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LUTO

A família em primeiro lugar era uma das prioridades de Graça Brennand

Agregadora, carismática, presente e afetuosa são apenas alguns dos adjetivos de Graça Brennand marca

Agregadora é apenas uma das palavras que bem define como era sua relação com a famíliaAgregadora é apenas uma das palavras que bem define como era sua relação com a família - Foto: Arquivo pessoal

Graça Brennand, a Gracita, era uma verdadeira matriarca, na mais estrita acepção da palavra. Junto ao marido, Ricardo – com quem foi casada por 71 anos – construiu uma numerosa família: oito filhos, 19 netos e 47 bisnetos. Apesar de serem tantos, Gracita era presente na vida de cada um, contam seus familiares.

“Ela era o elo, a união. Tudo da família era através dela”, diz a neta Eduarda Brennand Petribu.

“Era uma pessoa ímpar da família. Aquela pessoa que chegava junto em muitos momentos, em momentos importantes da vida, do mais triste ao mais feliz, ela estava sempre junto”, declara a sobrinha Ana Christina Guimarães.

E como toda matriarca que se preze, Gracita gostava de estar rodeada dos seus. Agregadora é apenas uma das palavras que bem define como era sua relação com a família. “Ela sempre tinha o prato favorito ou a sobremesa favorita de cada um esperando por nós quando chegávamos lá. Ela era quem ligava às 7h20 para saber se a gente ia almoçar na casa dela. E ela ligava para todos”, lembra Eduarda.

Os almoços às segundas-feiras eram o mais nobre motivo para Gracita reunir os filhos, netos e bisnetos em volta da sua mesa. “Ela gostava de agregar todo mundo. Os que moravam fora vinham sempre à casa dela em datas comemorativas”, diz Ana.

“Juntava todos em volta de sua mesa. Por compreender, muito cedo, que uma mesa compartilhada é um dos fundamentos da vida em família. Tudo com muito carinho, afeto e bem querer”, conta outra sobrinha, Lecticia Cavalcanti.

Cozinha e afeto familiar

Uma das coisas que Gracita mais apreciava era culinária. Gostava muito de criar receitas e de cozinhar. Essa foi, também, uma forma de reforçar ainda mais os vínculos afetivos com seus familiares. “Aprendemos muito na casa dela”, diz Eduarda, contando que, entre filhas, sobrinhas e netas, muitas herdaram dela – que já havia herdado da mãe, Maria José – o gosto pela cozinha. “Nos últimos natais, ela pedia para as netas levarem as sobremesas feitas por nós, que nós aprendemos na casa dela.”

Eduarda elenca seus pratos favoritos feitos pela avó: “O bobó de camarão que ela fazia; o pão sovado. Tinha também o mulambo”, este último um doce feito com cascas de caju, criado por Gracita. No entanto, ela não revelava suas receitas a ninguém. Os preciosos segredos de alguns de seus pratos eram guardados a sete chaves. 

“Quando pedíamos a ela a receita, ela dizia: Minha filha, eu vou fazer para você e mando", diz Ana. “Ela tinha duas funcionárias muito queridas, Irene e Valéria, que sabiam alguns desses segredos. Quando ela não podia ir para a cozinha, as meninas tocavam também. Algumas filhas são tão boas na culinária quanto ela, mas, ainda assim, não conseguem fazer algumas coisas, como o biscoitinho de aveia, que ninguém descobriu a receita”, conta Eduarda.

A neta revela que esteve com a avó na última sexta (10) e, como não poderia ser diferente, teve seu último encontro com ela regado a comida e afeto. “Almocei lá, na casa dela, e a última vez que estive com ela foi comendo o doce favorito junto dela.”

Humildade, presença e solidariedade

“Ela era super carinhosa, carismática, humana. O que mais aprendemos com vovó foi o amor ao próximo. Sempre nos acolhia, tinha um colo, uma palavra”, relembra Eduarda, ao citar que morou um breve período com a avó quando seus pais viajaram para um intercâmbio.

“Passamos uns três meses na casa de vovó. Ela não abria mão de nos deixar na escola e pegar de volta. Mesmo tendo babá e motorista, ela fazia questão, era muito presente.”

“Ao longo da vida, ela perdeu os irmãos, e ia assumindo essas famílias que estavam sem os pais. Então, ela foi mãe de muitos. Muitas sobrinhas se sentem filhas dela”, continua a neta. Eduarda lembra outro fato marcante que mostra o quanto a sua avó foi “mãe de muitos”.

“Teve uma vez que uma tia estava viajando e a minha prima entrou em trabalho de parto. Vovó não pensou duas vezes: foi até a maternidade, entrou na sala e acompanhou o parto do início ao fim.”

Ana compartilha do mesmo sentimento com relação a Gracita. “Sempre presente, nunca se ausentou de nada”, diz. “O maior exemplo dela para todos nós foi a humildade e o amor ao próximo. O lado familiar e social dela foi muito lindo. É o patrimônio que ela deixa para nós.”

Para uma pessoa que sempre fez questão, ao longo de toda a vida, de reunir, juntar e agregar seus familiares, não poderia ser de outra maneira a sua despedida, seus momentos finais. “Ela cumpriu o papel dela. Estamos muito tranquilos, pudemos nos despedir dela, estar junto dela no momento da partida. Todos os filhos ao lado dela.”

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