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Vidas, casas e memórias levadas pelas enchentes na cidade espanhola de Sedaví

Quase uma semana após a tempestade que deixou mais de 200 mortos, ainda há muitas incertezas sobre esta tragédia de dimensões ainda não determinadas

Uma moradora caminha em uma rua bloqueada por escombros e carros empilhados em Paiporta, na região de ValênciaUma moradora caminha em uma rua bloqueada por escombros e carros empilhados em Paiporta, na região de Valência - Foto: Jose Jordan / AFP

A casa de Teresa Gisbert já não tem porta, nem móveis. Destruídos pela lama, estão amontoados em uma rua estreita de Sedaví, enquanto ela tenta salvar alguma recordação de sua casa e parte da província espanhola de Valência.

"Nasci aqui e perdi tudo", explica a senhora de 62 anos com a voz embargada, entre as paredes vazias desta casa baixa, muito típica das localidades dos pomares valencianos.

Uma linha escura com mais de um metro de altura mostra o quanto a água subiu na terça-feira nesta casa localizada no centro de Sedaví, cidade de 10.000 habitantes ao sul da capital, Valência, a terceira cidade da Espanha, que dá nome a toda a região.

Ela e o filho refugiaram-se em um terraço elevado e depois na casa de um vizinho, surpreendidos pela magnitude de uma cheia sobre a qual não tinham sido avisados.

"Disseram 'alarme de água', mas deveriam ter dito que era uma enchente", lamenta esta mulher sorridente, que oscila entre as lágrimas e palavras afetuosas aos vizinhos.

"Passamos muito mal. Agradecemos por termos anjos que nos trazem comida, que nos ajudam", explica, apontando para os voluntários.

Dois deles, vindos de Valência, ajudam a esvaziar um dos quartos onde ainda existem objetos cobertos de lama.

Enquanto tentam recompor a vida, Teresa e o filho ficam na casa de uma amiga e recebem roupas doadas.

"Estou lá de favor, porque não tenho nem onde dormir", afirma.

"Muito difícil" 
Um pouco mais acima, nesta rua atravessada por uma montanha de objetos retirados das casas, Pepita Codina varre os restos da lama que inundou o piso térreo da sua casa.

A água destruiu a cozinha, a sala de estar e muitas fotografias, mas ela conseguiu fugir com o marido para o andar de cima. "Está tudo aí para jogar fora", lamenta a aposentada de 66 anos, apontando para a geladeira com todos os alimentos que perdeu.

Mesmo assim, sente que tem sorte porque a morte passou muito perto. A poucos metros da rua deles foi encontrado um corpo arrastado pela correnteza e um vizinho ainda está desaparecido.

"Uma senhora morta ficou de terça-feira [na rua] até quinta-feira, quando a levaram embora. Isto é muito difícil", lembra Pepita.

José Ferrandis, outro morador do bairro, nunca pensou que veria uma imagem como esta na cidade.

"O problema é que veio de repente", diz este homem de 81 anos sobre a rápida subida da água.

"Meu filho perdeu quase tudo, mas podemos contar com ele", explica resignado.

Buscas nos estacionamentos 
Depois do choque inicial e dos resgates na superfície, os esforços dos serviços de emergência concentram-se agora nos estacionamentos subterrâneos, onde não é certo se todos conseguiram sair a tempo, considerando que a água subiu  rapidamente.

Desde o início da manhã, a atividade tem sido constante em frente à Câmara Municipal de Sedaví, onde os bombeiros tentam há horas extrair água de um estacionamento de dois andares.

Dentro do cordão policial estão agentes, bombeiros e um grupo de psicólogos que acolhem uma mulher que atravessa o posto de controle chorando.

Quase uma semana após a tempestade que deixou mais de 200 mortos, ainda há muitas incertezas sobre esta tragédia de dimensões ainda não determinadas, embora as aparências atuais já deem uma ideia.

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