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Conflito

Hamas exige aplicação de plano dos EUA sobre cessar-fogo em Gaza e critica negociações

Grupo palestino acusa Israel de usar extensão de conversas como 'cobertura' para continuarem com bombardeios ao enclave

Crianças palestinas observam destruição deixada após ofensiva de IsraelCrianças palestinas observam destruição deixada após ofensiva de Israel - Foto: OMAR AL-QATTAA / AFP

O grupo terrorista Hamas defendeu neste domingo que um plano apresentado em maio pelos EUA seja implementado, “em vez de realizar novas negociações ou apresentar novas propostas".

A declaração do grupo foi a primeira desde a convocação feita por mediadores para uma nova rodada de negociações entre o grupo palestino e Israel, com o objetivo de chegar a um consenso sobre o fim dos combates e o retorno dos reféns ainda no enclave.

Em comunicado, o grupo afirma que “tem se empenhado em garantir o sucesso dos esforços dos mediadores irmãos no Egito e no Catar para chegar a um acordo de cessar-fogo e acabar com o genocídio contra nosso povo”, e que “afirmou seu apoio a qualquer esforço que alcance a cessação da agressão”.

Contudo, o Hamas acusa Israel de “rejeitar” as propostas para encerrar a guerra, e cita ataques recentes contra áreas civis para acusar os israelenses de “não levarem a sério um cessar-fogo” permanente.

Ao citar a convocação, na forma de ultimato, feita por EUA, Egito e Catar, para uma nova rodada de conversas no dia 15, o grupo exige que os países, ao invés de pedirem novas conversas, “apresentem um plano para implementar” a proposta apresentado pelo presidente dos EUA, Joe Biden, em maio.

Para o Hamas, estender as conversas, mais uma vez, “fornecem cobertura para a agressão da ocupação (Israel) e lhe concedem mais tempo para continuar com o genocídio contra nosso povo”.

Negociações

Na semana passada, EUA, Catar e Egito deram um ultimato ao Hamas e a Israel, convocando uma nova rodada de negociações para fechar um acordo sobre o cessar-fogo em Gaza, além do retorno dos mais de 100 reféns ainda no enclave e que estabeleceria as bases para o futuro do território após o fim do conflito.

A proposta prevê três fases: na primeira, haveria um cessar-fogo completo por seis semanas, com a saída das forças de Israel de áreas urbanas, seguido pela libertação de alguns dos reféns capturados pelo Hamas e de palestinos mantidos em prisões israelenses.

Na segunda fase, todos os reféns seriam libertados, e Israel retiraria as forças remanescentes em Gaza. Na terceira, os corpos dos reféns que morreram no cativeiro seriam devolvidos, e teria início a reconstrução do enclave, uma tarefa colossal que contaria com o apoio de nações árabes, de forma a não permitir que o Hamas volte a se armar.

Israel havia concordado com o envio de uma delegação ao encontro. O Hamas não havia se pronunciado até este domingo, mas uma série recente de ataques e atentados pareciam sinalizar que o grupo poderia não aceitar o convite.

O comunicado deste domingo não afirma, de forma explícita, se o Hamas enviará representantes para as negociações do dia 15.

No final de julho, o líder político do grupo, Ismail Haniyeh, foi assassinado em Teerã, em um ataque creditado ao governo israelense, que não assumiu a autoria. Haniyeh era o responsável pelas negociações, e o Hamas decidiu substituí-lo por Yahya Sinwar, líder do da organização e acusado de ser um dos arquitetos do ataque de 7 de outubro de 2023.

Uma série de bombardeios de Israel em Gaza — um deles, no sábado, matou mais de 90 pessoas, segundo autoridades locais —, também gerou críticas não apenas vindas do grupo, mas também de governos de todo o mundo, inclusive do Brasil.

A vice-presidente dos EUA e candidata pelo Partido Democrata à Casa Branca, Kamala Harris, disse, ao se referir ao bombardeio, que Israel tem o direito de lutar contra o Hamas, mas que também tem a "responsabilidade" de evitar vítimas civis, e reiterou seu pedido por um acordo para libertação dos reféns e um cessar-fogo na Faixa de Gaza.

Os mediadores das conversas ainda não se pronunciaram sobre as declarações do Hamas. De acordo com o jornal israelense Haaretz, citando fontes diplomáticas, os três países dão sinais de impaciência, e afirmam que não hesitarão em culpar publicamente Hamas e Israel caso as conversas fracassem mais uma vez.

Segundo o jornal, a Casa Branca deixou claro ao premier israelense, Benjamin Netanyahu, que poderá culpá-lo, publicamente, por torpedear as conversas e impedir a libertação dos reféns — até agora, os EUA vinham insistindo que a culpa pela falta de avanços nas negociações era exclusivamente do Hamas.

Na sexta-feira, em um sinal dessa mudança de posição americana, o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, John Kirby, acusou o ministro das Finanças israelense, Bezalel Smotrich, de ameaçar as vidas dos reféns, incluindo cidadãos americanos.

Smotrich, um dos mais radicais integrantes do Gabinete de Netanyahu, se opõe publicamente a um cessar-fogo, defende a anexação completa da Cisjordânia e a presença permanente de tropas em Gaza.

No sábado, ele disse que Israel “não se submeterá a qualquer pressão externa que possa prejudicar sua segurança”, e que o acordo apresentado por Biden “é ruim”.

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