Juliana Notari realiza videoperformance sobre violência, fertilidade e feminilidade

'Amuamas' é a terceira parte da série Ciclo Amazônico, e se estrutura a partir de intervenções realizadas nas samaúmas, árvores sagradas da floresta

Juliana Notari abriu brechas nas raízes das sumaúmas amazônicas - Divulgação

A artista pernambucana Juliana Notari lança, nesta sexta-feira (19), o vídeo "Amuamas", que constitui a terceira obra da série "Ciclo Amazônico". A videoperformance teve patrocínio do Itaú Cultural (Programa Rumos) e do Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura (Funcultura). "É um trabalho agressivo e superfeminino", descreve Juliana. 

Vestida de enfermeira e usando martelo e escopo, ela abriu "feridas" semelhantes a vaginas nas raízes de várias samaúmas, introduzindo espéculos ginecológicos e regando a ferida com seu próprio sangue menstrual. Na sequência, ela realizou "curativos" nos buracos, utilizando preparados cicatrizantes de ervas. Em uma das árvores, Juliana encapsulou um terço antigo, herança familiar que pertenceu a uma de suas bisavós.

Fendas remetem a vaginas. Na performance, Juliana utilizou espéculos vaginais e sangue menstrual - Crédito: Divulgação

A samaúma, ou sumaúma, tem grande importância espiritual entre os nativos da região amazônica. Antes de realizar a intervenção artística, Juliana se certificou de que a ação não prejudicaria as plantas. "Cheguei até a consultar um xamã para saber se haveria outro tipo de dano às árvores", relembra. A bordo de uma "voadeira" (barco pequeno e ligeiro utilizado na região), ela vasculhou o igarapé Piriquitaquara, na ilha Combu, em busca das samaúmas centenárias.

A ligação de Juliana com Belém do Pará começou em 2013 e se intensificou após ela passar por uma residência artística de seis meses na região, no ano seguinte. "Convivi com muitas pessoas. A cena cultural de Belém é de muita garra e energia. Lembra muito o Recife dos anos 1990", pontua. Após criar as performances "Mimoso" e "Soledad", onde a morte é vista a partir de uma perspectiva holística que a inscreve como ciclo de reafirmação da vida, "Amuamas" vem falar de pulsão de vida, mostrando um universo pleno de fecundidade, violência e crueza.

"O processo todo é, de certa forma, um ritual. Em certos momentos, lembra um estupro", aponta. A gigantesca árvore não foi escolhida por acaso. Ela tem raízes profundas e, durante a lua cheia, é possível escutar o barulho da água que corre dentro de seu tronco. Conhecida como "mãe da floresta", ela simboliza a imortalidade e o sagrado feminino, e os nativos acreditam que sua casca tem o poder de fazer as mulheres engravidarem.

Serviço:
Lançamento da videoperformance "Amuamas" e bate-papo com a artista Juliana Notari
Onde: Museu de Arte Moderna Aloisio Magalhães (Mamam - rua da Aurora, 265, Boa Vista)
Nesta sexta-feira (19), às 19h
Entrada gratuita