Clube das Pás celebra seu aniversário de 130 anos

Instituição no bairro de Campo Grande traz uma trajetória em que equilibra momentos de alegria e desafios para se manter ativo

Espaço promove bailes e shows nas sexta-feiras, sábados, domingos e segundas-feiras, e comporta até 1,5 mil pessoas - Ed Machado/Folha de Pernambuco

Quando se pergunta sobre um local para dançar no Recife, o Clube das Pás, no bairro de Campo Grande, já se encontra no imaginário do pernambucano. Fundado dois meses antes da Abolição da Escravatura no Brasil, em 19 de março de 1888, o clube carnavalesco chega aos 130 anos após uma trajetória que mescla folia com desafios. A agremiação ostenta o título de clube de frevo mais antigo do Brasil, além de ter sido pioneiro na inclusão do público feminino em seus desfiles, em 1890, tornando-se então misto.

Hoje, todas as semanas, nas sextas, sábados, domingos e segundas-feiras, o Clube das Pás reúne diversas gerações em shows que passeiam em gêneros como frevo, brega, música romântica, bolero e Música Popular Brasileira (MPB). Nomes como Agnaldo Timóteo e Roberta Miranda já se apresentaram em seu palco.

"O futuro do Clube é brilhante. Após anos sem conquistar a coroa do Carnaval do Recife, ganhamos em 2016, 2017 e este ano. Hoje, caminhamos com nossos próprios pés, em uma estrutura que comporta aproximadamente 1,5 mil pessoas" comenta Rinaldo Lima, presidente do Clube das Pás há três anos e que promoveu uma reforma no local no começo de 2016. Outra mudança foi na quantidade de sócios, que saltou de 16 para 110.

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Atualmente, a agremiação emprega 60 funcionários, entre garçons, seguranças e um bombeiro, a maioria deles moradores de localidades próximas ao clube, além de ter uma orquestra própria. "Vínhamos de uma realidade onde não conseguíamos pagar nossos funcionários, nem oferecer um bom serviço ao público" relata Jaques Cerqueira, um dos membros da diretoria do Clube.

Além de conseguir mudar seu próprio cenário, o grêmio passou a realizar projetos sociais visando as crianças e adolescentes de comunidades vizinhas. Aulas de frevo, cursos de idiomas, de cabeleireiro e de corte e costura são algumas das atividades oferecidas. "Continuar a realização de políticas sociais é uma das nossas principais metas", diz Jaques. O diretor também destaca os projetos futuros do Clube das Pás. "Planejamos realizar em breve um intercâmbio com a cidade Buenos Aires. Eles trazendo o tango para o Recife, e nós levando o frevo para a capital argentina".

Medalhas

Nesta segunda-feira (19), o Clube das Pás prepara diversas atividades para celebrar o seu aniversário. Na parte da manhã, às 10h, o clube será homenageado no Plenário da Câmara do Recife. E às 19h, na sua sede no bairro de Campo Grande, o cantor Elymar Santos comanda a noite em um evento apenas para convidados. Na ocasião, 30 personalidades atuantes no Estado - entre elas a editora-chefe da Folha de Pernambuco, Patrícia Raposo, e o radialista Edvaldo Moraes, da Rádio Folha 96.7 FM - serão homenageadas com uma medalha comemorativa.

Origem

Francisco Ricardo Borges, Manoel Ricardo Borges, João da Cruz Ferreira e João dos Santos - carvoeiros do Porto do Recife - decidiram criar o Bloco das Pás de Carvão após terem ajudado um navio cargueiro que estava atracado no porto e que precisava urgentemente de carvão para seguir viagem.

Álvaro Melo, historiador, quer lançar um livro sobre o grêmio - Crédito: Ed Machado/Folha de Pernambuco


"Como o Recife se encontrava no meio do Carnaval, e além disso os estivadores estavam em greve por melhores condições de trabalho, ninguém estava disposto a abandonar a folia para ir trabalhar. Foi então que o português Antônio Rodrigues, responsável pela empresa que abastecia o navio, reuniu um grupo disposto a realizar o trabalho em troca de uma remuneração maior", conta Álvaro Melo, historiador pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e um dos sócios beneméritos do Clube das Pás.

"Após o serviço concluído os quatro estivadores seguiram para o Clube dos Caiadores para brincar o Carnaval, com as pás de carvão nas costas. Daí veio a ideia de criar a agremiação", comenta Álvaro.

O historiador avalia o atual cenário dos clubes carnavalescos em Pernambuco. "Há um evidente descaso do poder público com os grêmios do nosso Estado, estes que assistiram a vários momentos históricos de Pernambuco e do Brasil. Hoje, somente o Das Pás possui baile próprio, que existe para arrecar fundos para que o Clube possa desfilar no Carnaval", aponta Álvaro, que planeja lançar um livro sobre a história do grêmio ainda este ano. "A população precisa conhecer a fundo a história do Clube", defende.

Elias Silva e Sônia Paiva se conheceram na pista de dança do clube, há sete anos - Crédito: Ed Machado/Folha de Pernambuco


Carinho especial

Entre valsas e boleros, é inevitável que histórias de amor surjam nas noites do Clube das Pás. Sônia Paiva e Elias Silva , de 60 e 58 anos respectivamente, estão entre os inúmeros casais que se conheceram na agremiação. "Estamos juntos há sete anos, e temos essa relação especial com o Clube", fala Sônia, relembrando o dia em que conheceu Elias.

"Tinha acabado de sair de um relacionamento. Uma amiga, querendo me animar, me convidou para vir ao Clube das Pás. Entre troca de olhares, ele me tirou para dançar e aqui estamos", brinca. Elias ressalta a qualidade dos shows oferecidos pela casa. "Aqui tem música para todos os gostos e idades, e seguimos apaixonados pelo Clube", declara.