Política

Oposição reage a perdão de Bolsonaro a Daniel Silveira e avalia pedido de impeachment e ação no STF

Presidente Bolsonaro concedeu a graça individual ao deputado federal menos de 24h após condenação no Supremo e antes do trânsito em julgado do processo

Presidente Jair Bolsonaro e o deputado Daniel Silveira (PSL). Presidente Jair Bolsonaro e o deputado Daniel Silveira (PSL).  - Foto: Reprodução.

Parlamentares da oposição reagiram ao indulto individual concedido pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) ao deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ) e avaliam as medidas cabíveis, que podem ser desde um novo pedido de impeachment do mandatário até uma ação questionado a graça presidencial no Supremo Tribunal Federal (STF).

O parlamentar foi condenado, na quarta-feira (20), a oito anos e nove meses de prisão por ameaças e incitação à violência contra ministros da Corte. O indulto, que foi dado menos de 24 horas após a sentença, funciona como um perdão ao crimes cometidos.

O líder do PT na Câmara, Reginaldo Lopes (MG), afirmou que o perdão concedido por Bolsonaro abre margem para que seja feito um novo pedido de impeachment do presidente. O deputado disse que a bancada está avaliando a medida. Isso porque, como o perdão foi concedido antes do trânsito em julgado do processo contra Silveira, há dúvidas entre a oposição sobre a validade da medida.

— Bolsonaro está cometendo mais um crime para proteger um criminoso. Na minha opinião, cabe mais um pedido de impeachment. O instituto induto não pode ser usado com desvio de função e menos ainda por abuso de autoridade. Portanto não seguiu o rito. Há um desvio da finalidade para proteger um amigo criminoso — afirmou Lopes, que continuou: — Estamos estudando se apresentaremos mais um pedido de impeachment e também uma ação de descumprimento de preceito constitucional no Supremo Tribunal Federal. É inaceitável essa escalada autoritária do Bolsonaro tentando fazer um rompimento institucional.
 

O senador Randolfe Rodrigues, líder da oposição no Senado, afirmou que vai entrar com uma ação no Supremo para contestar o indulto individual concedido. Ele afirmou que vai entrar com uma ADPF (arguição de descumprimento de preceito fundamental) no STF contra a medida do presidente. O recurso questiona se a decisão vai de acordo com a Costituição Federal. Além disso, o senador também vai apresenter um decreto legislativo para fazer frente ao decreto de Bolsonaro. 

"Crimes contra a ordem constitucional não podem ser passíveis deste benefício e iremos ao STF, para derrubar esse desmando por meio uma ADPF!", escreveu Randolfe no Twitter.

Além da pena de prisão, Silveira também perdeu o mandato e os direitos políticos. A condenação, no entanto, não é imediata porque ainda cabe recurso à defesa do deputado federal. Enquanto isso, Silveira continuará em liberdade e no exercício de suas atividades parlamentares.

Demais parlamentares da oposição avaliam a validade do indulto, por ter sido concedido antes do trânsito em julgado do processo, para ver quais medidas cabíveis poderão ser tomadas.

O senador Renan Calheiros (MDB-AL) também anunciou que vai entrar com uma medida judicial contra a decisão do presidente Bolsonaro. O parlamentar ainda cobrou uma manifestação do Congresso. Tanto o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), aliado de Bolsonaro, e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), não se posicionaram ainda sobre o indulto.

"Bolsonaro é um golpista que atenta contra os poderes o tempo todo. O indulto beneficiando Daniel Silveira é afronta ao STF e claramente inconstitucional. Entrarei com medida judicial ainda hoje contra o decreto ilegal.O fascismo não passará. O Congresso precisa se manifestar", escreveu no Twitter.

O pré-candidato à Presidência da República pelo PDT, Ciro Gomes, também anunciou que o partido também vai entrar com uma ação contra a medida de Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal. O pedetista afirmou que a medida, a qual chamou de "ato espúrio" deve ser "rechaçado pelos defensores do estado de direito".

"Seu ato espúrio de favorecimento absurdo e imoral a Daniel Silveira, ou qualquer outro tipo de desvio autoritário, serão rechaçados pelos defensores do estado de direito. Amanhã o PDT entrará com medida no STF para anular mais este desatino", escreveu.

A senadora Simone Tebet (MDB-MS), também pré-candidata à Presidência, afirmou que o perdão concedido por Bolsonaro se caracteriza como um "desvio de finalidade" e um "golpe contra a democracia". A parlamentar ainda disse que, ao violar a Constituição, o presidente comete crime de responsabilidade.

— Dar graça, por decreto, a um condenado pelo STF por atentado à democracia, é desvio de finalidade e um ato inconstitucional. O presidente violou, ele próprio, a Constituição. Um golpe contra a democracia. Crime de responsabilidade — afirmou.

O vice-presidente da Câmara, Marcelo Ramos (PSD-AM), questionou a validade do perdão presidencial e afirmou que a medida de Bolsonaro serve como cortina de fumaça para ofuscar problemas do governo.

"Bolsonaro sabe que o decreto é absolutamente inconstitucional. Não cabe indulto pra anular processo que não transitou em julgado. Só quer mobilizar os minions e desviar a atenção do que ele é a incapaz de dar respostas: a fome,o desemprego, a inflação e a corrupção no governo dele", escreveu no Twitter.

O deputado federal Alessandro Molon (PSB-RJ) chamou o perdão de Bolsonaro de uma "afronta ao Poder Judiciário":

— O decreto é uma afronta ao Poder Judiciário. É intolerável que Bolsonaro continue usando o mais alto cargo da Administração pública para atacar as instituições e destruir nossa democracia. Ou o Brasil se une para derrotá-lo em outubro, ou ele destruirá nosso país.

O senador Jean Paul Prates (PT-RN) afirmou que a medida do presidente, para beneficiar seu aliado, ameaça as instituições do país:

— Bolsonaro acha que pode tudo enquanto estiver no cargo que ocupa, mas há limites. Esconder os mal feitos da parentalha e dos aliados já estávamos acostumados, infelizmente, e para isso ele emporcalhou as instituições que deram guarida a seus desejos.

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