Fronteiras da arte urbana são debatidas no Bairro do Recife

Dicussão sobre liberdade de criação e patrimônio ocorre na sede do INCITI. Curadora e crítica de arte Cristiana Tejo alerta para a criminalização imposta a intervenções artísticas

Cristiana Tejo, curadora e crítica de arte - Rafael Furtado/Folha de Pernambuco

Como preservar sem criminalizar a arte? Nesta terça-feira (19), às 19h, o INCITI - Pesquisa e Inovação para as Cidades (rede de pesquisadores da Universidade Federal de Pernambuco-UFPE com o objetivo de incitar, junto a diversos setores da sociedade, novos conhecimentos capazes de transformar a vida nas cidades) vai abrigar mais uma edição do projeto "Provocações Urbanas".

Desta vez, o fio condutor da conversa é o grafite e também a pichação, que recentemente foram alvos de uma operação da Polícia Federal (a "Grapixo", que prendeu oito suspeitos de picharem o Sítio Histórico de Olinda. Segundo a nota oficial da PF, a operação teve o objetivo de neutralizar um "grupo criminoso" de pichadores que "atua na deterioração de bens protegidos por lei ou ato administrativo no Sítio Histórico da cidade de Olinda", que é um patrimônio tombado pelo Iphan em 1968). A roda de conversa será aberta ao público e vai acontecer na sede do INCITI/UFPE, no Bairro do Recife.

Na mesa, vão estar presentes o grafiteiro e articulador social Stilo Santos, membro do Coletivo Pão e Tinta (da Comunidade do Bode); a curadora independente e crítica de arte Cristiana Tejo; o chefe do escritório técnico do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em Olinda, Fernando Augusto Lima; a grafiteira e historiadora Rebecca França (membro da Coletiva das Vadias); e os pesquisadores do INCITI, Alex Oliveira, Renata Paes, Lenne Ferreira e Natan Nigro, que também é integrante da Sociedade Olindense de Defesa da Cidade Alta (Sodeca).

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"A ideia surgiu de uma longa discussão acerca das relações entre o grafite, o pixo e a cidade", conta Natan Nigro, que é arquiteto, urbanista e já teve amigos presos na adolescência, por conta de pichação. "As pessoas não param para escutar os jovens e suas motivações. O pixo é um grito por acesso aos espaços públicos das cidades, aos serviços públicos de forma geral. O Recife é uma cidade segregada, então, é preciso tentar perceber que ímpeto é esse, de onde vem essa energia", afirma ele, frisando que a ideia do debate é olhar para os dois lados, já que a educação patrimonial é algo imprescindível, ainda mais em se tratando de monumentos históricos. 

Natan Nigro, arquiteto - Crédito: INCITI/Divulgação

Para Cristiana Tejo, é essencial que esta discussão seja feita, ainda mais pelo fato de que o Brasil passa por um momento histórico de extrema repressão à arte e à liberdade. "Está havendo uma criminalização enorme dos movimentos artísticos e dos artistas em si", alerta, citando o cancelamento da exposição "Queermuseu", no Espaço Santander, em Porto Alegre, e da censura à performance envolvendo um homem nu, no Museu de Arte Moderna de São Paulo, ambas realizadas em setembro do ano passado.

   MAC de Olinda fechado

"Há cerca de dez anos, um grupo de jovens tentou ocupar o prédio central da Bienal de São Paulo para se expressar através de uma pichação coletiva, e uma jovem acabou presa por três meses. Muitos artistas lamentaram o fato, achando que isso devia ter sido tratado de forma estética, de expressão de um discurso, e não criminal. Mas o fato é que as leis brasileiras criminalizam o pixo e regulamentam o grafite, limitando sua possibilidade de execução", relembra. E alfineta: "Para mim, é uma agressão maior ter o Museu de Arte Contemporânea de Olinda estar fechado há um ano, do que ver seu muro sendo pichado".

Serviço:
Provocações Urbanas: Como preservar sem criminalizar a arte?
Nesta terça-feira (19/06), às 19h
Sede do INCITI/UFPE (rua do Bom Jesus, 191, Bairro do Recife)
Entrada gratuita
Informações: (81) 3037-6689