É uma tristeza passar as férias com as crianças e encontrar essa sujeira toda aqui. Isso é um convite, não só para os mosquitos, mas para outras doenças”, observou. Iris conta isso com propriedade. Seu sobrinho de 7 anos contraiu uma virose e, ao chegar no posto de saúde, “o que mais tinha era gente igual a ele”, contou.

A Prefeitura de Itamaracá informou que a Secretaria de Infraestrutura já estava atenta ao alto fluxo de pessoas na ilha e afirmou ter reforçado a coleta de lixo. Normalmente, o lixo é recolhido por um compactador e cinco caminhões caçamba, que coletam 1.300 toneladas mensalmente. Para a temporada de veraneio, foram acrescentados à frota mais dois compactadores e dois caminhões caçamba. O horário para a coleta do lixo também deverá mudar de turno - ao invés de ser feito pela manhã, ocorrerá de madrugada. A mudança visa a evitar o trânsito na ponte Getúlio Vargas, que liga a ilha ao continente e está passando por reforma.

O primeiro boletim de arboviroses deste ano em Pernambuco aponta que em todo o Estado foram registrados 22 casos suspeitos de dengue em 12 municípios, representando uma redução de 90,7% quando comparado ao mesmo período de 2017. Chikungunya e zika tiveram apenas um caso suspeito reportado cada. Não há registro de óbito.