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CASO MARIELLE

Começa no Rio julgamento-chave do assassinato de Marielle Franco

Em 14 de março de 2018, a eleita vereadora no Rio de Janeiro, foi morta a tiros dentro de seu carro, aos 38 anos, juntamente com Anderson Gomes

Pessoas participam de protesto em frente ao Tribunal de Justiça, onde os assassinos da vereadora Marielle Franco enfrentarão seu primeiro dia de julgamento em tribunal públicoPessoas participam de protesto em frente ao Tribunal de Justiça, onde os assassinos da vereadora Marielle Franco enfrentarão seu primeiro dia de julgamento em tribunal público - Foto: Mauro Pimentel / AFP

Quase sete anos depois do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ) e de seu motorista, Anderson Gomes, dois réus confessos do duplo homicídio, os ex-policiais militares Ronnie Lessa e Élcio Queiroz, começaram a ser julgados por júri popular no Rio de Janeiro nesta quarta-feira (30).

"O júri de hoje é o primeiro passo pra essa justiça, porque a gente não pode normalizar que nenhuma vida seja ceifada da forma que tiraram eles da gente", declarou a filha de Marielle, Luyara, de 25 anos, durante uma emocionante manifestação para exigir "justiça" com cerca de 200 pessoas em frente ao 4º Tribunal do Júri, no Centro do Rio, antes do início do julgamento.

Em 14 de março de 2018, essa ativista carismática, eleita vereadora no Rio de Janeiro, foi morta a tiros dentro de seu carro, aos 38 anos, juntamente com Anderson Gomes.

O assassinato teve grande repercussão internacional. Rapidamente, as atenções se voltaram para o crime organizado e a possível participação das milícias, que se apropriam de terrenos públicos para explorar imóveis ilegalmente, entre outras práticas criminosas.

Nascida no Complexo da Maré, Marielle Franco militou durante muito tempo contra a violência policial e em favor dos moradores das favelas, em especial dos jovens negros, das mulheres e dos membros da comunidade LGBTQIAPN+. Também enfrentou a ação das milícias.

"Na esperança de que ainda estivesse viva"
A família da vereadora, incluindo sua irmã, Anielle, ministra da Igualdade Racial, foi recebida com aplausos em sua chegada ao tribunal por muitas pessoas que carregavam girassóis, constatou a AFP.

O Ministério Público pediu a pena máxima de 84 anos de prisão para os acusados, Lessa e Queiroz, ambos ex-integrantes da Polícia Militar do Rio.

Detidos em março de 2019, um ano depois do crime, eles vão participar do julgamento por videoconferência da prisão. Ambos foram apresentados no início da audiência pela juíza Lucia Glioche.

Lessa admitiu ter atirado com uma metralhadora em Marielle Franco de dentro de um veículo dirigido por Queiroz, que também confessou participação no crime.

Durante as audiências, os jurados deverão permanecer confinados nas instalações da corte, sem qualquer contato com o exterior, mesmo que o julgamento se estenda por vários dias.

Das nove testemunhas que devem ser ouvidas, a primeira foi a jornalista Fernanda Chaves, ex-assessora de Marielle, que estava no carro e sobreviveu.

Por videoconferência, ela relatou as circunstâncias do ataque. Disse que ouviu uma "rajada" de disparos e que se agachou, pensando que se tratasse de "um confronto de policiais e bandidos".

"Eu estava atrás do Anderson, ao lado da Marielle. Ela estava o tempo todo da viagem do meu lado direito, de onde vieram os tiros", contou Fernanda. Ela lembra que ouviu "um suspiro de dor" de Anderson.

Quando terminaram os disparos e ela conseguiu acionar o freio de mão, saiu do veículo, "muito ensaguentada [...] e com vidro grudado" em seu corpo, para pedir ajuda. "Olhei para Marielle lá dentro, na esperança de que ela ainda estivesse viva."

Anos sem resposta
Após o seu assassinato, Marielle Franco se tornou um ícone da esquerda e dos ativistas da causa negra no Brasil.

"O que aconteceu com ela foi de uma brutalidade tremenda. Foram anos sem respostas. Então acho que é muito importante conseguir essas respostas o mais rápido possível, para gente colocar essas pessoas na cadeia. Hoje é o dia", disse o estudante de Jornalismo Lucas Barbosa, de 27 anos, do lado de fora do tribunal.

O julgamento, no entanto, não atinge os supostos autores intelectuais do crime, o deputado federal Chiquinho Brazão (sem partido-RJ) e seu irmão, Domingos Brazão, conselheiro do Tribunal de Contas do Rio (TCE-RJ).

Presos em março, após terem sido citados em delação por Ronnie Lessa, os irmãos Brazão se apresentaram na semana passada para depor no Supremo Tribunal Federal (STF), assim como o ex-chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro Rivaldo Barbosa.

Os irmãos Brazão e Rivaldo Barbosa, acusado de obstruir a investigação após o assassinato, negaram envolvimento no crime. As investigações estão em curso.

Lessa teria matado Marielle Franco por ter se sentido "seduzido" pela oferta feita pelos irmãos Brazão em nome da milícia, de acordo com as investigações.

"O julgamento dos executores do crime é um passo importante [...] Porém, só haverá justiça, de fato, quando as autoridades brasileiras garantirem que todos os responsáveis pelo crime [...] sejam também levados à Justiça", manifestou a Anistia Internacional em comunicado.

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