Sem vergonha de sua ‘estupidez’

Fernanda Torres desbrava livros e faz esquetes cômicos em seu novo programa

Deputado estadual Álvaro Porto, do PTB - Jarbas Araújo/Alepe

 

A estante de madeira que Fernanda Torres herdou de seu avô tem duas medidas. A primeira, mais precisa, dá conta de muito do que a atriz e escritora já leu na vida. A segunda, mais abstrata, ela calcula como sendo o tamanho de sua “estupidez” - isto é, os livros que ainda não chegaram até ali.
Assim, diante de sua biblioteca pessoal e com a obra “Viva o Povo Brasileiro” nas mãos, ela começa a gravação do primeiro dos cinco episódios de “Minha Estupidez” - que o GNT exibe de hoje a sexta, sempre às 23h. O clássico de João Ubaldo Ribeiro era daquelas obras que, quando lhe pediam uma opinião, Fernanda escapava com um elogio vago, tentando disfarçar que nunca o lera. 

Quando o leu, procurou o escritor para contar a boa nova. O encontro virou mote de um episódio piloto em 2008, que nunca foi ao ar. Chega só agora, dois anos depois da morte de João Ubaldo. No programa, ela mistura entrevistas sobre assuntos que não domina com esquetes cômicos - sempre inspirados por livros.

Acessível
“Quando olho o Ubaldo, reconheço nele um Brasil que me orgulha, que me interessa. A gente carece de se identificar com pessoas como ele, como as que tentei entrevistar”, diz a atriz. Fernanda foi ouvir a ministra Carmen Lúcia, presidente do Supremo Tribunal Federal, sobre ódio. A antropóloga Manuela Carneiro da Cunha sobre a ancestralidade e o genocídio indígena. E Caetano Veloso a respeito de “Tristes Trópicos”, de Claude Lévi-Strauss - pensador citado pelo baiano na canção “O Estrangeiro”, de 1989.
Também busca o ambientalista Antonio Nobre para aprender sobre aquecimento climático. E inclui na conversa esquetes sobre o desmatamento da Amazônia inspiradas em trechos da peça “Um Inimigo do Povo”, do norueguês Henrik Ibsen. “Quis mostrar como é acessível um livro que você pode achar inacessível. Ouvia Claude Lévi-Strauss e achava que não era para mim.”

Angústia
Enquanto o processo de impeachment de Dilma seguia em Brasília, Fernanda diz ter paralisado: “Não conseguia escrever. Não conseguia ler. Parecia que minha vida era pautada pelo que fosse decidido em Brasília, Parecia que não tinha sentido”. Em meio ao tempo “desesperador” em que o impeachment era assunto único, eis que Fernanda ouviu de uma amiga: melhor “lidar com o micro, já que o macro não está funcionando”.

Um pouco como “Minha Estupidez”, que “lida com o micro, com as pequenas conexões que refazem nossa identificação”. E a vida “naturalmente andou”. Finalizou a série e, em 2017, estará na série “Filhos da Pátria” (Globo), de Bruno Mazzeo, sobre o início da corrupção no Brasil.”A questão agora é: acho que em 2018 vai votar o Flá-Flu. Mas não consigo ver o Botafogo, o Palmeiras, não sei quem vai vir. Se vai vir.”