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RIO DE JANEIRO

MP recusa delação premiada da viúva do ex-capitão da PM Adriano da Nóbrega

Promotores avaliaram que depoimento de Julia Lotufo tinha inconsistências e que ele não assumiu os crimes que a levaram à prisão

Miliciano Adriano da Nóbrega Miliciano Adriano da Nóbrega  - Foto: Reprodução

O Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do Rio rejeitou a colaboração premiada proposta pela defesa de Júlia Lotufo, viúva do ex-capitão da PM fluminense Adriano Magalhães da Nóbrega.

Os promotores avaliaram que a delação continha inconsistências, agravadas pelo fato de que Júlia não assumiu os crimes que a levaram à prisão no ano passado, entre os quais lavagem de dinheiro da quadrilha liderada pelo ex-companheiro.

Um dos principais objetivos da delação, além da redução da pena, era obter autorização judicial para Júlia morar em Portugal. Ela alega sofrer ameaças das pessoas que citou nos anexos da colaboração. Detida em março do ano passado, ela está desde o mês seguinte em prisão domiciliar por decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Como o Ministério Público Federal (MPF) já havia manifestado desinteresse na delação, resta a Júlia reapresentar anexos mais convincentes aos olhos dos promotores. O Gaeco se ressentiu de provas de corroboração e, especialmente, de informações sobre a quadrilha de Adriano, apontado com chefe do "Escritório do Crime" e sócio de milicianos na exploração de aluguéis e outras fontes de renda ilícita em Rio das Pedras.

As negociações em torno da delação de Júlia provocaram uma crise interna no MP. Em julho do ano passado, as promotoras Simone Sibílio e Leticia Emile deixaram a força-tarefa do Caso Marielle Franco devido ao risco de interferências externas comprometerem as investigações. Um mês antes, a Polícia Civil do Rio havia apresentado ao MP a viúva do ex-capitão para fazer uma delação premiada em troca de benefícios.

Embora a viúva alegasse que tinha pistas sobre os mandantes do Caso Marielle, as promotoras da força-tarefa e o então titular da Delegacia de Homicídios da Capital (DHC), Moysés Santana, foram alijados da negociação sobre a colaboração de Júlia. O processo foi redirecionado ao promotor que atua na 1ª Vara Especializada Criminal, onde a viúva do ex-capitão responde por associação criminosa e lavagem de dinheiro.

Júlia teria acertado também que daria informações sobre outros assassinatos ocorridos ao longo dos últimos 20 anos no Rio, sem que fossem elucidados.

O nome de Adriano Magalhães ganhou notoriedade durante a Operação Intocáveis, em janeiro de 1029, ocasião em que O Globo revelou que o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho mais velho do presidente Jair Bolsonaro, empregou Raimunda Veras Magalhães e Danielle Mendonça da Costa, respectivamente mãe e a ex-mulher do miliciano, em seu gabinete na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.

Procurado pelo Globo, um dos advogados de Júlia, George Hidasi, disse que não poderia comentar a decisão do Gaeco pois o caso “corre em segredo de Justiça”.

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