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Boate Kiss

Alvará vencido não impedia boate Kiss de funcionar, diz ex-chefe dos bombeiros

A boate Kiss pegou fogo em janeiro de 2013, matando 242 pessoas, a maioria jovens universitários

Segunda Turma do STJ entendeu que pagamento depende da fase de liquidação da sentença contra os donos da Boate KissSegunda Turma do STJ entendeu que pagamento depende da fase de liquidação da sentença contra os donos da Boate Kiss - Foto: Arquivo/Wilson Dias/Agência Brasil

Chefe do Estado Maior dos bombeiros no município de Santa Maria (RS) em 2013, o coronel Gerson da Rosa Pereira afirmou nesta terça-feira que o alvará da boate Kiss estava vencido desde agosto de 2012, mas que isso não impedia o funcionamento da casa. A boate Kiss pegou fogo em janeiro de 2013, matando 242 pessoas, a maioria jovens universitários.  

-- Na época, não impedia de continuar operando. Tinha que entrar no Corpo de Bombeiros com pedido de renovação e os bombeiros iam para fazer a vistoria para ver se o projeto com a obra construída e projetada correspondiam um com outro e treinamento de pessoal. Mas nada obstruía que continuasse com as atividades -- disse Pereira.

Segundo ele, os bombeiros aplicaram o que era norma na época e, depois da tragédia, houve diversas alterações na lei para aumentar a segurança.  Afirmou que não era atribuição dos bombeiros fiscalizar revestimentos usados nas paredes, como a espuma.  

O coronel afirmou que, quando chegou no local de incêndio, constatou que já não havia mais possibilidade de encontrar pessoas com vida, e que as mortes não foram provocadas pelo fogo, mas pela inalação de gás tóxico.  

- Foi da inalação do gás emitido por aquela espuma que incendiou no dia, parece que composta de cianeto. Um gás letal conhecido historicamente, empregado nos campos de concentração, no período nazista - explicou. 

Um laudo emitido pelo Instituto-Geral de Perícias (IGP), em março de 2013, mostrou que as mortes foram causadas por asfixia provocada pela inalação dos gases tóxicos cianeto e monóxido de carbono.  

Pereira foi o primeiro réu a ser julgado pelo incêndio da boate Kiss. Foi condenado em 2015 a seis meses de prisão por fraude processual, acusado de ter acrescentado documentos ao plano de prevenção de incêndio da boate, que era precário, depois da tragédia. Mais tarde a punição foi extinta, por prescrição de prazos processuais.  Ele foi ouvido como testemunha de um dos sócios da boate, Elissandro Spohr, conhecido como Kiko.  

Nesta terça-feira, foi a terceira pessoa a prestar depoimento nesta terça-feira, sétimo dia de depoimentos do júri do caso Boate Kiss, em Porto Alegre.  

O técnico de som da banda que tocava na noite do incêndio, Venâncio da Silva Anschau, afirmou ter desativado o áudio do palco no momento em que o fogo começou.

 O julgamento é feito quase dez anos após a tragédia. Quatro são os réus do caso: Elissandro Spohr e Mauro Hoffmann, ex-sócios da casa, Marcelo dos Santos, músico da banda Gurizada Fandangueira, e Luciano Bonilha, produtor musical e auxiliar de palco da banda. 

Anschau declarou na audiência que não sabia o que estava acontecendo quando desligou o som. Segundo ele, os integrantes da banda gritaram para o público se afastar após o início do fogo. 

— Eu não tenho dimensão, não imagino o que esteja do que aconteceu e eu desligo os microfones. Eu desabilitei. Errei — afirmou. 

A segunda ouvida nesta terça-feira, na condição de informante, a arquiteta Nídia Braido disse que alertou Spohr sobre o risco de não haver responsável técnico numa obra na boate, antes da tragédia. 

Nídia foi consultada pelo proprietário do estabelecimento sobre a instalação de um papel de parede na boate, em razão de reclamações acerca do barulho dos shows. Ela afirmou que se ofereceu para assumir a responsabilidade do projeto, mas que Spohr teria dito que antes precisaria conversar com o sócio sobre o orçamento. 

— Me surpreendi com o tamanho da obra. Era uma obra grande. Foi construída uma parede de pedras, mudado o palco de lugar. Alertei-o sobre o risco de não ter um responsável técnico — disse ela. 

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