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Brasil

Especialista alerta para possibilidade de novos desastres causados pelas chuvas no Brasil

Segundo especialista, as intempéries se devem à Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS) acentuado pela presença do "La Niña"

As recentes chuvas e suas consequências (inundações, alagamentos, deslizamentos etc) já desalojaram a 13.350 pessoasAs recentes chuvas e suas consequências (inundações, alagamentos, deslizamentos etc) já desalojaram a 13.350 pessoas - Foto: Gil Leonardi / Imprensa MG

A queda de um paredão no Lago de Furnas, em Minas Gerais, foi resultado das chuvas intensas que atingem vários estados do país, disse à AFP a meteorologista Estael Sias, que alertou para a possibilidade de novos desastres.

O desmoronamento deste sábado, que causou a morte de 10 pessoas, soma-se aos graves danos causados há dois meses por inundações, que já deixaram dezenas de mortos e dezenas de milhares de desabrigados, principalmente na Bahia.

Segundo Estael, que trabalha na agência MetSul, as intempéries se devem à Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS), fenômeno típico do verão austral, acentuado pela presença do "La Niña" e cujo impacto "é difícil de separar do aquecimento global".

Pergunta: O desmoronamento está diretamente relacionado às chuvas?

Resposta: "Certamente existe uma relação. É um fato que o longo e intenso período de chuvas gerou uma infiltração de água nas rochas, que teve como consequência o movimento das mesmas e a queda do paredão. Alguns vídeos mostram que, minutos antes, havia uma grande quantidade de chuva que descia pelas cachoeiras da região, com grande pressão sobre as rochas".

P: O que está causando esse período de chuvas tão intenso e prolongado?

R: “A causa é a ZCAS, um fenômeno típico do verão, que provoca anualmente fortes chuvas na região.

A ZCAS é um corredor de umidade da Amazônia que, quando conectado a uma frente fria no Atlântico Sul, ou mesmo a um sistema de baixa pressão, permanece por vários dias gerando grandes volumes de chuva, que provocam enchentes e deslizamentos de terra, principalmente nos estados do Sudeste e em parte do Centro-Oeste, Nordeste e Norte.

Outros estados do Sudeste, como São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo, registraram grandes tragédias climáticas em anos anteriores devido à ZCAS nesta mesma época.

Este ano, sob a influência do fenômeno meteorológico La Niña (que provoca o resfriamento do Oceano Pacífico equatorial, causando chuvas excessivas em algumas partes do planeta e secas severas em outras, ndr), já havia uma tendência a maiores volumes de chuva".

P: Até quando pode durar esse fenômeno?

R: "A previsão de chuva para os próximos 10 dias ainda indica altos volumes de precipitação na região. Infelizmente, as calamidades na região poderiam aumentar. Na segunda quinzena de janeiro, a princípio, a umidade na Amazônia irá se estender mais para o sul do país, reduzindo os volumes na região. No entanto, é preciso ressaltar que os meses de verão são, historicamente, os mais úmidos, e fevereiro e março continuam sendo períodos de grandes volumes de chuva."

P: A ZCAS tem relação com as mudanças climáticas?

R: "Os extremos que temos registrado em todo o mundo nos últimos dois anos têm sido muito frequentes. Com eventos históricos de calor, chuvas cada vez mais recorrentes, e considerando que, nas últimas duas décadas, foram registrados os anos mais quentes da história do planeta, é difícil separar fenômenos como a ZCAS, de menor escala em tempo e espaço, do aquecimento global, que serve de combustível para acentuar os extremos em todo o planeta.”

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