Logo Folha de Pernambuco

Mundo

Suprema Corte dos EUA revoga direito constitucional ao aborto

Essa decisão não torna a interrupção da gravidez ilegal, mas leva os Estados Unidos de volta à situação que prevalecia antes da decisão "Roe vs. Wade" de 1973

Suprema Corte dos Estados UnidosSuprema Corte dos Estados Unidos - Foto: Anna Moneymaker/Getty Images via AFP

A Suprema Corte dos Estados Unidos pôs fim, nesta sexta-feira (24), a uma sentença que por quase meio século garantia o direito das mulheres americanas ao aborto, mas que nunca havia sido aceita pela direita religiosa

Essa decisão não torna a interrupção da gravidez ilegal, mas leva os Estados Unidos de volta à situação que prevalecia antes da decisão "Roe vs. Wade" de 1973, quando cada estado era livre para autorizá-la ou não.

Em um país muito dividido, é provável que metade dos estados, especialmente do Sul e Centro mais conservadores e religiosos, possam banir a prática do aborto no curto prazo.

"A Constituição não faz nenhuma referência ao aborto e nenhum de seus artigos protege implicitamente esse direito", escreveu o juiz Samuel Alito, em nome da maioria. Neste contexto, Roe vs. Wade "deve ser anulado", apontou. "É hora de devolver a questão do aborto aos representantes eleitos pelo povo", aos parlamentos locais, escreveu.

Tal formulação é muito semelhante ao projeto de sentença que vazou no início de maio, causando grandes manifestações em todo o país e uma onda de indignação na esquerda. 

Desde então, a situação tem sido tensa nas imediações da Suprema Corte, isolada pelas forças de segurança para manter os manifestantes à distância.

Em 8 de junho, um homem armado foi preso perto da casa do magistrado Brett Kavanaugh e acusado de tentativa de homicídio.

Vitória para Trump
A decisão divulgada nesta sexta-feira "é uma das mais importantes da história da Suprema Corte desde sua criação em 1790", diz o professor de direito sanitário Lawrence Gostin. "Já aconteceu no passado mudanças na jurisprudência, mas para estabelecer ou restaurar um direito, nunca para suprimi-lo", comentou à AFP.

A decisão vai contra a tendência internacional de liberalização do aborto, com avanços em países onde a influência da Igreja Católica continua forte, como Irlanda, Argentina, México e Colômbia. 

E ocorre depois de 50 anos de luta da direita religiosa, para a qual representa uma grande vitória, mas não o fim da batalha: continuará se mobilizando para tentar fazer com que o maior número possível de estados o proíba ou até uma proibição federal.

Também se enquadra na política do ex-presidente republicano Donald Trump que, durante seu mandato remodelou profundamente a Suprema Corte ao incorporar três juízes conservadores (Neil Gorsuch, Brett Kavanaugh e Amy Coney Barrett) que apoiaram a decisão.

Seu vice-presidente, Mike Pence, aplaudiu a notícia, dizendo que o direito ao aborto está enterrado "no esquecimento" e que "um erro histórico foi corrigido".

Já o ex-presidente democrata Barack Obama chamou de ataque às "liberdades fundamentais".

Especificamente, a sentença é baseada em uma lei do Mississippi que reduzia o prazo legal para abortos. Desde a audiência de dezembro, vários juízes deram a entender que pretendiam aproveitar a oportunidade para revisar a jurisprudência da Corte.

Os três juízes progressistas discordaram da maioria, uma vez que, segundo eles, "coloca em risco outros direitos à privacidade, como contracepção e casamento gay" e "mina a legitimidade da Corte".

Leis "zumbis"
De acordo com o Instituto Guttmacher, um think tank que faz campanha pelo acesso à contracepção e ao aborto em todo o mundo, 13 estados têm as chamadas leis "zumbis" que proíbem o aborto e foram escritas para entrar em vigor quase automaticamente após a decisão da Suprema Corte.

Neste sentido, o procurador-geral do Missouri já anunciou que este estado conservador no centro dos Estados Unidos se tornou o "primeiro" a proibir a interrupção voluntária da gravidez. 

"Este é um dia monumental para a santidade da vida", disse Eric Schmitt em um tuíte acompanhado de uma imagem que o mostra ratificando o projeto de lei que acaba "verdadeiramente" com o aborto no Missouri - estado que só tinha uma clínica que permitia tal operação.

Espera-se que uma dúzia de estados sigam seus passos com proibições totais ou parciais.

Assim, em uma parte do país, as mulheres que desejam abortar serão forçadas a continuar a gravidez, passar à clandestinidade, por exemplo, comprando pílulas abortivas online ou viajar para outros estados, onde o aborto ainda é legal. 

Antecipando um influxo, os estados de maioria democrata tomaram medidas para facilitar o aborto em seu território, e as clínicas começaram a aumentar suas equipes.

Mas viajar é caro e a decisão da Suprema Corte penalizará ainda mais as mulheres pobres ou monoparentais, muitas delas negras e hispânicas, dizem os defensores do direito ao aborto.

A organização de planejamento familiar Planned Parenthood prometeu continuar "lutando". 

Veja também

Homem de 25 anos acorda momentos antes de ser cremado na Índia
ERRO

Homem de 25 anos acorda momentos antes de ser cremado na Índia

Chefe da Otan tem reunião com Donald Trump nos EUA
EUA

Chefe da Otan tem reunião com Donald Trump nos EUA

Newsletter