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Autismo

Dia Mundial do Autismo: saiba as terapias mais indicadas para o tratamento

A Folha de Pernambuco inicia neste fim de semana a série "Desvendando o Autismo", com três reportagens especiais sobre Transtorno do Espectro Autista. No domingo, celebra-se o Dia Mundial da Conscientização sobre o Autismo, data criada pela ONU em 2007

Atividades físicas podem ajudar no tratamentoAtividades físicas podem ajudar no tratamento - Foto: Melissa Fernandes/Folha de Pernambuco

Neste domingo, celebra-se o Dia Mundial da Conscientização sobre o Autismo, data criada em 2007 pela Organização das Nações Unidas (ONU) para difundir informações sobre o autismo e assim reduzir a discriminação e o preconceito. Há pouco mais de uma semana, um relatório do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos (EUA) apontou aumento no número de diagnósticos de crianças de até 8 anos de idade com autismo no país.

Segundo a pesquisa, uma a cada 36 crianças norte-americanas foram diagnosticadas com o Transtorno do Espectro Autista (TEA) em 2020. Em 2018, os dados haviam apontado para uma a cada 44 crianças e, em 2000, a prevalência havia sido de uma a cada 150.

Como explica o neuropediatra Lucas Alves, membro da International Child Neurology Association (Associação Internacional de Neurologia Infantil, em tradução livre) e da Sociedade Brasileira de Neurologia Infantil (SBNI), o Brasil não possui pesquisas contínuas semelhantes mas é notório o crescimento de diagnósticos de autismo no País. Dados do CDC, inclusive, apontam que o TEA atinge entre 1% e 2% da população mundial, o que, trazendo para o Brasil, daria aproximadamente dois milhões de pessoas. 

Para o especialista, o aumento no número de casos se dá, em certa medida, devido à maior conscientização sobre o espectro e à maior eficácia no diagnóstico. Com a confirmação do resultado, orienta, é preciso, então, que as famílias deem início ao tratamento, o qual consiste, especialmente, na aplicação de terapias que têm como principal objetivo apoiar o desenvolvimento da criança, ampliando suas habilidades de comunicação e auxiliando no treinamento para que desenvolvam tarefas do dia a dia. Em casos mais graves, pode ser necessária a inclusão de medicamentos.

Lucas Alves, neuroLucas Alves, neuropediatra - Foto: Melissa Fernandes/Folha de Pernambuco

“Todos os dias aqui no consultório eu dou um diagnóstico de autismo. O tratamento principal é terapia. O tratamento é individualizado porque vai depender do que a criança está necessitando, de qual o prejuízo da criança, mas, de uma maneira geral, o tratamento inicial é com psicologia, terapia ocupacional (TO) e fonoaudiologia, seriam esses três principais profissionais. Aí, por exemplo, se tiver dificuldade na alfabetização, entra na psicopedagoga, se tiver um pouco de alteração de coordenação, da parte da motricidade, porque às vezes não tem firmeza também, precisa de psicomotricidade. E o tratamento é quanto mais cedo, quanto mais precoce, melhor o prognóstico. Então, o ideal é que comece antes dos três anos de vida”, destacou Alves.

Atividades artísticas e esportivas [veja exemplos no infográfico ao fim da matéria] também são indicadas para o tratamento. “Esse tipo de atividade estimula mais de um sentido, estimula a parte sensorial, porque criança que tem autismo tem muito a questão da parte sensorial. Estimula a parte cognitiva, a parte motora, e a socialização também”, explicou o neuropediatra. A musicoterapia, inclusive, possui evidência científica comprovada. Alves orienta, ainda, que as crianças mesclem atividades envolvendo crianças neurotípicas e atípicas com aquelas voltadas especificamente para crianças com autismo.

