'Canibais de Garanhuns' são condenados

Julgamento durou dois dias e condenou Jorge Beltrão Negromonte, Bruna Cristina Oliveira da Silva e Isabel Cristina Pires da Silveira pelo assassinato de duas mulheres em 2012

Chegada de Isabel Cristina ao julgamento do caso dos ''canibais de Garanhuns" - Kleyvson Santos/Folha de Pernambuco

Após dois dias de julgamento dos “canibais de Garanhuns”, foram anunciadas as sentenças dos três acusados pelas mortes de Giselly Helena da Silva e Alexandra da Silva Falcão, neste sábado (15), no Fórum Rodolfo Aureliano, em Joana Bezerra. Por decisão do júri popular, Jorge Beltrão Negromonte da Silveira foi condenado a 71 anos de reclusão. Bruna Cristina Oliveira da Silva vai  cumprir 68 anos de reclusão e Isabel Cristina Pires da Silveira condenada a 71 anos e 10 meses de prisão.

O julgamento teve início às 9h e a sentença começou a ser lida pelo juiz Ernesto Bezerra, às 22h40. Durante o período da manhã foram realizadas as apresentações da defesa e, à tarde, a acusação se posicionou. O advogado de defesa de Jorge, Giovanni Martinovich, contestou o laudo psiquiátrico anterior. Ele defendeu que seu cliente fosse internado em um hospital de custódia ou de tratamento psiquiátrico, por causa do risco de possíveis saídas da prisão em feriados, ou finais de semana após um tempo preso.

O advogado de Isabel, Ércio Quaresma, trabalhou as teses de que a mulher era manipulada pelo esposo e não estava presente no momento do crime. Já o advogado de Bruna, Rômulo Lyra leu trechos do diário de Jorge para contestar o discurso em que ele culpa Bruna por planejar e obrigar a participação de todos nos assassinatos. O julgamento teve início na sexta-feira (14), mas foi suspenso devido ao horário, após o interrogatório dos três acusados e as considerações da defesa e da acusação.

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Entenda o caso

Os três acusados viviam em uma relação poliafetiva: Jorge Beltrão Negromonte da Silveira era casado com Isabel Cristina Pires da Silveira e Bruna Cristina Oliveira da Silva também teria um envolvimento com Jorge. Eles ficaram conhecidos nacionalmente como “canibais de Garanhuns” por matarem, esquartejarem e comerem a carne dos corpos de, pelo menos, três mulheres. Os crimes foram descobertos em abril de 2012, graças às investigações sobre o desaparecimento de uma das vítimas: Giselly Helena da Silva, de 31 anos.

Dias após o assassinato, em Garanhuns, Agreste de Pernambuco, os réus utilizaram documentos e cartões de crédito da vítima para a realização de compras no comércio local. Foi isso o que levou a polícia até a casa onde os três moravam. No quintal, foram encontrados enterrados os corpos de Giselly e de Alexandra da Silva Falcão, morta aos 20 anos.

De acordo com o inquérito, as mortes das duas ocorreram num intervalo de poucos dias. Em 25 de fevereiro, Giselly foi atraída por Isabel para conversar sobre a “palavra de Deus” em sua residência. Após conversar com Bruna, ela foi atingida por Jorge com uma faca peixeira, arrastada para o banheiro e esquartejada. Já Alexandra morreu no dia 12 de março. Ela teria sido chamada por Bruna para trabalhar como babá de uma criança, apresentada como filho dela. Chegando lá, foi assassinada da mesma maneira que a vítima anterior.

Já preso, o trio de canibais relatou à polícia que integravam uma seita chamada Cartel. Seu objetivo seria “purificar o mundo” através do controle populacional, matando mulheres. O consumo da carne das vítimas fazia parte de um ritual. A carne também era utilizada no preparo de salgados, como coxinha e empadas, que eram vendidos em diversos locais de Garanhuns.

Com a descoberta das duas mortes, veio à tona um terceiro assassinato: o de Jéssica Camila da Silva Pereira, realizado quatro anos antes. A primeira vítima tinha apenas 17 anos quando conheceu o trio. Atraída para trabalhar como doméstica, viveu durante três meses com seus assassinos no bairro de Rio Doce, em Olinda, onde seus restos mortais foram encontrados. A filha da vítima, ainda pequena, passou a ser criada por Jorge e Isabel.

Depois da prisão, a casa onde os suspeitos residiam em Garanhuns foi incendiada por vizinhos indignados. Apesar de muitas provas do crime terem sido destruídas, a polícia conseguiu resgatar um diário onde Jorge relatava seus rituais, além de filmes de terror caseiros produzidos por ele e a esposa.

Pela violência cometida contra Jéssica, Jorge foi condenado a 23 anos de reclusão e Isabel e Bruna, a 20 anos, cada uma, em uma decisão do júri popular no ano de 2014. Marcado inicialmente para o dia 23 de novembro deste ano, o julgamento relacionado às demais vítimas foi adiado quando o advogado de Jorge não compareceu ao tribunal.