Desabamento na sacristia da Madre de Deus alerta para conservação dos patrimônios

Queda do teto da quase quadricentenária e tombada Igreja Madre de Deus aconteceu um dia antes da abertura da XI Semana do Patrimônio Cultural de Pernambuco

Entre as suspeitas para o motivo da queda do teto estão a ação de cupins, infiltração e oxidação dos pregos que prendem as talhas de madeira de lei, segundo o padre Rinaldo Pereira - Rafael Furtado/Folha de Pernambuco

Parte de um elemento decorativo do forro da sacristia da quase quadricentenária e tombada Igreja Madre de Deus, localizada no Bairro do Recife, na área central da Capital pernambucana, veio ao chão no último domingo (12). O desabamento ocorreu por volta das 9h, de acordo com o pároco da igreja, o padre Rinaldo Pereira. Como não havia ninguém no local no horário, não houve feridos. O espaço foi interditado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), por alguns vistoriadores e pelo padre. Roupas e objetos litúrgicos guardados na dependência foram transferidos para um espaço ao lado da secretaria.

A queda do teto da Madre de Deus aconteceu um dia antes da abertura da XI Semana do Patrimônio Cultural de Pernambuco, um evento promovido pela Secretaria de Cultura de Pernambuco e pela Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe). O tema desta edição é debater perspectivas e desafios para os patrimônios do Estado.

O padre Rinaldo faz um alerta para a conservação desses bens. “A Igreja sozinha não pode e, por isso, precisamos nos unir para preservar o patrimônio, que é da cidade, do Estado e do País. Se não somarmos forças para conservar, vamos continuar com essa realidade”.

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Entre as suspeitas para o motivo da queda do teto estão a ação de cupins, infiltração e oxidação dos pregos que prendem as talhas de madeira de lei, segundo o sacerdote. “No início deste ano, vimos que caíram uns pedaços do teto da sacristia e apresentamos um projeto ao Funcultura [Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura] para a conservação”, explicou o padre Rinaldo. A proposta de restauro foi submetida ao edital do Funcultura no início do ano, antes do desabamento.

“Essa parte que caiu obviamente onera os custos do projeto. O valor inicial era de R$ 80 mil, mas, depois desse desabamento e com a exigência do escoramento deve aumentar no mínimo uns 50%”, acrescentou o sacerdote.

O escoramento emergencial da estrutura será realizado com andaimes, segundo a restauradora da empresa Quadro Restauros Simone Andrade, responsável pelo projeto. “Vamos montar essas estruturas de madeira para fazer a contenção em pontos que serão identificados como pontos de apoio e resistência e que não comprometam o forro”, detalhou Simone.

Ao longo da semana, a sacristia passou por vistorias e laudos foram emitidos para atestar a necessidade de reparos no local. Para arcar com os custos desta obra, afirma o padre Rinaldo, será feito um trabalho em conjunto. “A igreja é tombada, logo, a responsabilidade é nossa, é da sociedade como um todo, quer seja civil ou religiosa. Por isso vamos buscar somar forças para resolver. A igreja [Madre de Deus] não se mantém com o que arrecada com o dia a dia, sempre estamos fazendo campanhas em prol dessa manutenção”, completou.

Igreja Madre de Deus, localizada no Bairro do Recife - Foto: Rafael Furtado/Folha de Pernambuco

 

   Restauro

As talhas do forro deverão passar por um processo de salvaguarda com a desinfestação e prevenção contra ação de insetos. Antes, as peças serão vistoriadas para identificar a quais processos precisarão ser submetidos. “A queda do elemento decorativo indica uma instabilidade em todo o conjunto, que requer atenção. Estamos estudando e vamos decidir o tempo da obra de acordo com o nível de intervenção, mas não será nada inferior a seis meses”, finalizou Simone Andrade.

Um dos trabalhos de manutenção e conservação desenvolvidos pelo padre Rinaldo na Madre de Deus é o do restauro do telhado. “Estamos bem adiantados na reforma do telhado, que já dura uns dois anos após muito tempo sem manutenção. Falta uma parte de calha e chumbamento. Já nos dá um certo conforto. O cobre da cúpula também foi todo refeito, mas tem uns vitrais que precisamos tirar ainda”, explicou o padre.

Nas torres da igreja, apenas dois dos seis sinos funcionam. Os demais foram danificados por efeitos do tempo e da maresia. Apesar dos danos na sacristia, a programação de missas, batizados e casamentos segue normal na Madre de Deus.

Sinos da igreja estão desativados por ação da maresia e do tempo - Foto: Rafael Furtado/Folha de Pernambuco