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Série documental evidencia abusos de Armie Hammer e histórico da família

"House of Hammer", disponível na Discovery+, traz relatos de vítimas, familiares e conhecidos

Ator Armie Hammer está envolvido em uma série de acusações entre abusos e canibalismo - Divulgação

Em 2021, conversas privadas do ator americano Armie Hammer (Me Chame Pelo Seu Nome) no Instagram se tornaram públicas. Para quem acompanhou o caso na época, a mensagem que mais impressionou talvez tenha sido a que o astro afirma ser canibal. "Eu quero comer você", diz uma das mensagens direcionadas a uma vítima. O documentário "House of Hammer", disponível na Discovery+, traz relatos de vítimas, familiares e conhecidos, além de investigar os comportamentos abusivos do ator e o passado sombrio de sua família. 

Ao longo dos três episódios de aproximadamente uma hora de duração, o documentário detalha os abusos cometidos pelo ator de "Me Chame Pelo Seu Nome" (2017) através de relatos de algumas vítimas. Uma mulher chamada Effie, por exemplo, afirmou em vídeo nas redes sociais que foi estuprada durante quatro horas por Hammer, que a deixou gravemente ferida após bater com sua cabeça na parede

Outras duas mulheres detalham o modus operandi que ele utilizou com ambas, fazendo a mesma viagem para o mesmo hotel, apresentando à mãe e, em outras ocasiões, falando que gosta de praticar BDSM (um conjunto de práticas sexuais e consensuais envolvendo bondage e disciplina, dominação e submissão), apenas como desculpa para conseguir amarrá-las e submetê-las ao que ele quisesse. 

BDSM e o estigma dos fetiches

A prática de BDSM (Bondage, Disciplina, Dominação, Submissão, Sadismo e Masoquismo) sempre foi vista com preconceito. O conceito de dominação e submissão está quase sempre relacionado ao sórdido, pejorativo. Por ainda ser tabu, é comum que muitos não saibam do que se trata ou que só tenham ouvido falar quando foi retratado na franquia de "50 Tons de Cinza", onde o protagonista mantém uma relação sexual consensual que envolve um disciplinar (ou submeter) o outro. 

Por não ser amplamente divulgado, no documentário vemos que Armie usa a falta de informação ao seu favor, sem estipular limites, para que pudesse ultrapassá-los e conseguir imobilizar suas vítimas. Isso foge do conceito da prática de BDSM.

Segundo o documentário, o lema da prática de BDSM é “seguro, sensato e consensual”, mas Armie coage, manipula e agride. Certa vez, o ator "desenhou" a inicial de seu nome na pele de uma mulher, com faca. 

Abusos para além das mulheres

Um funcionário também relata que foi humilhado diversas vezes por Armie Hammer. Vindo de uma sequência de filmes que não fizeram tanto sucesso, foi com "Me Chame Pelo Seu Nome" que o ator se popularizou. No longa, Armie vive Oliver, um acadêmico que vai passar uns dias hospedado na casa de um amigo e acaba se apaixonando pelo filho do colega, Elio, interpretado por Thimothée Chalamet. 

Fora dos telões, no entanto, Armie obrigou um funcionário a ir buscar um amigo no aeroporto e levantar uma placa de identificação com a palavra "bicha", julgando que a palavra seria ofensiva. 

Mas os problemas envolvendo a família Hammer não se concentram apenas em Armie. Cada geração aprendeu que dinheiro faz coisas sumirem e pessoas se calarem.

Crimes de família

Conhecido pela filantropia e pelo ramo industrial, Armand Hammer, bisavô de Armie, praticava abusos no segundo casamento, chegando a bater na esposa com um cano de ferro, além de rastrear todos os passos de sua amante. Com grande influência, o documentário mostra que o magnata se mostrava tão confiante que chegou a chantagear até Presidentes dos Estados Unidos.

Julian Hammer, avô de Armie, tinha como hobby apontar armas para as pessoas quando contrariado. Foi preso por agressão com arma de fogo quando achou que sua mulher estava o traindo (spoiler, não estava). Também mandava sua filha Casey (que também depõe no documentário) segurar um alvo de tiro, além de abusar sexualmente da menina. Julian chegou a ser preso, mas saiu sob fiança.

O pai de Armie, Michael, também era considerado um irresponsável. Entre comportamentos questionáveis, ele e sua esposa saquearam a mansão de Armand após sua morte. O testamento também constava uma alteração apenas quatro meses antes da morte de Armand, onde deixava a maioria dos bens para Michael. 

O que acontece com Armie agora?

Diante de movimentos como o #MeToo e #TimesUp, Armie vem perdendo cada vez mais papéis no cinema. Além de ser retirado dos projetos que já estavam em andamento, também foi dispensado pela agência que o representava, a WME

O ideal é que ele seja julgado pelos crimes que cometeu, mas como o documentário informa no fim dos episódios, nenhuma acusação criminal foi feita até esse momento

*Fernando Martins é jornalista, escritor e grande entusiasta de produções televisivas. Criador do Uma Série de Coisas, escreve semanalmente neste espaço. Instagram: @umaseriedecoisas.

*A Folha de Pernambuco não se responsabiliza pelo conteúdo das colunas.

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