Acervo de obras de arte de Abelardo da Hora é doado à Paraíba

Peças serão abrigadas em memorial no bairro de Tambaú, na cidade de João Pessoa. A família se pronunciou através de carta pública. Já o Governo de Pernambuco enviou nota oficial sobre o assunto

Abelardo da Hora, artista plástico - Marina Mahmood/Arquivo Folha de Pernambuco

Será na praia de Tambaú, um dos cartões-postais da capital João Pessoa, que o Estado da Paraíba abrigará o acervo de obras do artista plástico pernambucano Abelardo da Hora - no Espaço Cultural José Lins do Rêgo. Ele, que faleceu em 2014, aos 90 anos, deixou um legado de centenas de peças, entre esculturas, gravuras, pinturas e desenhos. O governador da Paraíba, Ricardo Coutinho, veio ao Recife para assinar o Termo de Doação das Obras junto à família do artista, no dia 30 de outubro. Segundo o portal G1, o acervo está avaliado em R$ 11 milhões.

Leia também:
Exposição sobre letreiros artesanais é inaugurada no Museu do Homem do Nordeste
Exposição no Paço Alfândega oferece 'passeio astronômico'
Raimundo Carrero ganha megaexposição comemorativa de seus 70 anos


Sobre as negociações com o Governo de Pernambuco, que chegou a oferecer o espaço da nova etapa do museu Cais do Sertão, no Bairro do Recife, para abrigar as criações de Abelardo, a família preferiu se pronunciar através de uma carta pública, num documento que batizou como "Abelardo de todas as horas e de todo o Brasil" e que pode ser lido abaixo. Os familiares do artista mantêm, na rua do Sossego, na Boa Vista, um instituto que leva seu nome e é aberto ao público mediante agendamento prévio. Já o Governo do Estado também se manifestou através de nota oficial sobre o assunto.

"Abelardo de todas as horas e de todo o Brasil"

Família de Abelardo da Hora

Buscando esclarecer os pernambucanos sobre as notícias da transferência do acervo artístico do escultor Abelardo da Hora para um museu memorial em João Pessoa (Paraíba), a família do artista presta a todos as seguintes informações:

Desde a morte de Abelardo da Hora, a família vem tentando uma solução para abrigar, manter, preservar e divulgar a obra e a memória do artista, cujo acervo não pode continuar acondicionado na antiga residência, com um custo que não pode ser bancado pela família;

A família teve propostas nacionais e internacionais (incluindo Portugal, Itália, Romênia e Emirados Árabes Unidos) para a recepção de acervo, através de doação;

Também houve propostas nacionais e internacionais para a compra de parte do acervo, desmembrando-o, o que nunca foi aceito pela família;

Enquanto esperava uma proposta do Estado de Pernambuco desde 2014, a família recebeu do governo da Paraíba a proposta de abrigar, manter, preservar e divulgar a obra e a memória do artista em um museu / memorial exclusivo e montado especialmente para este fim, em espaço de um antigo centro de convenções na cidade de João Pessoa;

Mesmo sem receber uma resposta positiva da família, representada pelos herdeiros do artista, o governo da Paraíba deu início a construção do Memorial Abelardo da Hora, finalizando-o e convidando a família a visitar o referido espaço;

A família constatou que o espaço do Memorial Abelardo da Hora adequava-se a todas as expectativas desejadas, configurando-se como um espaço de qualidade internacional, à altura do homem, da obra e do legado de Abelardo da Hora;

Vale salientar que o artista possui obras nos mais importantes museus brasileiros e em diversos museus internacionais;

Antes de confirmar a doação do acervo do artista à Paraíba, a família mais uma vez ofereceu ao estado de Pernambuco a possibilidade de ficar com o referido acervo, desde que oferecesse as mesmas condições apresentadas pelo vizinho estado para abrigar, manter, preservar e divulgar a obra e a memória de Abelardo da Hora. Todo o projeto do espaço Memorial foi explicado, para o conhecimento do governo de Pernambuco;

Infelizmente, o governo pernambucano não pôde oferecer as mesmas e definitivas condições postas pelo governo paraibano; diante desta situação, não restou à família de Abelardo da Hora nada além de doar o acervo do artista ao estado vizinho, inclusive porque a permanência do referido acervo na sua antiga residência, além de altamente dispendiosa para a família, incorria em grande risco de deterioração;

A doação mantém viva a fraternidade entre os dois estados – irmãos culturais – pois, da mesma maneira que Pernambuco abriga, mantém, preserva e divulga a obra e a memória do paraibano Ariano Suassuna, a Paraíba abrigará, manterá, preservará e divulgará a obra e a memória do pernambucano Abelardo da Hora. Não há, portanto, nenhum prejuízo para a cultura de nenhum dos dois estados, nem para a cultura nordestina, nem para a cultura brasileira, pois o acervo de Abelardo da Hora permanecerá íntegro, como patrimônio de todos;

De resto, a família dispõe de toda a documentação que comprova e embasa o que foi dito acima, incluindo os documentos enviados ao governo de Pernambuco e as respostas por ele apresentadas.

Abelardo se doou completamente ao estado de Pernambuco, como homem, como ativista político e como artista. Foi mentor e inspirador de grande parte da geração de artistas pernambucanos do século XX; inclusive lecionando de graça, em inúmeros esforços de formação e educação artísticas, como o Atelier Coletivo – mais importante núcleo deste legado. Por fim, transformou o Recife em uma galeria de arte a céu aberto, incentivando o poder público a criar lei específica sobre a colocação de obras de arte nas edificações da cidade.

Assim, a família de Abelardo da Hora, ensejada a já mencionada escolha pelos herdeiros da doação ao estado da Paraíba, dá por encerrado o assunto e desautoriza qualquer outra versão dos fatos que não está aqui exposta.

   Leia abaixo a nota oficial do Governo do Estado de Pernambuco (Secult-PE/ Fundarpe):

 

 

Por meio da Secult-PE e da Fundarpe, o Governo de Pernambuco informa que foi feita uma proposta ao Instituto Abelardo da Hora para que o acervo do artista permanecesse no Estado. O documento foi assinado por Manuela Marinho, Secretária de Turismo, Esporte e Lazer de Pernambuco (em exercício); Márcia Souto, Presidente da Fundarpe; Ricardo Leitão, Presidente da Cepe; e Evaldo Costa, Secretário de Comunicação Governamental.

Sempre foi muito claro para o Governo de Pernambuco que o Recife é o melhor lugar para ser mantido o acervo artístico e documental do escultor pernambucano. Razões para isso são inúmeras, bastando citar ter sido toda a sua obra criada nesta cidade, inspirada pela cultura pernambucana. Trabalho de um homem apaixonado e comprometido com a criatividade e a luta do povo.

Esta convicção era tão clara que, depois de diversas reuniões com representantes da família de Abelardo, o Governo do Estado entregou documento, na sede do Instituto, formalizando a solicitação da cessão do referido acervo. Afirmou já dispor de local próprio para a guarda, conservação e exposição das obras de arte e demais documentos, no caso a nova ala do Museu Cais do Sertão.

Em razão do exposto, o Governo de Pernambuco manifesta sua surpresa e incredulidade por ter tomado conhecimento, de modo casual, que os herdeiros de Abelardo da Hora decidiram transferir o acervo para a Paraíba, sem dar sequer uma resposta à proposta formalmente apresentada pelo Governo de Pernambuco.

SECULT E FUNDARPE