“A gente sempre orienta a praticar esportes, fazer atividade física normalmente.Fazer, por exemplo, um judô e uma natação normal. É importante ter esse momento, não só ficar no ambiente de TEA, tem que ter o ambiente do dia a dia como qualquer outra pessoa, ensinar natação, um futebol, um balé. Mas acaba que na clínica é bom ter um momento também porque vai ter uma profissional lá, uma especialista que vai intervir, vai criar conflitos. A mesma coisa é com a psicoterapia, às vezes a gente pede para fazer uma psicoterapia em grupo, ali com duas, três, quatro crianças com autismo, porque aí o psicólogo vai intermediar, vai criar conflito, vai ver a reação da criança”, disse.

“Precisa ter o momento da clínica, da terapia, mas tem que ter o momento de vida real, senão vai ficar condicionado sempre a um adulto dando ordem, não vai gerar tanto a independência, a autonomia, porque o tratamento fundamental é tentar fazer com que essas crianças tenham uma autonomia e independência na vida adulta”, completou.

crianças autismoMelhorar a interação é um dos objetivos dos tratamentos para autismo - Foto: Melissa Fernandes/Folha de Pernambuco

Um dos modelos terapêuticos mais indicados pela ciência atualmente, chamado Terapia ABA (do inglês, Applied Behavior Analysis), busca justamente trabalhar as habilidades das crianças com autismo a partir da análise dos seus próprios comportamentos, dando, assim, um acompanhamento personalizado ao paciente.

“O que tem maior evidência é a Terapia ABA, que é a Análise do Comportamento Aplicada, que é um tipo de terapia que a psicóloga, a terapeuta ocupacional, abordam com o paciente. É um tipo de terapia que vai treinar essa questão da repetição, vai dar funcionalidade aos objetos, para depois gerar a independência, a autonomia. Então, o ideal seria uma psicologia, uma terapia ocupacional, baseada no método ABA”, detalhou Alves, que também é mestre em Neurologia e possui doutorado em Saúde.

“Dependendo do grau, você pode pedir para que seja feita uma Terapia ABA no ambiente domiciliar, no ambiente escolar, para treinar a criança no dia a dia, em situações normais, no shopping, no parque, para que ele veja o comportamento, corrija, ensine o comportamento com função”, continuou.

Também há terapias específicas que auxiliam o desenvolvimento da fala. “Para fonoaudiologia, tem um método que chama Prompt [que usa toques nas regiões da mandíbula, língua e lábios para estimular manualmente a produção de um som, palavra ou frase] e tem outro que é PECS, para crianças que têm um atraso importante na fala, que é a comunicação por figuras. Por exemplo, para dizer que quer ir ao banheiro, que quer algum tipo de comida, utiliza-se figurinhas. Também pode ser por cores, por exemplo, um verde é um sim, um vermelho é um não”, comentou o neuropediatra. 
  
Diretora Clínica do Instituto do Autismo (IDA), a psicóloga Carla Patrícia, especialista em Análise do Comportamento, reforça a importância de um acompanhamento interdisciplinar, com terapias e atividades que insiram o lúdico como ferramenta de tratamento.

“Normalmente, a criança com autismo tem muita dificuldade social. Então, a gente busca as atividades que elas possam interagir junto, que elas possam se desenvolver ludicamente, que é a melhor coisa. Então, para que a gente consiga fazer com que essa criança se desenvolva, a gente sempre busca essa parte naturalística, como a gente chama no ABA, que é a atividade naturalística dos profissionais na parte externa. E a Ciência ABA é uma ciência que é bem desenvolta, é cientificamente comprovada porque é tudo com programas, são atividades que a gente está usando diariamente, então isso faz com que a criança por repetição aprenda”, ressaltou.

Carla Patrícia, diretora do Instituto do AutismoCarla Patrícia, diertora do Instituto do Autismo - Foto: Melissa Fernandes/Folha de Pernambuco

“A gente alinha o ABA sempre com todas as terapias, porque a criança vai desenvolver tanto a parte das especialidades que ela precisa, quanto a parte do domínio que a gente quer para aquela criança. A parte lúdica e cultural é muito importante porque normalmente as crianças vêm para uma clínica trabalhar funções específicas do desenvolvimento, então para a parte social, que é uma parte muito comprometida da criança autista, é muito bom que a gente trabalhe a parte cultural. Música, artes, pintura, atividades físicas são muito bons para o desenvolvimento da criança porque existem crianças com dificuldades motoras, então a atividade física foca muito nisso”, acrescentou. O IDA, inclusive, já promoveu ações em shows, teatro, exposições, museus e parques em shoppings centers.

