Deputados reagem a empenho milionário à cidade de irmão de Bolsonaro
Oposição aponta favorecimento em virtude do parentesco
Parlamentares da oposição reagiram à ação do governo que liberou verbas para o município de Miracatu, no interior de São Paulo. Ao GLOBO, o ministro da Cidadania, João Roma (Republicanos-BA), confirmou que Renato Bolsonaro, irmão do presidente Jair Bolsonaro, atuou para liberar recursos da pasta à cidade localizada a 137 quilômetros da capital.
Renato Bolsonaro é chefe de gabinete da prefeitura local, beneficiada com o empenho de R$ 35 milhões em verbas da União no final de 2021. Desse valor, R$ 9,5 milhões saíram da pasta comandada por João Roma.
— Fica evidente que a liberação dos recursos, que inclui esses milhões do escandaloso orçamento secreto, foram liberados com agilidade por causa da proximidade com o presidente. É um agir antirrepublicano. Um dos princípios da administração é a impessoalidade. O que fica claro é o oposto: o parentesco com o presidente abre as portas para que recursos públicos sejam alocados, sem critérios claros, técnicos e objetivos — disse o líder da oposição, Alessandro Molon (PSB-RJ).
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Nas redes sociais, outros parlamentares também criticaram a ação do governo e o favorecimento ao irmão de Bolsonaro.
“A mamata não acaba... O município de Miracatu, em São Paulo, recebeu ao menos 10 milhões de reais do orçamento secreto. O "curioso" é que o irmão de Bolsonaro é chefe de gabinete do prefeito da cidade. O lema do governo é mamata pra família do presidente, fome pro povo!”, escreveu a líder do PSOL, Talíria Petrone (RJ).
Ao GLOBO, o ministro da Cidadania contou que Renato Bolsonaro tem um jeito "suave" e, por isso, teve vontade de ajudar.
— Ele é irmão do presidente, circulou (nas outras pastas) e, talvez até pelo jeito dele, suave, todo mundo tem vontade de ajudar o cara. Dá vontade de ajudar. Mas (ele) não é aquela pessoa que fica vendendo prestígio. Não é dessas criaturas que a gente vê em Brasília a vida toda — destacou o ministro.
Um levantamento feito pelo GLOBO identificou que o montante foi empenhado (reservado para gasto) entre os dias 17 e 30 de dezembro por meio dos ministérios do Desenvolvimento Regional; Agricultura; Cidadania e Turismo.
Segundo o Portal da Transparência, pelo menos R$ 10 milhões são provenientes de emendas de relator do chamado orçamento secreto — instrumento pelo qual um parlamentar destina recursos federais a uma determinada localidade sem que seu nome apareça publicamente.
Documentos a que a reportagem teve acesso mostram que o dinheiro separado no final de 2021 deverá ser gasto na compra de tratores, manutenção de estradas vicinais, melhorias na drenagem das ruas, assim como em outras obras do centro de eventos da cidade.
Reduto da família Bolsonaro, Miracatu se tornou um ponto estratégico para as pretensões eleitorais do clã. O município é cercado de cidades governadas por prefeitos do PSDB, correligionários do governador de São Paulo, João Doria, pré-candidato à Presidência em 2022 contra Bolsonaro.