A difícil tarefa de ser um ativista ambiental na Rússia
Muitos grupos foram banidos na onda de repressão que se seguiu ao início da ofensiva contra a Ucrânia, em fevereiro do ano passado
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O ambientalista Igor Chastuj, de apenas 18 anos, segura um frasco em frente a um ralo que jorra água quente e pútrida perto da cidade de Penza, no oeste da Rússia. A água provém de uma fábrica de papel próxima que já foi multada por poluir e tem como destino um afluente do rio Sura, a cerca de 600 quilômetros de Moscou. O líquido apresenta níveis excessivos de cloro, ferro e matéria orgânica.
— Tem cheiro de chá — brinca após cheirar a amostra, enquanto sua esposa, Sonia, registra o cheiro e a cor amarelada da substância, junto com outros dois ativistas, Alexei Zetkin e Yakov Demidov.
Nenhum deles chega aos 20 anos.
— As pessoas que bebem esta água, pescam e tomam banho nela deviam compreender o perigo — disse Igor à AFP.
As chances de isso acontecer são mínimas. Grupos ambientalistas, como o de Igor e Alexei, já enfrentam pressão das autoridades e muitos foram banidos na onda de repressão que se seguiu ao início da ofensiva contra a Ucrânia, em fevereiro do ano passado.
Foi o caso das divisões russas do Fundo Mundial para a Natureza (WWF) e da Greenpeace, acusadas de serem “asseclas do Ocidente” e de minarem a economia nacional. Atualmente, apenas grupos ambientalistas locais sobrevivem, geralmente de pequeno porte, tentando continuar a luta.
— O que fazemos é legal e inofensivo, mas amanhã poderão associá-lo ao extremismo ou ao terrorismo. A menor transmissão de informação pode se tornar uma suposta ameaça ao Estado.
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Um cinegrafista e um gerente de comunicação da empresa aparecem inesperadamente e começam a filmar o grupo. Imediatamente depois, um agente de segurança aparece. Para evitar o controle policial, os jovens deixam o local.
A poucos metros de distância, debaixo das árvores, vários homens pescam pacificamente nas águas poluídas.
O grupo inspeciona periodicamente rios ou lixões e depois, com o apoio de um ativista com conhecimento jurídico, denuncia violações da lei ao Ministério Público ou órgão de proteção ambiental.
Em novembro de 2021, quando Igor e Alexei ainda eram estudantes do ensino médio, analisaram a água descartada pela mesma empresa e enviaram os resultados às autoridades, que confirmaram a contaminação maciça e multaram o diretor da fábrica, membro do partido do presidente Vladimir Putin.
Depois disso, Alexei foi expulso de um grupo ambientalista pró-governo por conduzir uma investigação sem a aprovação de seus superiores. Em fevereiro de 2022, criou sua própria organização, a Eko-Start, e continuou organizando inspeções com Igor.
Assim que terminam a operação em frente à fábrica de papel, os dois vão até uma lixeira perto de Penza, onde se amontoam vegetais podres, baterias elétricas e lixo médico.
— Os proprietários desse lixão são líderes da região. Eles economizam evitando separar o lixo e armazená-lo conforme a regulamentação — diz Alexei.
Pequenas vitórias
Igor e Alexei conheceram-se no Komsomol, a juventude do Partido Comunista Russo, que responde ao Kremlin em nível nacional, mas por vezes opõe-se a ele em nível local. Desde então, ambos deixaram o Komsomol.
Igor se define como um “trotskista-internacionalista”, oposto aos “stalinistas” e à repressão política. Sua militância é incomum nos tempos de hoje. Uma parte da juventude russa evita qualquer atividade dissidente por medo; outra parte ou é indiferente e apolítica ou apoia o governo russo.
— Se você não fizer política hoje, a política irá alcançá-lo amanhã — diz Alexei, que afirma que a intervenção na Ucrânia politizou muitos jovens.
Os dois amigos argumentam que a guerra corre o risco de provocar novos problemas ecológicos na Rússia, à medida que o governo flexibiliza as regras antipoluição para apoiar a economia e o complexo militar-industrial, cujas fábricas de armas funcionam a todo vapor. Alexei quer acreditar que “duas ou três” associações eficazes em cada região poderiam “mudar” a Rússia com pequenas vitórias.
Mas a coordenadora da ONG Bellona, Ksenia Vajrucheva, agora no exílio, é menos otimista. Para ela, já não existem organizações ambientalistas russas com poder suficiente para provocar “mudanças sistêmicas”.