6 declarações recentes mostram equívocos de Biden sobre Afeganistão
O cenário é desfavorável para o presidente dos EUA, Joe Biden, que levou a cabo o acordo firmado pelo antecessor, Donald Trump, para a retirada das tropas americanas do país
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Desde que o Talibã retomou Cabul, no último dia 15 de agosto, o aeroporto internacional da capital do Afeganistão se transformou em palco do caos. As cenas tiveram um ápice nesta quinta (26), quando a região do terminal foi alvo de ataques do Estado Islâmico. O saldo de mortos chega a 73, entre afegãos e militares americanos.
O cenário é desfavorável para o presidente dos EUA, Joe Biden, que levou a cabo o acordo firmado pelo antecessor, Donald Trump, para a retirada das tropas americanas do país. O prazo para que isso se dê continua sendo o próximo 31.
O democrata tem sido acusado de cometer erros de avaliação e criticado pela forma com que manejou a saída dos militares. Relembre momentos em que os fatos estiveram longe da realidade desenhada pelo mandatário.
1.
"Não vamos conduzir uma corrida precipitada para sair. Vamos sair -vamos fazer com responsabilidade, deliberadamente e com segurança"
14 de abril
em pronunciamento
Inicialmente anunciada para 11 de setembro, nos 20 anos do ataque às Torres Gêmeas, a retirada das tropas do Afeganistão foi adiantada por Biden para 31 de agosto. A mudança levou a uma aceleração do processo, com a intensificação da ofensiva do Talibã para reconquistar território.
Segurança foi o que não se viu nas horas seguintes à tomada de Cabul, com pessoas desesperadas invadindo as pistas do aeroporto da capital tentando deixar o país. Uma das cenas mais marcantes teve homens se agarrando à fuselagem de um cargueiro americano que levantava voo -corpos também foram vistos caindo e restos mortais, encontrados no trem de pouso. O caos deixou ao menos sete mortos na ocasião.
Uma aeronave militar C-17 com capacidade para pouco mais de cem pessoas chegou a decolar com mais de 800 a bordo.
2 e 3.
"Não é inevitável [que o Talibã tome o poder no Afeganistão]. [...] Eles [agências de inteligência dos EUA] não chegaram a essa conclusão [que o governo afegão vai colapsar]. O governo afegão precisa se unir. Eles claramente têm a capacidade de manter o governo no poder"
8 de julho
em entrevista coletiva
"A verdade é: isso se desenrolou mais rapidamente do que antecipamos"
14 de agosto
em pronunciamento
Em 8 de julho, o governo afegão já alertava que 15 das 34 capitais regionais estavam sob risco de serem tomadas. Além disso, um relatório do mesmo mês expôs os crescentes perigos para Cabul, notando que o governo do país estava despreparado para um ataque do Talibã, segundo reportagem do New York Times.
O jornal americano também publicou que órgãos de inteligência previram que, se o grupo fundamentalista tomasse cidades, um colapso em cascata poderia ocorrer rapidamente e as forças de segurança afegãs corriam alto risco de se desintegrarem. Não está claro se outros relatos durante esse período apresentaram uma imagem mais otimista sobre a capacidade dos militares afegãos e do governo em Cabul de enfrentar o grupo insurgente.
Já em 13 de julho, cerca de 20 funcionários do Departamento de Estado que atuavam na embaixada americana em Cabul enviaram um memorando interno para o secretário Antony Blinken e outra alta autoridade da pasta alertando sobre o potencial colapso da capital afegã logo após 31 de agosto, segundo publicou o Wall Street Journal.
4.
"O Talibã não é o Exército do Vietnã do Norte. Eles não são remotamente comparáveis em termos de capacidade. Não vai haver nenhuma circunstância em que se veja pessoas sendo retiradas do telhado da embaixada dos EUA no Afeganistão. Não é de jeito nenhum comparável"
8 de julho
em entrevista coletiva
Por mais que as realidades do Afeganistão e do Vietnã tenham suas particularidades, e que quase 50 anos também separem as situações, o resultado das operações em Saigon (hoje Ho Chi Minh) e Cabul guardou muitas semelhanças. Em 1975 os comunistas do Vietnã do Norte tomaram a capital do protetorado americano no sul do país; em 2021, o Talibã de fato conseguiu reconquistar o poder no Afeganistão.
E ainda que não tenham sido registradas cenas de americanos sendo retirados do teto da embaixada, o caos visto no aeroporto tampouco representou imagem melhor para o governo americano.
5 e 6.
"Protegemos o aeroporto, permitindo a retomada dos voos"
20 de agosto
em entrevista coletiva
"Estamos mantendo vigilância constante para monitorar e interromper ameaças de qualquer autor, incluindo uma provável do EI-K [Estado Islâmico Kohrasan, filial afegã do grupo terrorista. [...] As tropas e civis inocentes no aeroporto enfrentam o risco de um ataque do EI-K a distância, ainda que tenhamos ampliado o perímetro [de segurança] significativamente"
22 de agosto
em entrevista coletiva
A poucos dias dos ataques, Biden afirmou em duas ocasiões que o aeroporto estava seguro e que havia monitoramento constante, ainda que reconhecesse a ameaça terrorista presente.
No último dia 18, Lloyd Austin e Mark Milley, secretário de Defesa e chefe do Estado-Maior, respectivamente, também disseram que a situação local era segura.