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Orçamento secreto

Emendas de relator são usadas para gerar apoio a governo e reformas, diz Guedes

É um recurso que está sendo usado pelo governo pela cúpula do Congresso como forma de angariar apoio de parlamentares

Ministro Paulo Guedes negou sua saída do governoMinistro Paulo Guedes negou sua saída do governo - Foto: Reprodução / TV BRASIL

Ao ser perguntado nesta terça-feira (30) sobre o chamado “orçamento secreto”, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que as emendas de relator do Orçamento, por meio das quais o governo Jair Bolsonaro repassa verbas a parlamentares aliados, são usadas para gerar apoio ao governo e para aprovar reformas.

A emenda de relator é um tipo de instrumento que tem pouca transparência sobre quem indicou o uso do recurso, comumente empregado em obras e serviços nas bases eleitorais de deputados e senadores. É diferente das emendas impositivas, que são divididas igualmente entre todos os parlamentares.

Neste ano, as emendas de relator somam R$ 16 bilhões. É um recurso que está sendo usado pelo governo pela cúpula do Congresso como forma de angariar apoio de parlamentares.

O Supremo Tribunal Federal (STF) impediu a execução dos gastos oriundos dessas emendas até que seja criado um mecanismo que dê transparência para esse instrumento.

Guedes disse que as emendas de relator já eram usadas durante o mandato do então presidente da Câmara Rodrigo Maia, antecessor do atual presidente Arthur Lira (PP-AL), mas que não recebiam tanta atenção e sugeriu que isso ocorria porque Maia fazia oposição ao governo.
 

"Quando o presidente da Câmara era o Rodrigo Maia, houve o pedido dele de R$ 30 bilhões para o Domingos Neto (PSD-CE), que seria o relator (do Orçamento) da época. Era o dobro de hoje, e não houve essa convulsão toda. Porque, possivelmente, naquela altura, o presidente da Câmara garantiu aqueles recursos para ficar independente do governo, fazer política mesmo sendo oposição ao governo. Ninguém reclamou", disse Guedes, em evento da construção civil.

O ministro comparou com a situação atual e sugeriu que o assunto ganhou repercussão por se tratar de um instrumento de apoio ao governo.

"Agora que é a metade daquele dinheiro, mas é para apoiar o governo e fazer as reformas, todo mundo descobriu que o orçamento é secreto, que aquilo está errado. Aquilo não foi criado pelo Lira, aquilo foi criado e usado antes", disse Guedes.

De fato, as emendas de relator foram criadas quando Rodrigo Maia estava à frente da Câmara, em 2019, durante as discussões do Orçamento de 2020. O recurso passou a ser usado no Orçamento de 2020, quando somou cerca de R$ 20 bilhões e Maia também estava na presidência da Casa.

Guedes chamou de "patético" o que entende ser uma "briga" por R$ 15 bilhões em recursos em emendas de relator, sendo que as despesas totais do governo chegam a R$ 1,8 trilhão por ano. Para ele, o Orçamento deveria ser reformado para tirar gatos obrigatórios e desindexá-los, deixando as verbas ficarem amplamente livres para serem discutidas.

"No Brasil, 96% do Orçamento está carimbado, sobra 4%. Aí tem uma briga feroz por 4%. Essa briga toda, num orçamento de R$ 1,8 trilhão, tem uma briga por R$ 15 bilhões. Algo que era completamente normal e natural e normal, o governo discutir com a sua base", afirmou.

"Não é errado, em lugar nenhum no mundo, que quem está no poder tenha mais comandos sobre recursos. É para isso que você ganha eleição. É natural que vá mais recursos para um lado do que para o outro. Me parece dramática a discussão porque tem um Orçamento de R$ 1,8 trilhão e está a maior briga por causa de R$ 15 bilhões. É natural que quem ganhou a eleição tenha um pouco mais de recurso do que quem perdeu a eleição", afirmou.

O ministro defende a tese de que o Orçamento precisa ser discutido ao longo do ano entre o governo e sua base. "Em qualquer lugar do mundo, o governo e sua base parlamentar passam o ano inteiro discutindo o Orçamento, verbas, recursos. A discussão de Orçamento é a essência da política. A essência da política é o comando dos recursos públicos".

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