Como reforça a psicóloga Letícia Alencar, especialista e mestre em Análise Comportamental Aplicada (ABA), a inclusão é fundamental para o desenvolvimento das crianças com TEA.

“As pessoas com autismo, assim como qualquer outra pessoa com deficiência, são parte da nossa sociedade. Quando a gente pensa numa cidade, num espaço comunitário, em um país, a gente tem que pensar em políticas públicas e também em iniciativas privadas para abarcar todas as pessoas. O que foi feito é que por muitos anos esconderam as pessoas com deficiência. Qual o benefício de você incluir, de você ocupar e compartilhar espaços entre pessoas neurotípicas e pessoas neurodivergentes, ou com qualquer outra deficiência? Primeiro, é um direito das pessoas com deficiência compartilhar todos os espaços possíveis dentro de uma comunidade e isso influencia muito o desenvolvimento socioafetivo delas, o desenvolvimento cognitivo, de linguagem, motor. Então, é muito importante. E é importante para pessoas neurotípicas porque precisamos aprender a conviver com todas as pessoas ao nosso redor”, frisou.

Letícia Alencar, psicólogaLetícia Alencar, psicóloga - Foto: Divulgação

Mãe da pequena Ceci, de 5 anos, a professora Emmanuele Mendonça, 35, recebeu o diagnóstico da filha quando a menina estava com 2 anos e 4 meses. Inicialmente diagnosticada com o nível 2 do autismo, ela viu os sintomas da filha diminuírem, chegando a passar para o nível 1, após iniciar os tratamentos com as terapias. “Eu entrei nesse mundo, comecei a estudar, mudou a minha visão de mundo sobre a neurodiversidade. Todo o tratamento dela foi terapêutico. Mas eu consegui o tratamento com batalha judicial”, disse.

Família AutismoEmanuelle e Ceci - Foto: Melissa Fernandes/Folha de Pernambuco

O contador Paulo Azevedo, 47, é pai do João Vitor, de 6 anos, diagnosticado com autismo não-verbal. A família confirmou o TEA quando ele tinha 1 ano e 9 meses, desde então, vem dedicando o tempo ao tratamento da criança, que tem acompanhamento especializado também durante o período escolar. “Começamos com terapia ocupacional, depois fonoaudiólogo, e fomos estudando a questão do autismo e foi abrindo novos horizontes, sabendo que é um conjunto de tratamentos. A gente foi descobrindo o universo dele aos pouquinhos”, contou.

Família autismoPaulo e João - Foto: Melissa Fernandes/Folha de Pernambuco

Presidente da Associação de Apoio à Pessoa com Deficiência e treinador-chefe do Projeto Atletismo Campeão, Abraão Nascimento iniciou, em 2018, a turma de iniciação ao esporte para crianças e adolescentes. O grupo inclui crianças neurotípicas e neurodivergentes, assim como jovens com deficiência física ou intelectual.

projeto autismoIntegrantes do Projeto Atletismo Campeão - Foto: Divulgação

“Na questão da inclusão do autista, da pessoa com deficiência, o esporte tem um papel fundamental para a questão de sociabilizar essas crianças. Quando eu falo em sociabiliziar é interagir com as outras crianças, isso envolve também os pais, as famílias. E isso muda muitas percepções da família, das crianças, como a questão da autoestima, a questão de vencer vários medos”, comentou. O projeto é gratuito e ocorre às terças e quintas, das 15h às 16h, no Parque e Centro Esportivo Santos Dumont, em Boa Viagem. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone (81) 99919-5144 ou pelos seguintes perfis no Instagram: @aapd.pe e @projetoatletismocampeao.

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