Logo Folha de Pernambuco

saúde

Trombose, ressecamento da pele, estresse: o que pode acontecer com nosso corpo no avião?

Como a altitude, a baixa pressão e a temperatura podem ocasionar tantos desconfortos fisiológicos durante um voo, principalmente os de longa duração

Cabine de avião Cabine de avião  - Foto: Pixabay

“Atenção, senhores passageiros, preparar para a decolagem.” Segundos depois desse aviso, o avião, a mais de 250 km/h, parte do solo em um ângulo de 15°, rumo à altitude de cruzeiro — cerca de 10 mil metros acima do nível do mar.

Nesse momento, o ouvido de muitos passageiros tampa e a umidade da cabine começa a cair, o que pode ocasionar ressecamento dos olhos, nariz, boca e pele.

Além disso, de acordo com especialistas, a baixa pressão atmosférica, que diminui à medida que a altura aumenta, tende a causar dificuldades respiratórias, doenças cardiovasculares e até neurológicas. Portanto, os passageiros, principalmente aqueles com predisposição à alguma doença, podem experimentar diversos desconfortos fisiológicos durante uma viagem de avião de longa duração.

No livro “In-flight medical emergencies” (“Emergências médicas durante o voo”, em tradução livre), José V. Nable e William J. Brady explicam que a pressão parcial de oxigênio diminui em altitudes elevadas, mesmo com a pressurização artificial das aeronaves, resultando em menor disponibilidade de oxigênio para o organismo. Para compensar essa pressão, o corpo aumenta a frequência da respiração. No entanto, a exposição prolongada à baixa pressão de oxigênio e umidade pode resultar na fadiga muscular e deterioração da função cognitiva, afetando a memória e desempenho geral.

Açúcar ou adoçante? Conheça os riscos de substitutos artificiais no corpo

— Mesmo que a aeronave seja pressurizada, existem diversos desafios fisiológicos que o corpo pode experimentar, como ar seco, imobilidade relativa, maior exposição à radiação, confinamento, jet lag e temperatura reduzida — elenca o médico aeroespacial Rolland de Souza, diretor científico da Sociedade Brasileira de Medicina Aeroespacial.

Ouvido tampado

Principalmente na decolagem e aterrissagem, muitos passageiros sentem uma pressão no ouvido, que acaba afetando os tímpanos. Bocejar ou mastigar chiclete ativa um músculo da tuba auditiva que acaba com a sensação de entupimento.

Segundo o físico Sebastião Portela, professor do Centro Universitário do Planalto Central Apparecido dos Santos, a pressão nos tímpanos pode causar desconfortos, como dor de ouvido, tontura e surdez momentânea.

— O processo de pressurização artificial das aeronaves também pode resultar em problemas relacionados à disponibilidade de oxigênio. Pequenas variações nesse gás podem levar à tonturas e aumento na frequência cardíaca, principalmente em hipertensos e pessoas com problemas pulmonares — afirma Santos.

Trombose

Em voos, principalmente de longa duração, há aumento no risco de trombose, já que a pessoa fica a maior parte do tempo sem mover as pernas, o que prejudica o retorno do sangue venoso para o coração.

— É muito importante que a pessoa sempre se mantenha ativa. Além disso, é preciso manter-se hidratado e ter uma boa alimentação, ainda mais se a pessoa já teve trombose antes. E, claro, ver com o médico responsável se recomenda o uso de algum medicamento — orienta a fisioterapeuta Roberta Ramos.

Para prevenir a condição, o Ministério da Saúde recomenda usar roupas confortáveis e um pouco mais largas; meias de compressão prescritas por um médico; tomar bastante líquido; e evitar ficar mais de duas horas parado na mesma posição.

Perda de paladar

Uma análise do Fraunhofer Institute for Building Physics mostrou que a baixa pressão no avião e a baixa umidade (aproximadamente 12%) na cabine tornam o ar muito seco, o que afeta a passagem nasal e reduz a capacidade do sistema olfativo de discernir cheiros. Isso resulta em uma alteração na percepção do sabor da comida e bebida a bordo. O sal, por exemplo, é percebido até 30% menos intenso, e o açúcar, até 20%.

Estresse e exaustão

Em voos longos ou frequentes o corpo pode entrar em exaustão devido a esses fatores estressantes. De acordo com uma pesquisa da Univeridade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), isso pode levar a uma sobrecarga energética, fadiga crônica, imunossupressão e exaustão dos sistemas adaptativos.

Desidratação

A baixa umidade nas cabines pode causar, além do ressecamento na pele e vias respiratórias, a desidratação. Por isso, é importante que o passageiro tenha sempre um hidratante labial, colírio para lubrificar os olhos e um creme específico para a pele.

— A desidratação pode levar a taquicardia e oscilações na pressão arterial. Caso seja uma pessoa com doença cardiovascular, a desidratação pode descompensar a condição. Por isso, deve-se evitar álcool e excesso de cafeína, que podem agravar a deficiência de água no corpo — diz o cardiologista Ricardo José Eiras, diretor das Unidades Coronarianas e dos Centros de Terapia Intensiva, da Rede Hospital Casa.

Jet lag

O relógio biológico do corpo é programado para se adaptar à rotina cotidiana. Quando há uma alteração repentina, como em viagens para outros países onde o passageiro cruza três ou mais zonas de tempo no fuso horário, é comum ocorrer o jet lag: uma fadiga causada pela alteração do ciclo circadiano.

Impacto no cérebro

De acordo com o ortopedista Luiz Felipe Carvalho, as principais alterações que o cérebro pode sofrer estão diretamente ligadas a alteração de pressão e a menor oferta de oxigênio no ar.

— As alterações cerebrais que ocorrem são a diminuição das conexões neuronais, deixando mais lento o pensamento e a capacidade de raciocínio, a sonolência e até o cansaço — explica Carvalho. — O cérebro tem fatores adaptativos e de proteção para conseguir minimizar os efeitos a longo prazo. Diminuímos os riscos se mantivermos uma rotina de exercícios físicos e hábitos saudáveis.

A comissária de bordo com 25 anos de experiência Denise Portela afirma que a crise de saúde mostrou a importância de manter-se protegido, saudável e limpo durante as viagens:

— A preocupação começa com a pessoa que vai sentar ao seu lado, se ela está saudável, e com os assentos que estão cada vez menores e mais próximos. Isso torna impossível manter o distanciamento.

*Estagiário sob supervisão de Constança Tatsch

Veja também

Líbano relata 8 mortos em bombardeios israelenses no leste
Bombardeio

Líbano relata 8 mortos em bombardeios israelenses no leste

Papa visitará ilha francesa de Córsega após recusar convite para reabertura de Notre Dame
Vaticano

Papa visitará ilha francesa de Córsega após recusar convite para reabertura de Notre Dame

Newsletter