Covid-19 aumenta a possibilidade de desenvolver trombose
O jornalista Rodrigo Rodriges morreu após sofrer uma trombose venosa cerebral em consequência da Covid-19
Pessoas que são contaminadas pelo novo coronavírus possuem mais chances de desenvolver trombose. A alta coagulabilidade do sangue provocada pela resposta à infecção transcende os danos causados ao pulmão e danifica também o sistema cardiovascular. Nesta terça-feira (28), o jornalista Rodrigo Rodrigues (45), apresentador do canal esportivo SporTV, morreu em decorrência de uma trombose venosa cerebral que aconteceu como consequência da infecção pela Covid-19.
Rodrigues havia sido diagnosticado com a Covid-19 há menos de duas semanas. No sábado (25), ele deu entrada na emergência do hospital Unimed-Rio com dor de cabeça, vômitos e desorientação. Na unidade, foi constatada a trombose cerebral. O jornalista foi mantido em coma induzido e monitorado em unidade de terapia intensiva até esta terça-feira (28), dia de sua morte.
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Diversas complicações podem ser desenvolvidas no corpo humano após o contágio pelo novo coronavírus. A doença é capaz de provocar inflamações no corpo todo, que comprometem o funcionamento dos pulmões, reduzem a oxigenação do sangue e causam microtrombos no sistema cardiovascular. A doença é considerada "multissistêmica" por profissionais da saúde, por causa do ataque a diferentes sistemas do corpo humano.
“Se você tiver uma pneumonia bacteriana ou de outros tipos de vírus, em geral, ela afeta o sistema respiratório, costuma ter um foco específico. No caso da Covid-19, temos visto uma coisa bem comum. Ela pode até ter uma predileção pelo pulmão, mas costuma acometer vários sistemas em conjunto. Os pacientes que estou acompanhando na UTI, muitas vezes, estão com os sistemas respiratório, renal e cardiovascular comprometidos. Essa é uma das características que tem deixado a gente bastante intrigado”, observa o cardiologista e clínico-geral Humberto Caldas, um dos chefes da Emergência do Pronto-Socorro Cardiológico de Pernambuco Professor Luiz Tavares (Procape).
De acordo com o cardiologista, a doença aumenta a coagulabilidade do sangue como resposta inflamatória à infecção. Por isso, pessoas com problemas cardíacos têm mais risco de desenvoler a forma grave da doença. “O trombo é formado por vários componentes sanguíneos. São glóbulos vermelhos, glóbulos brancos, plaquetas e tecido fibrótico também, com proteínas como fibrina e colágeno. Aquilo vai aumentando a viscosidade do sangue. As células estão todas inflamadas, as paredes dos vasos estão inflamados. E isso favorece que as células comecem a se juntar umas às outras, o sangue fica mais viscoso, e os trombos impedem a passagem do sangue. Isso acontece também nos rins e no coração”, alertou Humberto Caldas.
Quando chegam ao músculo cardíaco, as microtromboses prejudicam a circulação sanguínea, podendo evoluir para uma isquemia, quando partes do órgão deixam de ser irrigados e param de bombear. “No caso da Covid, a gente não costuma chamar de infarto, mas de injúria miocárdica. Porque o processo é mais global, afeta o órgão como um todo. No infarto, é algo localizado”, esclarece Caldas. Para evitar que chegue a esse quadro, foi incluído no tratamento desses pacientes o uso de medicamentos anticoagulantes, que buscam diminuir ou retardar as coagulações e os danos causados por elas nos diversos órgãos do corpo.
Mesmo quem não tem doença preexistente pode adquirir tromboses ao longo da evolução clínica. Nesses casos, após a cura, será necessário um acompanhamento por um cardiologista. “É um risco que todo mundo corre até porque essas pré-disposições são silenciosas, nem sempre a pessoa sabe que tem. Aí fica o alerta. Quem sabe que tem esses problemas deve ter cuidado redobrado. O corpo todo ficando inflamado pode deixar determinada área mais sensível. E, depois da recuperação, é bom fazer uma nova avaliação para ver se o coração foi afetado e teve alguma sequela”, recomenda Humberto Caldas.