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A batalha do dependente químico é pela vida

Problema não só o usuário, mas toda a família. Principalmente quando o dependente não aceita o tratamento

Serguei, o Último PsicodélicoSerguei, o Último Psicodélico - Foto: Divulgação

“A droga é feito cupim. É um bicho que vai corroendo a gente. E não só o meu filho, mas a todos nós”, desabafou o idoso Pedro José, 65 anos, pai de Marcelo, 33, dependente químico desde os 15. Além de um grave problema de saúde pública, as drogas destroçam famílias.

De um lado, os doentes debilitados, perdidos e que não reconhecem o vício. Do outro, parentes em busca de socorro para os usuários e para si mesmos. Uma batalha vivida diariamente dentro de casas de várias classes sociais.

Segundo o Relatório Mundial e Drogas de 2015, divulgado pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes, mais de 245 milhões de pessoas no mundo já fizeram uso de drogas ilícitas. Dessas, 27 milhões fazem um uso problemático de entorpecentes. Contudo, apenas um em cada seis pessoas com uso abusivo têm acesso ao tratamento. Entre os principais obstáculos está a negativa pelos cuidados.

“Ele já havia ultrapassado todos os limites, mas nunca aceitou ir para a internação. Não queria ficar lá. Nos enganava! Dizia que estava livre das drogas”, contou o pai de Marcelo, que descobriu a dependência do filho ainda na adolescência. A família de classe média percebeu comportamentos violentos e pouca produtividade escolar. Marcelo está no quarto tratamento de desintoxicação em uma clínica. Esse último ocorreu coercitivamente após o jovem agredir a mãe.

Internação
O preconizado pelas redes de assistência é que o usuário aceite e vá por vontade própria se tratar. A secretária executiva de Políticas Sobre Drogas do Estado, Márcia Ribeiro, exemplificou que o programa Atitude só recebe dependentes que comparecem voluntariamente.

Ela acredita que está aí o sucesso do tratamento. “Percebemos que quando o usuário não quer, esse tratamento está praticamente fadado ao insucesso, seja na redução de danos ou na abstinência”, avaliou. Para ela, essa resistência do dependente deve ser trabalhada no convencimento e não na obrigação.

Contudo, há dispositivos legais para conduzir um paciente à desintoxicação. A promotora de Saúde, Ivana Botelho, explica que medidas como essa acontecem quando há justificativa clínica e psiquiátrica. “Às vezes, a pessoa está definhando, não se alimenta, não bebe água. Está em uma confusão mental tão grande que não tem condição de manifestar livre vontade. É preciso intervir”, exemplificou a promotora.

O defensor público Jocelino Nunes acrescentou que a internação compulsória é possível quando há riscos de agressão a si mesmo e a outras pessoas, agressão à ordem pública e exposição social do doente. No entanto, destacou, não é a primeira medida nem deve ser utilizada como regra. “Trata-se de uma medida excepcionalíssima, por envolver a liberdade da pessoa. Existe ali um confronto entre bens jurídicos igualmente importantes: a vida e a integridade física, além da liberdade do dependente”, ponderou.

Para concretizar a internação compulsória, a família deve buscar ou um advogado particular ou um defensor para ajuizar uma ação de pedindo a interdição cumulada com pedido de internação.

Tratamento
A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) prevê a cobertura de diversos procedimentos relacionados à intoxicação ou abstinência provocados pelo uso de substâncias químicas. Entre eles, cobertura das consultas psiquiátricas e internação psiquiátrica hospitalar (ambas sem limitações de número).

Também estão previstos hospital-dia (os pacientes passam o dia no hospital, onde contam com atendimento multidisciplinar e voltam para se reintegrar às suas famílias à noite), 18 sessões de consultas com psicoterapeuta, além das emergências correntes de qualquer transtorno mental. O SUS também oferta tratamento contra a dependência química.

O Estado tem 128 leitos em hospitais gerais em que o usuário de álcool e outras drogas podem receber suporte clínico. A desintoxicação hospitalar no SUS, na maioria dos casos, dura sete dias. A regulação para tratamento, em geral, vem dos Centros de Atenção Psicossocial AD (CAPS AD). Após a alta clínica é o mesmo CAPS que deve prosseguir nos cuidados ao paciente.

Também há clínicas particulares que ofertam tratamento, muitas delas com comando evangélico. Entre as poucas sem batuta religiosa, que funciona na Zona Norte da Capital, mais de 70% do público é atendido por plano de saúde.

Quem opta pelo particular pode desembolsar diárias que vão de R$ 350 a R$ 480. Os pacotes ofertam enfermagem, psicologia, terapias ocupacionais, alimentação e nutrição, além de hotelaria. O psiquiatra e medicamentos são cobrados por fora ou trazidos pelas famílias.

 

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