CRIME

"Flordelis era Deusa e filhos não privilegiados eram escravos", alega MP no debate final do júri

Julgamento chegou na penúltima etapa. Além da pastora, são julgados três filhos e uma neta

Flordelis, em julgamentoFlordelis, em julgamento - Foto: Bruno Dantas/TJ-RJ

No fim da tarde deste sábado, o julgamento de Flordelis dos Santos chegou na penúltima etapa. O Ministério Público e a defesa dos réus fazem os últimos debates antes Conselho de Sentença decidir se os acusados serão condenados ou absolvidos. O juri é realizado no Fórum de Niterói e deve ter o resultado até a manhã deste domingo. Além da pastora, são julgados André Luiz Oliveira, filho afetivo que foi o primeiro interrogado ontem; Marzy Teixeira, filha afetiva; Simone dos Santos Rodrigues, filha biológica da pastora; e a neta Rayane Oliveira.

Cada lado terá duas horas e meia para pedir a absolvição ou a condenação dos réus. Poderá haver ainda, pelo menos, duas horas para réplica e o mesmo tempo para tréplica. Os mesmos advogados defendem Flordelis, Rayane, André e Marzy. Apenas Simone é representada por outra advogada, Daniela Grégiorio Kelly, uma das filhas adotivas de Flordelis, mas a pastora não acreditou. Após os debates, o sete jurados, quatro mulheres e três homens, irão se reunir na “Sala Secreta” para decidir o futuro dos réus. Eles são moradores de Niterói e não necessariamente possuem formação jurídica.

Além do envolvimento na morte do pastor Anderson do Carmo em 2019, uma das acusações que os réus enfrentam é sobre uma tentativa de envenenamento do pastor antes de seu assassinato, o que também foi negado pela ex-deputada. Em uma mensagem enviada por um telefone da filha, Flordelis teria dito para dar um “arrozinho” para Anderson.
 

O assassinato do marido de Flordelis foi em 16 de junho de 2019 na garagem da casa da família, em Niterói. O laudo cadavérico atestou que a vítima tinha 30 marcas de tiro no corpo. Questionada por sua advogada Janira Rocha, a ex-deputada disse que não viu quem cometeu crime, mas atribuiu a “abusos” cometidos pelo pastor dentro de casa o motivo do homicídio.

"É muito difícil pra mim falar, mas foi a ciência, os abusos. Os abusos na minha casa", disse a pastora. "Eu não tinha conhecimento. Eu amava meu marido. Ele era tudo para mim, era minha vida. Houve desconfiança uma única vez com minha filha Kelly".

O Ministério Público abriu sua fala dizendo aos jurados que o julgamento durou seis dias porque se tornou dois: um dos cinco réus que respondem pela morte de Anderson do Carmo e outro do próprio pastor. Os relatos de supostos abusos sexuais foram tratados como “a mais nova tese” dos defensores e que “viola a memória da vítima”.

"Fizemos dois júris aqui. São cinco as pessoas que vieram ser julgadas, mas o que vimos foi uma tentativa da defesa fazer o Anderson sentar no banco dos réus. Morto não fala. Na visão do Ministério Público, essa tese de conveniência é violadora da dignidade e da memória da vítima. A vítima é Anderson, que foi encontrado com 30 perfurações, de cueca, na porta de casa. A tese dos abusos sexuais é a mais nova. A primeira que surge é o latrocínio, que durou um dia. Quer se fazer uma releitura e jogar nessa história pontos de abuso", afirmou Mariah Paixão, promotora do Ministério Público.

Foi exibido um vídeo em que Lucas Cezar dos Santos depõe ao Tribunal de Justiça sobre como comprou a arma usada na morte do pastor. A compra da pistola foi feita dois dias antes do assassinato de Anderson. Ele ainda lembra que Rayane e Marzy ofereceram R$ 10 mil e relógios do pastor para assassiná-lo. No depoimento, ele diz “achar” que o dinheiro viria de Flordelis, pois as irmãs não poderiam ter tamanha quantia disponível. Lucas já foi condenado pela participação no crime.

“A Marzy mandou um print para mim da conversa dela com a Flordelis. Era para eu simular um assalto, pegar as coisas dele e sumir”, contou Lucas à época.

Enquanto o Ministério Público apresentava seus argumentos, Flordelis permaneceu de cabeça baixa, como em grande parte do julgamento. Ao promotor lembrar a história de Moisés, neto da pastora, que teria sido “doado” de uma das filhas afetivas a Simone, a pastora balançou a cabeça de forma negativa.

"É uma história de um poder absoluto de alguém que se considerava uma Deusa e começou a ser questionada por dar privilégio a filhos biológicos, enquanto deixava os outros escravos de lado. Anderson era quem administrava as contas da família. Ela começou a achar pouco os 40% destinados a ela dos lucros", afirmou o promotor Décio Oliveira.

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