2022 e a incógnita das eleições
Quando o físico Werner Heisemberg formulou o clássico Princípio da Incerteza (concluindo ser impossível determinar, simultaneamente, a posição e a velocidade uma partícula), nem perto estava das incertezas que nos cercam nesta tumultuada disputa eleitoral contemporânea.
Embora alguns apostem cegamente que o seu escolhido ganhará -, qual um advogado que, incipientemente, promete ser causa ganha a do seu cliente - não há, presentemente, nenhuma conclusão possível.
Quando alguém surge com tanta convicção a respeito, dá vontade de responder, como fizera o poeta Fernando Pessoa, em (Lisbon revisited), quando assim versificou: “Não me venham com conclusões/A única conclusão possível é morrer”.
Desde a proclamação da República, o País já encarou mais de 31 eleições presidenciais, todavia a atual conjuntura em que nos achamos imersos, destoa quilometricamente das de outrora.
Já estivemos entre tantos dilemas, às vezes do mesmo lado, mas no lado errado; ou às vezes em lados opostos, mas cada qual com um lado certo. Entretanto (e entre tantos percalços nos percursos), sublinha-se, hodiernamente, uma atmosfera política bem incomum, em que a precisão é tão estéril quanto uma vida sem sentimentos.
De uma coisa, podemos ter certeza; não levará muito tempo para que nos certifiquemos de que “tudo é vaidade, vaidade de vaidades”. E não adianta se encher de absoluta certeza agora, que uma nesga de dúvida transbordará em queixumes no porvir.
O que interessa de imediato, para os sedentos de fome; os carente de saúde, os ansiosos por justiça e por segurança pública, é uma mínima garantia de que os candidatos não irão seguir a tradição de deixar suas promessas esquecidas, por mais quatro anos.
Isso é, sem dúvida, o que mais separa a escolha inicial por um candidato, até a aposição das digitais, nas urnas eletrônicas. Dado o enter, não será possível, de imediato deletar, tampouco revogar uma escolha equivocada. Todavia, e como consolo, considerando a periodicidade que caracteriza o nosso sistema de voto e, por conseguinte, do mandato que o titular do poder outorga aos seus representantes, em uma quadra de anos, volveremos às urnas, para uma nova possibilidade.
É assim que se caracteriza o nosso sistema. Tem sido assim que marchamos, desde há muito. A vontade de acertar, de que se mune a grande maioria é, sem dúvida, maior que a segurança e certeza na escolha.
Ideal seria que nossa condição humana de pobres mortais nos possibilitasse tão-somente olhar os lírios do campo, mas sentimos medo, frio e fome, que nos sacolejam de um jeito tão avassalador, que não conseguimos nos conter.
*Defensor Público e professor
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