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Paulista

Defesa Civil interdita novo bloco no Conjunto Beira-Mar; moradores relatam momentos de apreensão

Na sexta-feira, 7 de julho, parte do bloco D7 desabou, deixando 14 pessoas mortas

Dona Lourdes mora no Conjunto Beira Mar há quase 40 anosDona Lourdes mora no Conjunto Beira Mar há quase 40 anos - Foto: Arthur Mota/Folha de Pernambuco

A quarta-feira (12) foi de apreensão para os moradores dos prédios do bloco D do Conjunto Beira-Mar, no bairro do Janga, em Paulista, na Região Metropolitana do Recife. A Defesa Civil finalizou as vistorias do bloco D14, o último desta parte do conjunto residencial, e determinou a interdição do local.

Até a terça-feira (11), o órgão já havia vistoriado e interditado todos os outros blocos dessa área (D1 a D13). As fiscalizações ocorrem após parte do bloco D7 desabar na última sexta-feira (7), deixando 14 pessoas mortas.    

À reportagem, os moradores dos blocos recém-interditados informaram que a Defesa Civil orientou que eles deixem o local em até 15 ou 20 dias. A informação foi confirmada pela assessoria de comunicação do órgão municipal. 

Aos 73 anos, a pensionista Maria Severina de Melo, conhecida por todos do bairro como Dona Lourdes, se emociona ao tentar definir os rumos que a sua vida tomará a partir de agora. Ela é proprietária de um apartamento no segundo andar do bloco D14, interditado nesta manhã. 

“A Defesa Civil disse que a gente pode passar o dia, mas não é para dormir aqui. Faz 37 anos que eu moro aqui, vou sair com muita pena. Quando eu vim morar aqui, meus filhos eram pequenos, meu marido era vivo. Gosto muito daqui, é tudo muito difícil”, disse.

Morando no local há quase 40 anos, Dona Lourdes divide o apartamento com a filha Joseane, de 31 anos de idade. Uma das tristezas com a necessidade de mudar de residência, conta, é não ter mais o convívio diário com os vizinhos. “Graças a Deus todo mundo aqui é benquisto, todos os vizinhos. A gente está no maior sofrimento por causa disso também, da separação.” 

Com a ajuda da família, ela procura um novo apartamento, dessa vez para alugar. A previsão é de que o imóvel também seja localizado no bairro do Janga, próximo ao Conjunto Beira-Mar.  

A auxiliar de enfermagem Marta Pinheiro, de 54 anos, mora no bloco D14 há 16 anos. Ela, o marido, Manoel, de 62 anos, e a filha, Manoelle, de 16, também estão em busca de um novo local para morar.

“Está tudo muito difícil. A gente fica sem noção do que vai fazer, mas é assim, já que interditou, tem que sair. Estamos procurando casa, também de aluguel, e estamos em vista de ir para Maranguape”, disse. O momento, desabafa, é de muita dificuldade: “Aconteceu isso e a gente fica assim, é difícil demais”. 

A filha, Manoelle, também está apreensiva quanto aos próximos passos. “A gente vai ter que se mudar e se acostumar com pessoas que não conhecem, porque elas eram as únicas pessoas que eu conhecia aqui”, disse.

Desocupação
Após a interdição dos prédios do bloco D, muitos moradores iniciaram a desocupação do local. Outros, no entanto, ainda não sabem para onde vão se mudar. 

“A Defesa Civil deu de 10 a 15 dias para a gente sair, para algumas pessoas eles deram de 15 a 20. Desde o dia que aconteceu [o desabamento no bloco D7] que a gente está vendo a mudança e hoje a gente está levando mais coisas para a outra casa. É bem complicado porque de repente sua vida muda completamente”, comentou a guarda municipal Karina Lira, de 44 anos. Ela morava no bloco D3, interditado na terça, há 16 anos.

Sobrinho de um casal de idosos de 84 e 82 anos, Alexandre do Nascimento, de 54 anos, estava ajudando os tios, moradores do bloco D10, a fazerem a mudança. Eles ficarão na casa do sobrinho até irem para uma residência que pretendem alugar. 

“Eles estão bem abalados, não estão nem dormindo com medo do que aconteceu, com o prédio que caiu semana passada. Estão em estado de choque. Foram 30 anos morando aqui e hoje eles têm que sair na emergência”, disse.

De acordo com secretário das Regionais da Prefeitura do Paulista, César Júnior, cerca de 30 famílias efetuaram a mudança do Conjunto Beira-Mar com o apoio do caminhão disponibilizado pelo município. “Estamos dando suporte para eles se deslocarem para a casa de parentes ou para o abrigo da prefeitura”, disse. Os moradores podem solicitar o apoio do caminhão na Escola Paulo Freire, também no bairro do Janga.

O Ministério Público de Pernambuco (MPPE) apresentou uma solicitação para que a Defesa Civil de Paulista apresente uma relação dos imóveis interditados ou com risco de desabamento no município. “O Ministério Público de Pernambuco (MPPE) ressalta que está em momento de coleta das informações que foram solicitadas ao Município de Paulista com relação aos prédios interditados por causa de riscos estruturais”, comentou a instituição em nota.

“As providências decorrentes desse acompanhamento serão informadas ao longo da evolução do procedimento administrativo nº 01975.000.305/2023, instaurado na última sexta-feira (7)”, continuou o MPPE.

Procurada pela reportagem para se pronunciar sobre o requerimento do Ministério Público, a Secretaria Executiva de Defesa Civil de Paulista informou que está preparando o laudo com as informações que foram determinadas pelo Ministério Público de Pernambuco (MPPE).

Informou ainda que realizou, nesta quarta-feira (12), mais duas interdições no Conjunto Beira Mar. "Desta vez, foram interditados os blocos D14 e o C15, após vistoria feita pela equipe técnica.", disse em nota.

Sendo assim, de acordo com a Prefeitura do Paulista, subiu para 103 o número de vistorias, desde o último mês de maio, e para 19 o de imóveis interditados no município, desde o ano de 2007.

"A Defesa Civil irá vistoriar todos os blocos do Conjunto Beira Mar, que totalizam 29. Deste total, 15 já foram interditados pela Defesa Civil do município. Após a conclusão das vistorias nos blocos “E”, foi iniciado o trabalho nos “C”. O trabalho será feito gradativamente", completou. 

 

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